Nos EUA, Meirelles pede cuidado aos BCs do mundo rico

  • Por Estadão Conteúdo
  • 15/10/2017 10h42
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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Convém levar em conta o risco de um caminho acidentado, enquanto o mundo sai de uma fase sem precedente, por sua duração, de políticas monetárias fora dos padrões convencionais, disse o ministro brasileiro

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, advertiu para o risco de se abortar a recuperação da economia mundial, se as condições das finanças internacionais mudarem abruptamente. É preciso, afirmou, conduzir com muito cuidado a normalização da política monetária nos EUA e na Europa, depois de anos de juros muito baixos e de muita emissão de moeda. As políticas frouxas foram usadas para facilitar crédito, estimular consumo, animar negócios e facilitar a superação da crise.

Os bancos centrais, comentou o ministro, melhoraram notavelmente sua comunicação e vêm orientando os mercados cuidadosamente no caminho da normalização gradual. Apesar disso, acrescentou, convém levar em conta o risco de um caminho acidentado, enquanto o mundo sai de uma fase sem precedente, por sua duração, de políticas monetárias fora dos padrões convencionais. Ele tratou do assunto em declaração preparada para a reunião, ontem, do Comitê Monetário e Financeiro, o principal órgão político do Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Sinais de alerta”

Advertências semelhantes foram feitas durante a semana por economistas e dirigentes do Fundo. Políticas de juros baixos e crédito fácil, num ambiente de inflação muito fraca, contribuíram para a reativação das economias, mas ao mesmo tempo criaram ambiente favorável a riscos financeiros e à supervalorização de ativos. Na quarta-feira, o diretor do Departamento Financeiro do FMI, Tobias Adrian, mencionou o risco de uma atitude complacente e citou cinco sinais de alerta:

a) Muito dinheiro está sendo usado na caça a poucas aplicações altamente rentáveis. Antes da crise havia US$ 16 trilhões de ativos com rendimento acima de 4%. Hoje há menos de US$ 2 trilhões de títulos com essa qualidade, mas a corrida às compras continua, estimulada por juros excepcionalmente baixos.

b) O endividamento do setor privado cresce nos países do Grupo dos 20 (G-20), aumentando o perigo de um desastre se os juros subirem abruptamente.

c) Empréstimos externos a países emergentes e em desenvolvimento têm aumentado. Os ingressos aproximam-se de US$ 300 bilhões em 2017, mais que o dobro do total de dois anos atrás.

d) A expansão do crédito na China indica riscos financeiros crescentes.

e) Com diferenciação pequena entre diferentes classes de ativos, os mercados menosprezam possíveis choques de vários tipos, como problemas geopolíticos, surtos inflacionários, mudanças nos juros de longo prazo e tropeços econômicos.

“Essas crescentes vulnerabilidades podem fazer descarrilar a recuperação”, disse Adrian. No pior cenário, prêmios de risco sobem, preços de ações e de imóveis caem e US$ 100 bilhões aplicados em títulos saem dos países emergentes. O desafio para os bancos centrais do mundo rico é normalizar suavemente suas políticas, apertando-as gradualmente e sempre com cuidado para evitar choques. A experiência, até aqui, comprova os cuidados sugeridos pelo diretor de assuntos financeiros do FMI e defendidos também por Meirelles. O banco central americano, o Federal Reserve (Fed), tem elevado os juros de forma bem gradual e sinalizada. O Banco Central Europeu (BCE) já anunciou planos para mudar sua política e também deverá fazê-lo de forma cautelosa.

Avançar na regulação do sistema financeiro intensificada a partir da crise, foi uma recomendação reiterada por dirigentes do FMI durante a semana. O assunto é hoje politicamente mais complicado, porque o afrouxamento das normas bancárias é uma das bandeiras do presidente americano, Donald Trump. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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