Governo revisa PIB para cima e prevê queda de 4,5% em 2020; inflação pula para 3,1%

Melhora é reflexo da retomada da setores da economia no terceiro trimestre; encarecimento dos alimentos impulsiona IPCA

  • Por Jovem Pan
  • 17/11/2020 10h55 - Atualizado em 17/11/2020 13h29
Amanda Perobelli/Reuters Apesar da disparada do PIB no terceiro trimestre, analistas prevem queda histórica da economia brasileira em 2020

O governo federal revisou a perspectiva de queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 para queda de 4,5%, segundo o Boletim Macrofiscal divulgado pelo Ministério da Economia nesta terça-feira, 17. Em setembro, a Secretaria de Políticas Econômicas (SPE) estimava retração de 4,7%, mesma previsão de julho. Para 2021, os técnicos da equipe econômica mantiveram projeção para avanço de 3,2%. A melhora é justificada pelo crescimento de segmentos fundamentais para a economia no terceiro trimestre, como os setores de indústria e varejo. O documento também revela que o governo federal estima que a inflação alcance 3,1% neste ano, impulsionada principalmente pelo encarecimento dos alimentos. Na última revisão, os técnicos da pasta estimavam que o IPCA encerraria o ano com avanço de 1,8%, ante perspectiva de 1,6% na versão do Boletim divulgada em julho. Para 2021, a estimativa da inflação é de 3,2%.

Segundo secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues Junior, a nova revisão é baseada na cautela diante de outros indicadores da economia. “O nível de incerteza que temos nessa previsão ainda é bastante elevado, mas bem menor do que tínhamos em março e abril deste ano, no início da pandemia”, afirmou. Os avanços seguidos de resultados positivos no varejo e serviços fizeram o Ministério da Economia prever alta de 8,3% do PIB no terceiro trimestre, retirando o Brasil da recessão após duas quedas consecutivas no primeiro semestre de 2020. “Conforme destacado no último Boletim, a forte recuperação da indústria e varejo foram confirmadas. As pesquisas mensais do IBGE para estes setores mostraram que o crescimento no 3T20 superou a taxa de 20%, apontando que a indústria e o varejo ampliado recuperaram os níveis do começo do ano. O setor de serviços também apresentou bom desempenho após a forte retração no 2T20, no entanto, vale destacar que a produção dos serviços está bem aquém ao nível de fevereiro deste ano”, informaram os técnicos do ministério. Apesar de prever tombo menor, este deve ser o pior desempenho da economia brasileira na história, impactada principalmente pela pandemia do novo coronavírus. A previsão divulgada hoje também é menos otimista da revelada pelo ministro Paulo Guedes, que afirmou estimar recuo de 4% neste ano.

O salto na inflação é justificado pelo constante avanço do IPCA nos últimos meses, impacto principalmente pela alta dos preços nos alimentos. O IPCA fechou outubro com alta de 0,86%, o maior índice desde 2002. Em setembro o índice havia avançado 0,64%, o maior registro desde 2003. “os últimos 12 meses, a variação de preços acumula alta de 3,92%, ainda abaixo do centro da meta de 4% perseguida pelo Banco Central. “O principal responsável pela elevação da projeção permanece o preço de alimentos. Contudo, o comportamento das demais categorias de produtos continua contribuindo de forma a manter a variação do índice geral dentro do intervalo de tolerância da meta”, informa o Boletim.

O documento divulgado pelo Ministério da Economia ressalta a importância da aprovação de uma série de medidas encaminhadas pela pasta para debate e aprovação no Congresso. Entre os principais desafios, os técnicos apontam o controle do gasto público para dar base a retomada sustentável dos índices econômicos no próximo ano e evitar a disparada da inflação e desemprego. “Se o governo começar a gastar mais, invés de a economia crescer, vai cair. A consolidação fiscal está alinhada aos interesses da população brasileira, especialmente a mais pobre. Se gastar mais, aumenta a inflação, e o pobre é o mais prejudicado. Aumenta o desemprego, e o pobre também é o primeiro a ser prejudicado”, afirmou o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida.

O secretário também afirmou que o desemprego irá cair em 2021, contrariando as projeções do aumento do número de pessoas sem trabalho após o fim dos benefícios de manutenção do emprego pagos pelo governo federal. A falta de emprego bateu recorde no trimestre encerrado em setembro ao alcançar 14,4% da população, segundo dados dos IBGE. Para analistas, o número deve ser ainda maior por não contar com as pessoas que não buscaram ocupação em meio à pandeia da Covid-19. “Os dados são muito claros. O grosso do desemprego está no setor informal, a medida que o serviço cresce, esse setor vai contratar”, afirmou.

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