Guerra na Ucrânia aumenta pressão sobre embalagens, e setor já fala em queda de 2% em 2022

Indústria registrou retração de 3% em 2021 por aumento da inflação e dólar alto; sem benefícios do governo, disparada do preço do petróleo deve se repassada de forma integral aos embaladores

  • Por Gabriel Bosa
  • 16/03/2022 10h01 - Atualizado em 16/03/2022 14h23
Divulgação/Owens Illinois Linha de produção de garrafas de vidro Produção de embalagens retraiu 3% em 2021 com queda da demanda da população

A volatilidade do preço do petróleo em meio às indefinições do conflito no Leste Europeu reforça a pressão sobre o mercado de embalagens, em especial as plásticas, que já sofre com a retração da demanda pelo aumento da inflação e o câmbio elevado. A soma de fatores negativos geram frustração e o setor já passa a considerar queda de 2% ao fim de 2022. “A nossa expectativa é uma retração de 0,5%, mas com uma margem de -2% até alta de 1%”, explica o presidente da Associação Brasileira de Embalagens (Abre), Marcos Barros. O desempenho, no entanto, ainda não conta com todos os impactos da guerra na Ucrânia. Em uma eventual extensão do conflito ou o surgimento de novos fatores que levem à disparada na cotação do barril, o tombo deve ser ainda mais forte. “A cadeia do petróleo já está sendo afetada pelo confronto. Se a guerra se prolongar por muito tempo, vai haver aumento no preço e no custo, gerando retração maior.” Caso se concretize, será o segundo ano seguido de desempenho no vermelho. Dados da Abre divulgados nesta quarta-feira, 16, mostram que a produção de embalagens caiu 3% em 2021.

Os recipientes plásticos lideram a produção de embalagens no Brasil com 37% do total. O segmento não teve benefícios para mitigar o aumento do petróleo, como os projetos aprovados no Congresso na semana passada para frear a alta dos combustíveis. Sem essa proteção, Barros afirma que a indústria não terá outra opção a não ser repassar de forma integral aos embaladores os reajustes. A cotação do barril do tipo Brent, usado como referência na maior parte do mundo, passou da casa de US$ 69 para a de US$ 100 em um ano, aumento de 45%. “O governo busca formas de conter os preços, mas foca em determinados segmentos. A resina também sai do processo de refino, mas que não tem nenhum tipo de amortecimento ou subsídio”, diz.

O setor de embalagens é um importante termômetro da economia pela conexão com os bens de consumo dos brasileiros, principalmente alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza. O desempenho negativo no ano passado acompanhou a retração do poder de compra da população em reflexo ao aumento da inflação, que encerrou 2021 com alta de 10,06%, o maior patamar em seis anos. A variação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ganhou tração em 2022 e foi a 10,54% no acumulado de 12 meses em fevereiro. “O mercado está demonstrando queda nas vendas, e isso traz redução em toda a cadeia. Estamos trabalhando em um ambiente mais retraído”, pontua Barros. Além da corrosão dos salários, o dólar elevado ao longo de 2021 —período que somou alta de 7,5% —, foi fundamental para o desempenho negativo do setor pela grande dependência de insumos importados. A disparidade cambial também explica o saldo de R$ 110,9 bilhões do valor bruto de produção, salto de 31,1% acima do registrado no ano anterior. “Desde 2020 houve um repasse muito forte dos setores petroquímicos e de celulose, e muito disso se deu por causa do dólar alto”, diz o presidente da Abre.

A retomada das atividades econômicas com o fim das medidas de restrições também contribuíram para a queda da indústria de embalagens em 2021. O início da pandemia da Covid-19, em fevereiro de 2020, mudou a ordem de consumo da população, que não podia mais gastar fora de casa e passou a concentrar as compras em supermercados. A alta demanda repentina levou à escassez de materiais, e para garantir o abastecimento, os embaladores começaram a demandar cada vez mais das indústrias. A reversão desse quadro a partir da vacinação, no entanto, aumentou o consumo externo, impactando na retração do consumo no lar. A baixa levou ao acúmulo de estoque pelos principais clientes do setor de recipientes. “Em 2021, os pedidos acabaram reduzindo substancialmente, e este reflexo se sente até o início de 2022”, afirma Barros.

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