Gasolina pode encostar em R$ 20 o litro com agravamento das tensões na Ucrânia

Escalada dos conflitos tende a elevar cotação do barril no mercado internacional; especialistas, no entanto, afirmam que governo brasileiro deve agir para evitar reajustes em sequência

  • Por Gabriel Bosa
  • 12/03/2022 19h00
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Marcello Casal jr/Agência Brasil Caminhão da Petrobras em um posto de combustíveis Mesmo com reajuste, Petrobras mantém margem de defasagem com o mercado internacional

O salto do litro da gasolina para além de R$ 7 após o mega-aumento anunciado pela Petrobras na quinta-feira, 10, gerou indignação entre brasileiros e levou ao alerta de aumento de custos para empresas, mas o patamar pode ser apenas uma fração do valor previsto caso o combate no Leste Europeu se intensifique. Estudos apontam que o preço nas bombas pode chegar próximo de R$ 20 o litro caso o barril do petróleo tipo Brent — usado como referência para Petrobras —, chegue aos inéditos US$ 300, como ameaçou o governo russo na semana passada. O valor, no entanto, é visto com ceticismo por especialistas, que apontam a intervenção do governo brasileiro antes de o preço subir às duas dezenas. Mas o alento é temporário, já que os reajustes promovidos pela Petrobras não suprem toda a defasagem entre o preço doméstico e o cobrado no mercado internacional, deixando margem para novos aumentos nas próximas semanas.

O temor de escassez de petróleo com o embargo de Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia à Rússia fez o preço da commodity disparar no mercado internacional e tocar os US$ 140 no início da semana passada. O valor arrefeceu nos dias seguintes com a informação de que outros países conseguem suprir a demanda bloqueada dos russos, e a cotação recuou para a casa de US$ 110. A variação dos efeitos internacionais levam aos reajustes no Brasil por causa da política de preço de paridade de importação (PPI) adotada pela Petrobras desde 2016. Como regra, a estatal usa a cotação do barril tipo Brent e o patamar do dólar para formular o preço interno. Desde o início do conflito, em 23 de fevereiro, o preço subiu em torno de 14%, exigindo da empresa uma mudança nos preços para evitar o desabastecimento interno. Após dias de pressão, a resposta foi divulgada na quinta-feira, 10, com aumento nas refinarias da gasolina (18,8%), diesel (24,9%) e gás de cozinha (16,1%).

Levantamento do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) projetou o preço do litro da gasolina em R$ 18,70 caso o preço tipo Brent continue escalando até um cenário extremo de US$ 300. O estudo considerou as condições antes do reajuste, com o litro médio custando R$ 6,57. O quadro mais plausível com o barril na casa de US$ 150 levaria o combustível a R$ 9,34 na bomba. “A indústria do petróleo funciona com fatores endógenos e exógenos. Com a guerra, é muito difícil fazer uma projeção. Não dá para saber quando o conflito vai acabar, se o Putin vai fechar a torneira do gás para a Europa, são milhares de fatores”, explica o diretor do CBIE, Pedro Rodrigues. O resultado é semelhante à pesquisa do Observatório Social da Petrobras. Usando como base os preços antes do reajuste, o ICMS flutuante, e a variação de preços no etanol anidro — usado na mistura para a gasolina —, o preço do litro iria para R$ 18,22 com o barril na cotação de três dezenas.

A guerra no Leste Europeu deu mais força ao movimento de escalada que já era observado na cotação do barril desde o ano passado. Após bater as mínimas entre 2020 e 2021 por causa da estagnação econômica em virtude da pandemia do novo coronavírus, o setor passou para alta com o reaquecimento das atividades ao redor do globo. A falta de clareza gerada pela guerra não permite enxergar o caminho que o mercado vai trilhar, mas nenhuma das pistas indica que a cotação deva ficar abaixo dos três dígitos tão cedo. O quadro dá continuidade a defasagem que a Petrobras tradicionalmente mantém do mercado externo, na casa de 20% para a gasolina e o diesel. O economista do Observatório Social da Petrobras, Eric Gil Dantas, aponta a recente desvalorização do câmbio como alento para a pressão do barril. “O dólar caiu na semana, o que compensa esse aumento. O cenário atual deixa margem para alta, mas é a mesma que já vinha sendo mantida pela Petrobras no ano passado”, diz.

O mercado espera que o governo atue caso o preço continue subindo nas bombas. Mais do que o efeito direto no posto, o encarecimento do diesel e da gasolina se espalha por toda a cadeia econômica pela alta dependência do Brasil do transporte sobre rodas. “Deve ter algum tipo de política pública para impedir que as coisas cheguem nesse cenário”, diz Dantas. O Congresso aprovou na semana passada dois projetos que visam mitigar o preço dos combustíveis. O texto que define um valor fixo e a cobrança do ICMS em apenas uma fase, mais a isenção de tributos federais, foi chancelado no Senado e na Câmara dos Deputados. Já o projeto que cria um fundo de compensação gerido pelo governo federal foi aprovado apenas pelos senadores. Em paralelo, o Executivo desenha medidas mais imediatas, que podem passar por um congelamento temporário dos preços até o subsídio com recursos dos cofres públicos para evitar o repasse integral aos consumidores.

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