IBGE avalia impacto da greve no PIB e projeta gasto de R$ 3,4 bi para Censo 2020

  • Por Estadão Conteúdo
  • 11/06/2018 17h06
Reprodução/Facebook Presidente do instituto, Roberto Olinto afirmou que não é possível precisar o tamanho da repercussão da paralisação sobre a atividade econômica

A greve de caminhoneiros deve impactar o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre do ano, mas ainda não é possível precisar o tamanho da repercussão da paralisação sobre a atividade econômica, afirmou Roberto Olinto, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A preocupação atual do instituto é com possíveis reflexos sobre a coleta de dados para as pesquisas conjunturais. Segundo ele, é preciso observar se o impacto aparecerá nos preços, no comércio, na produção, se houve perda de mercadoria no momento da parada, se houve recuperação ou estabilização quando terminada a greve.

“Se o impacto é de mais longo prazo ou mais curto prazo, é isso que a gente está observando. Nossa preocupação é não perder coleta de informação”, afirmou Olinto.

Ele criticou algumas tentativas de analistas de mensurar as consequências da greve sobre o resultado do PIB do País.

O presidente do instituto, ex-coordenador de Contas Nacionais, disse ser impossível fazer projeções. Para ele, será preciso acompanhar o dia a dia da economia para saber a profundidade do impacto da paralisação.

“O que é inegável é que a gente teve crise de oferta, a gente está vivendo um semestre eleitoral que traz uma série de instabilidades, mas também uma série de previsões. Então o nosso cuidado com a informação tem que ser redobrado. Nossa preocupação com a narrativa da informação tem que ser redobrada. Com a greve de caminhoneiros e as pesquisas eleitorais, a construção de análise da informação aumenta”, afirmou Olinto.

IPCA

Já sobre o cálculo da inflação oficial no País, Olinto afirmou que a avaliação sofrerá alterações em meados de 2019, quando a estrutura de ponderações dos 383 itens investigados no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) for atualizada.

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), que atualiza a estrutura de pesos do IPCA, já teve a coleta terminada. Os dados estão em análise pelos pesquisadores do instituto. Os primeiros resultados serão divulgados no ano que vem.

“A POF deveria ter sido feita de forma mais sistemática. A POF está terminando. No caso da POF, a análise dos dados é mais complicada, tem muita informação que não é digitalizada”, disse Olinto. “A prioridade é que a POF gere rapidamente a nova estrutura de ponderações do IPCA”, completou.

A última POF foi conduzida em 2008/2009, mas os resultados só alteraram a estrutura de peso dos itens do IPCA em 2012. A pesquisa deveria ser realizada a cada cinco anos, mas a última edição foi cancelada pela falta de orçamento.

“Primeiro só muda a ponderação dos itens (do IPCA). Num segundo momento pode mudar alguns itens, mas é muito difícil, a cesta básica é a mesma. Primeiro muda o peso. Se a gente tiver alguma indicação de um item que tenha aparecido na POF que não esteja contemplado, a gente passa por um processo de incluir esse item nos índices de preços”, explicou Olinto.

As equipes identificam antes os pontos de vendas dos eventuais itens novos na cesta de consumo das famílias, para depois planejar a coleta de preços. Segundo Olinto, o ideal era que a estrutura de ponderações do IPCA fosse atualizada anualmente.

“Hoje o IPCA que publicamos é o IPCA possível para o Brasil. Mas podemos melhorar. Com a POF isso vai acontecer”, ressaltou o presidente do IBGE, que recebeu nesta segunda-feira a imprensa para conversar sobre seu primeiro ano na gestão do IBGE e os preparativos para o Censo Demográfico 2020.

Censo Demográfico 2020

Sobre o Censo, Olinto afirmou que o instituto já iniciou os trabalhos para a avaliação. Segundo ele, o orçamento estipulado para a realização do levantamento é de R$ 3,4 bilhões, com a contratação de 300 mil recenseadores temporários.
“São R$ 3,4 bilhões, concentrando esse gasto em 2020, da ordem de 70% para pagamento de recenseadores, cerca de 300 mil pessoas. São três meses de coleta. A ideia é divulgar os resultados preliminares no mesmo ano. O que você pode tabular, os desagregados, saem no mesmo ano. Normalmente durante dois anos você vai divulgando informações”, completou.

Olinto comentou sobre as dificuldades de obtenção de recursos, que postergaram outros levantamentos do instituto, como a Pesquisa de Orçamentos Familiares e o censo Agropecuário, que teve que ser remodelado para caber num orçamento mais enxuto, apenas um terço do previsto inicialmente.

“No Censo Agropecuário eram 26 mil pessoas. O demográfico tem 300 mil (temporários). Então não tem muito como enxugar. O demográfico tem um período de coleta menor, porque tem uma data de referência muito forte. É preciso coletar muita informação num período muito curto. A flexibilidade orçamentária é muito menor, (o orçamento) é concentrado em pessoal. Eu gostaria de propor R$ 7 bilhões para sair por R$ 3,5 bilhões”, brincou o presidente do IBGE.

O instituto abriu uma consulta pública na internet para receber sugestões sobre o Censo Demográfico e promoverá esta semana uma reunião com profissionais que integram o conselho do levantamento. Olinto contou que também há uma mobilização política em torno da importância da operação e que já esteve reunido com o ministro do Planejamento, Esteves Colnago, para debater o assunto. “A gente tem que mostrar que o orçamento está associado não ao tamanho da operação, mas à importância dele”, disse Olinto.

Olinto enumerou alguns projetos futuros em andamento no instituto, como a construção das Contas Ambientais. O IBGE já divulgou as Contas da Água, e prepara agora as Contas da Energia e da Floresta. “Nosso problema é ter capacidade operacional para ter essas coisas”, observou Olinto.

O instituto pediu ao Ministério do Planejamento a liberação de um concurso para preenchimento de 1.800 vagas. De acordo com Olinto, 1.800 servidores se aposentaram nos últimos oito anos.

“Temos 13 agências sem ninguém (sem servidor público, só temporário), temos 46 com uma única pessoa, e 60% das 536 agências com pessoas aposentadas com abono de permanência”, disse ele. “Não é pedido que sai da cabeça, apesar de ser um pedido grande, tem lógica bastante clara e pontual”, acrescentou

O IBGE tem cerca de 5,3 mil servidores atualmente, sendo que entre 500 a 600 deles trabalhando graças ao pagamento do abono permanente. “Esse ano foram 220 pessoas aposentadas em quatro meses”, relatou.

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