Presidente da Petrobras deve deixar o cargo ainda nesta segunda-feira

Joaquim Silva e Luna já teria sido avisado por Jair Bolsonaro da exoneração; saída ocorre após semanas de entraves pelo reajuste dos combustíveis pela estatal

  • Por Jovem Pan
  • 28/03/2022 17h06 - Atualizado em 28/03/2022 18h22
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Marcelo Camargo/Agência Brasil Joaquim Silva e Luna falando ao microfone General da reserva Joaquim Silva e Luna vai deixar o cargo nesta segunda-feira

O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, deve deixar o cargo ainda nesta segunda-feira, 28. O general já teria sido avisado da exoneração pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). A informação foi confirmada pela reportagem da Jovem Pan por servidores próximos da cúpula da estatal e de membros do Planalto. Silva e Luna estava no cargo desde o dia 19 de abril do ano passado. A saída ocorre na esteira de semanas de fortes críticas públicas de Bolsonaro à política de reajuste de preços dos combustíveis. No dia 10 de março, a Petrobras anunciou a elevação dos preços nas refinarias da gasolina (18,8%), diesel (24,9%) e gás de cozinha (16,1%). O aumento ocorreu em meio à disparada do barril de petróleo do tipo Brent, usado como referência para a formulação dos preços, em reflexo das incertezas no mercado geradas pela guerra no Leste Europeu.

Segundo informações, a saída deve ser feita por uma manobra na escolha do conselho de administração da empresa. O nome de Silva e Luna não deve constar na lista de indicação para o próximo colegiado, com votação marcada para o dia 13 de abril. Sem participação no grupo, o general não pode permanecer no posto de comando. O governo federal detém a maior parte das ações com direito a voto nas decisões da empresa. Rumores do mercado financeiro sinalizam que a presidência da Petrobras deve ser ocupada por Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria voltada ao setor de energia. Silva e Luna assumiu o cargo no lugar de Roberto Castello Branco, demitido em fevereiro do ano passado também em meio uma crise aberta com o governo federal por reajustes nos combustíveis. Ele estava no comando da estatal desde 2019 por indicação do ministro da Economia, Paulo Guedes.

O mega-aumento da Petrobras foi duramente criticada por Bolsonaro, que afirmou em diversas oportunidades que a política de preços da estatal deveria ser revista, apesar de afirmar que não iria intervir no comando da empresa. Desde 2016, a Petrobras mantém o preço de paridade de importação (PPI), que usa a cotação do barril tipo Brent e o patamar do dólar para formular o preço interno. O chefe do Executivo chegou a falar que a diretoria da Petrobras “só pensa neles” e que a empresa deveria ser privatizada. “Muita gente me critica, como se eu tivesse poderes sobre a Petrobras, não tenho poderes sobre a Petrobras. Para mim, é uma empresa que poderia ser privatizada hoje, ficaria livre deste problema. E a Petrobras se transformou na Petrobras Futebol Clube, onde o clubinho lá de dentro só pensa neles, jamais pensam no Brasil”, disse no dia 16 deste mês.

A mudança nos preços foi anunciada um dia antes de o Congresso aprovar uma série de medidas com alvo na queda do preço dos combustíveis. “Foi feito um contato com a Petrobras, porque chegou para a gente que eles iam reajustar na quinta-feira da semana passada, e foi feito um pedido para que deixassem para o dia seguinte. Eles não nos atenderam. Nós não podemos interferir nos preços da Petrobras. Se pudesse, as decisões seriam outras”, enfatizou Bolsonaro, que descreveu o aumento praticado pela empresa como um “crime contra a população”.

As críticas também foram endossadas por outras figuras políticas. O presidente Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), subiu o tom contra o que chamou “insensibilidade” da Petrobras. Pelas redes sociais, o parlamentar afirmou que o aumento é um “tapa na cara do país”. “Me causou espanto a insensibilidade da Petrobras com os brasileiros – os verdadeiros donos da companhia. O aumento de hoje foi um tapa na cara de um país que luta para voltar a crescer”, disse. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), cobrou “sensibilidade social” em relação ao preço dos combustíveis. “A Petrobras tem hoje uma lucratividade na ordem de três vezes mais que suas concorrentes, dividendos bilionários. Óbvio que é muito bom que isso aconteça, mas não pode acontecer em prejuízo da população brasileira que abastece seus veículos ou que precisa de transporte coletivo”, afirmou.

A Petrobras respondeu aos ataques em uma nota divulgada no dia 18. A estatal afirmou que “tem sensibilidade quanto aos impactos na sociedade”, e que acompanha constantemente as variações do mercado internacional “nesse momento desafiador e de alta volatilidade”. “Em um primeiro momento, apesar da disparada dos preços internacionais, a Petrobras, ao avaliar a conjuntura de mercado e preços conforme governança estabelecida, decidiu não repassar de imediato a volatilidade, realizando um monitoramento diário dos preços de petróleo”, informou.  Na nota, a estatal indicou que ainda mantém um grau de defasagem em comparação com o mercado internacional. “Os valores aplicados naquele momento, apesar de relevantes, refletiam somente parte da elevação dos patamares internacionais de preços de petróleo, que foram fortemente impactados pela oferta limitada frente a demanda mundial por energia”. Para analistas, esta diferença, que chega em torno de 20%, sempre foi aplicada pela entidade.

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