Inflação em março é a maior em 28 anos e vai a 11,3% em 12 meses

Puxado por combustíveis e alimentos, IPCA atinge 1,6% e sobe ao patamar mais elevado para o mês desde a criação do plano Real

  • Por Jovem Pan
  • 08/04/2022 09h05 - Atualizado em 08/04/2022 09h11
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EDUARDO MATYSIAK/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Movimentação em supermercado Avanço da inflação pressiona o poder de compra dos brasileiros

inflação voltou a ganhar força em março ao registrar alta de 1,62%, contra avanço de 1,01% em fevereiro, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 8, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o maior registro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o mês desde 1994, quando foi a 42,75%, no período que antecedeu o plano Real. O resultado fez o acumulado em 12 meses subir para 11,3%, acima do patamar de 10,54% observado no período encerrado em fevereiro. É a maior taxa de 12 meses acumulados em fevereiro em 19 anos, quando registrou 16,57%. Os dados já trazem os impactos da guerra no Leste Europeu na variação de preços, principalmente de commodities energéticas e agrícolas.

O resultado afasta a inflação da meta de 3,5% perseguida pelo Banco Central (BC), com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 2% e 5%. Analistas do mercado não enxergam a possibilidade de a autoridade monetária deixar o IPCA abaixo do limite máximo. Previsão do Boletim Focus, que reúne a estimativa de mais de uma centena de instituições, aponta para a taxa a 6,86% ao fim de 2021. Caso isso ocorra, será o segundo ano consecutivo que a inflação estoura o teto da meta imposta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em 2021, a variação de preços foi a 10,06%, ante limite máximo de 5,25%.

Os principais impactos vieram dos transportes (3,02%) e de alimentação e bebidas (2,42%). Os dois grupos, juntos, contribuíram com cerca de 72% do índice do mês. No caso dos transportes, a alta foi puxada, principalmente, pelo aumento nos preços dos combustíveis (6,70%), com destaque para gasolina (6,95%), que teve o maior impacto individual (0,44 p.p.) no indicador geral. “Tivemos um reajuste de 18,77% no preço médio da gasolina vendida pela Petrobras para as distribuidoras, no dia 11 de março. Houve também altas nos preços do gás veicular (5,29%), do etanol (3,02%) e do óleo diesel (13,65%). Além dos combustíveis, outros componentes ajudam a explicar a alta nesse grupo, como o transporte por aplicativo (7,98%) e o conserto de automóvel (1,47%). Nos transportes públicos, tivemos também reajustes nas passagens dos ônibus urbanos em Curitiba, São Luís, Recife e Belém”, explica o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.

No grupo dos alimentos e bebidas, a alta de 2,42% decorre, principalmente, dos preços dos alimentos para consumo no domicílio (3,09%). A maior contribuição foi do tomate, cujos preços subiram 27,22% em março. A cenoura avançou 31,47% e já acumula alta de 166,17% em 12 meses. Também subiram os preços do leite longa vida (9,34%), do óleo de soja (8,99%), das frutas (6,39%) e do pão francês (2,97%). “Foi uma alta disseminada nos preços. Vários alimentos sofreram uma pressão inflacionária. Isso aconteceu por questões específicas de cada alimento, principalmente fatores climáticos, mas também está relacionado ao custo do frete. O aumento nos preços dos combustíveis acaba refletindo em outros produtos da economia, entre eles, os alimentos”, afirma o pesquisador.

O grupo habitação (1,15%) teve aumento por conta do gás de botijão (6,57%), cujos preços subiram devido ao reajuste de 16,06% no preço médio de venda para as distribuidoras, em março. também houve aceleração nos preços dos grupos vestuário (1,82%) e saúde e cuidados pessoais (0,88%). O único com queda foi comunicação, com -0,05%. Os demais ficaram entre o 0,15% de educação e o 0,59% de despesas pessoais.

No esforço de trazer a inflação para a meta, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros de 9,25% para 10,75% ao ano em fevereiro. Foi o terceiro acréscimo seguido de 1,5 ponto percentual na Selic. O Banco Central deixou contratada nova alta no encontro da próxima semana, apesar de admitir desaceleração no aperto. O mercado financeiro estima que a Selic fique a 12,25% ao ano, mas a recente pressão com o conflito no Leste Europeu faz com que parte dos analistas enxerguem os juros encostando em 14% ao ano. A escalada dos juros prejudica as atividades econômicas pela taxa ser usada como base em financiamentos e empréstimos.

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