Ecossistemas naturais atuam como melhores “diques” de proteção do litoral

  • Por EFE
  • 05/05/2016 11h10
Reprodução flickr Rio Grande RS

Os ecossistemas naturais, como recifes de coral, zonas alagadas, campos de algas e mangues, são os melhores “diques” de proteção do litoral diante das inundações e da erosão que a mudança climática provocará, o que ameaça milhões de pessoas que vivem junto ao mar.

Assim evidencia o estudo “Efetividade das Defesas Litorâneas Naturais”, publicado, nesta semana, na revista científica “Plos One”.

Os pesquisadores recopilaram a informação científica existente sobre como os ecossistemas litorâneos contribuíram para reduzir inundações e erosão de maneira natural.

Ao mesmo tempo, estudaram experiências existentes de recuperação de zonas alagadas, barreiras de coral, campos de algas e posidonia que tinham desaparecido e, portanto, deixado de exercer a função de dique protetor da costa.

Além disso, compararam o custo da restauração ambiental desses sistemas naturais com o preço da construção de uma infraestrutura artificial para exercer o trabalho de biomas, com 150 casos concretos ocorridos na Ásia, Europa e Estados Unidos.

A conclusão é que, na maioria dos exemplos estudados, é mais eficiente e economicamente mais rentável restaurar um ecossistema perdido ou deteriorado que construir uma obra artificial para que exerça seu trabalho, explicou à Agência EFE um dos autores do estudo, o espanhol Íñigo Losada.

“Demonstramos que a ideia de só proteger a costa mediante estruturas artificiais não é correta, já que a restauração ambiental e a conservação podem proporcionar um nível de defesa equivalente com um custo econômico mais reduzido”, disse Losada, diretor de pesquisa do Instituto Hidráulico Ambiental da Cantábria, região litorânea do norte da Espanha.

Um dos casos analisados é um projeto de restauração de mangues no Vietnã, onde cada metro da vital vegetação costeira recuperado custava US$ 100 a menos do que o custo de ter construído um metro de quebra-mar.

Os pesquisadores classificaram os ecossistemas em função de sua capacidade de proteger o litoral, concluíndo que os recifes de coral são os mais efetivos, seguidos das zonas alagadas, dos mangues e, finalmente, dos campos de algas e posidonia.

Mas, em geral, qualquer desses ecossistemas tem uma capacidade média de reduzir a altura da onda até em 71% e a energia com a qual impactam as ondas até em 96%.

Além disso, o estudo quantificou o custo de restaurar as cadeias ecológicas litorâneas e as barreiras de coral, afrmando serem mais caras e complexas de recuperar, enquanto os mangues são os menos custosos e possuem a relação custo-benefício mais efetiva.

“Os achados deste estudo podem ajudar a tomar decisões para planejar investimentos futuros em projetos de conservação e restauração litorânea”, ressaltou Siddharth Nrayan, coordenador do estudo e pesquisador do Centro Nacional de Análise e Sínteses Ecológicos (NCEAS, por sua sigla em inglês) da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.

Outro dos co-autores, Michael W. Beck, cientista marinho da organização The Nature Conservancy (TNC), assegurou que este estudo permitiu “identificar quando e onde as defesas naturais são mais efetivas do que as infraestruturas artificiais do ponto de vista custo-benefício, o que oferece incentivos vitais para a conservação e restauração de habitats muito relevantes”. 

Exemplo brasileiro

Apesar do consenso contrário a quebras mares artificiais, na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, foi construído, no início do século XX, como forma de proteção dos navios, um quebra mar denominado “Molhes da barra”, que serviu de escolta às embarcações que adentravam e saíam do maior porto do sul brasileiro. 

No caso específico dessa obra engenhosa, com mais de 3 km de extenção mar adentro, o homem ajudou a natureza: no perído de inverno (junho-setembro), centenas de lobos marinhos e focas utilizam os recifes da área para repousar de viagem migratória desde a Patagônia até Santa Catarina.

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