Sem novos projetos, fábrica da Embraer no Brasil fecha em 10 anos, diz sindicato
As fábricas da Embraer não se sustentarão caso a empresa brasileira e a Boeing não garantam novos projetos no Brasil para o futuro – algo que ambas não prometem no momento, dizem os sindicatos de metalúrgicos que representam os funcionários da Embraer.
“Não estou contra essa junção por causa do imperialismo norte-americano, como gostam de taxar o sindicato. Estou me baseando em um fato concreto: se não houver garantia de novos investimentos e nova aeronave, a fábrica vai fechar em cinco ou 10 anos”, disse Herbert Claros, diretor do Sindicato de São José dos Campos que tem encabeçado a campanha contra o negócio da brasileira com a fabricante norte-americana.
Dirigentes dos sindicatos de São José dos Campos, Botucatu e Araraquara se reuniram nesta sexta-feira, 13, com o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva. Segundo Herbert Claros, a discussão não avançou na questão dos empregos: a empresa não garante estabilidade no curto ou no longo prazo.
No início de julho, a Embraer acertou a venda de 80% de sua divisão de aviação comercial para a americana Boeing. O negócio criará uma nova companhia, avaliada em US$ 4,8 bilhões (R$ 19 bilhões), na qual a brasileira terá apenas 20% de participação. Desde que as tratativas para a fusão tiveram início, no final de 2017, sindicalistas têm demandado esclarecimentos da Embraer sobre os potenciais impactos do negócio sobre os empregos no País.
A principal preocupação dos sindicatos mira alguns anos à frente Hoje, a empresa está em boa situação, com o seu carro-chefe – a família dos E2 – ainda em lançamento. Mas esses modelos se tornarão ultrapassados em alguns anos e a companhia precisará de novos projetos para manter o nível de emprego no País. Na visão dos sindicatos, é baixa a probabilidade de os norte-americanos optarem por desenvolver, fabricar e montar eventuais novos aviões no Brasil.
Para Herbert Claros, os impactos negativos à Embraer das negociações com a Boeing já vêm se materializando. Um exemplo, diz, foi a perda da campanha da aérea JetBlue, que decidiu substituir sua frota de E-Jets 190 por aviões Airbus A220-300(os antigos CS300, da Bombardier).
“A Embraer perdeu não porque a Airbus está com a Bombardier, mas porque a JetBlue não compra avião da Boeing, e a JetBlue sabe que há a possibilidade de as duas se juntarem”, avalia.
Os sindicatos rechaçam ainda a alegação da brasileira de que ela precisaria se juntar à Boeing para sobreviver em um mercado cada vez mais competitivo e em processo de consolidação. Herbert Claros destaca que a companhia já é a líder em jatos regionais e que as aeronaves de suas concorrentes asiáticas, como a russa Sukhoi e a japonesa Mitsubishi, estão apenas no papel ou, no máximo, em fase de testes – ou seja, longe de conquistar a posição que a Embraer tem hoje.
Ainda de acordo com o porta-voz, as entidades ainda não receberam resposta sobre as reuniões solicitadas com o presidente Michel Temer e com os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, para discutir o acordo com a Boeing. Os sindicatos pedem que o governo vete a operação.
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