Egito abre fronteira para Gaza por dois dias depois de 3 meses
Gaza, 26 mai (EFE).- Centenas de moradores de Gaza puderam retornar nesta terça-feira a suas casas na faixa após meses de espera do outro lado da fronteira, aberta hoje pela primeira vez desde março pelas autoridades egípcias.
Abu Mohamad al-Ghazawi, de 55 anos, foi um dos sortudos que atravessou hoje o terminal de Rafah, possibilidade que era negada desde que deixou a faixa há três meses para visitar familiares nos Emirados Árabes Unidos.
“Pensei que poderia visitar minha família e voltar a Gaza em duas semanas, mas o terminal permaneceu fechado por dois meses e meio”, se queixou, pouco após atravessar a divisa.
Ele contou que assim que soube que o Egito reabriria a passagem foi imediatamente para a fronteira.
Ghazawi é um dos incontáveis palestinos que permanecem presos em território egípcio devido as circunstâncias políticas na região.
O Egito permitiu o trânsito na fronteira com Gaza durante o breve governo do presidente islamita Mohammed Mursi mas, com a chegada ao poder de Abdul Fatah Al Sisi em 2013, voltou a fechá-la.
A sintonia ideológica entre a Irmandade Muçulmana egípcia (de Mursi) e o governo islamita do Hamas, assim como uma série de sangrentos atentados jihadistas no Sinai, foram desculpas suficiente para o Cairo, que chegou a responsabilizar o governo de Gaza de acobertar alguns dos autores desses ataques, acusação negada pelo Hamas.
O fechamento do terminal pelo Egito se uniu ao bloqueio por terra, mar e ar imposto por Israel em 2007, quando o movimento islamita palestino tomou o controle da faixa depois de se rebelar contra a autoridade do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.
Nos últimos dois anos Gaza, transformada em uma prisão de fato para seus 1,8 milhão de habitantes, teve esporádicas janelas, como a de hoje e amanhã, para se conectar ao mundo por períodos de apenas 48 horas.
“Foi muito duro para mim ficar tanto tempo (ali) porque meu dinheiro acabou”, explicou Ghazawi, que passou os últimos meses no Cairo.
No aeroporto da capital egípcia ele disse ter visto centenas de moradores de Gaza esperando para tomar um voo para a fronteira, conscientes da curta duração dessa janela.
Além da limitação de tempo, as autoridades egípcias só permitem o trânsito em uma só direção, as saídas dos palestinos ao exterior continuam proibidas.
Khaled al-Shaer, diretor do terminal de Rafah, ainda sob controle do Hamas apesar do governo de reconciliação estabelecido ano passado entre Hamas e Fatah, se queixou que “o sofrimento das pessoas está se acumulando”.
“Há 15 mil palestinos na Faixa de Gaza, a maioria pacientes, estudantes universitários, comerciantes e homens de negócios, que precisam viajar para o exterior através do Egito”, insistiu.
É o caso de Ahmed al-Hatto, um palestino de 40 anos que precisa viajar ao Cairo para que seu filho se submeta a uma operação oftalmológica.
“Esperamos durante 77 dias para que o cruzamento fosse reaberto e pudesse levar meu filho a um hospital no Egito. É realmente deprimente”, lamentou, sobre a impossibilidade de sair.
Apesar do bloqueio muitos palestinos de Gaza recebem tratamento médico diariamente em Israel, mas em seu caso também não dispõe dessa possibilidade por “razões de segurança”.
Outro grupo importante de afetados são os estudantes universitários que estudam em centros acadêmicos egípcios ou de outros países.
Dezenas deles se manifestaram hoje nos arredores do terminal de Rafah para protestar por não poderem atravessar para o outro lado e retornar às salas de aula, o que significará para muitos a perda do ano letivo.
A Corporação de Cruzamentos de Gaza ressaltou em comunicado que a reabertura unidirecional “não resolve as necessidades dos palestinos” e pediu às autoridades egípcias que abram o terminal nos dois sentidos. EFE
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