Egípcios votam nova Constituição em ambiente polarizado
Marina Villén.
Cairo, 15 jan (EFE).- A segunda e última jornada do referendo constitucional no Egito transcorreu nesta quarta-feira com um arrasador apoio ao “sim” nos colégios eleitorais e a rejeição à Carta Magna expressada na rua com os protestos dos islamitas.
Embora as manifestações não tenham sido violentas como na véspera, quando 10 pessoas morreram em diversos enfrentamentos, a tensão e a polarização eram evidentes em muitas áreas do país.
Os que compareceram às urnas celebraram o chamado por alguns como “casamento da democracia”, entre cântico e albórbolas, o ulular que tradicionalmente as mulheres entoam durante as festividades.
Em contraste com este ambiente, os simpatizantes da Irmandade Muçulmana interromperam o tráfego em algumas avenidas e uma linha do metrô do Cairo, queimaram cartazes a favor do “sim” e alguns exaltados atacaram alguns colégios eleitorais.
Com estas ações, nas quais foram detidas mais de 120 pessoas, quase a metade delas no Cairo, mostraram de novo sua postura de boicote ao processo, por considerar que a Constituição legítima é a redigida em 2012 por uma maioria islamita e suspensa pelos militares após o golpe de Estado que em julho passado derrubou o presidente, o islamita Mohammed Mursi.
O novo texto, que emenda essa Carta Magna, é visto por seus defensores como um bom passo para avançar rumo ao futuro e conseguir a estabilidade do Egito, um processo que muitos dos eleitores querem que seja liderado pelo chefe do exército e ministro da Defesa, general Abdel Fatah al Sisi.
“A Constituição é algo muito grande que representará a salvação do Egito de todos os males e tempestades que lhe estavam esperando”, disse à Agência Efe o engenheiro aposentado Nasser Suleiman após depositar seu voto.
Para o presidente de uma das mesas eleitorais, Ahmed Hassan Musalhi, a Carta Magna cumpre “as aspirações do povo, respeita as liberdades e é um bom passo em direção à democracia”.
Mais que no texto, muitos dos eleitores pensam na próxima etapa. O próprio plebiscito se transformou em um modo de aprovar o roteiro traçado pelos militares e de avaliar o respaldo a Sisi.
O importante é conseguir uma participação aceitável, que supere pelo menos 33% do último referendo constitucional, e enfraqueça as convocações ao boicote dos islamitas.
O primeiro-ministro egípcio, Hazem el Beblaui, assegurou hoje que em alguma províncias a participação no primeiro dia de votação superou o total do plebiscito de 2012, motivo pelo qual pediu à Irmandade Muçulmana que reconsidere sua postura.
Nesta mesma linha, o porta-voz da presidência, Ihab Badaui, louvou a “grande participação” neste processo “histórico”, e ressaltou que “milhões de cidadãos estão demonstrando sua fé na democracia”.
A Rede Árabe de Informação de Direitos Humanos, que supervisiona o referendo de forma independente, informou que registrou tentativas de ambas partes de convencer os eleitores, enquanto as organizações governamentais acusaram apenas a Irmandade Muçulmana de tentar atemorizar os eleitores.
Este tipo de intimidação era muito patente, por exemplo, no reduto islamita de Nahia, no sul do Cairo, onde ontem um colégio eleitoral foi atacado com coquetéis molotov e disparos.
As autoridades egípcias calculam que os resultados do referendo serão divulgados 72 horas após o fechamento das urnas. EFE
mv/rsd
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.