Egito prepara-se para escolher Al Sisi em nome da estabilidade

  • Por Agencia EFE
  • 24/05/2014 19h34
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Enrique Rubio.

Cairo, 24 mai (EFE).- O Egito se dispõe a escolher o homem forte do país, Abdul Fatah al Sisi, acreditando que será a pessoa que devolverá a estabilidade a um povo cansado de eleições e tumultos que não colocaram o país nos trilhos em mais de três anos.

A eleição, que acontece nos dias 26 e 27, pouco terá a ver com a de 2012, que elegeu o primeiro presidente islamita da história do país, Mohammed Mursi.

Daquela vez, uma infinidade de candidatos de todas as cores do espectro político concorreram em eleições razoavelmente limpas, que deram à Irmandade Muçulmana a possibilidade de chegar ao poder pela primeira vez em mais de 80 anos de história.

Após um ano de convulsão e desgoverno islamita, a tentativa culminou nos maciços protestos de 30 de junho de 2013 e a cassação três dias depois de Mursi pelo exército, que foi apoiado por diferentes representantes das forças vivas do país.

Após uma feroz campanha de repressão, agora praticamente não há pegada da Irmandade Muçulmana, e Sisi, ex-chefe do Exército e articulador do golpe de Estado, se comprometeu a apagá-los da face da terra.

Mas além desse compromisso, quase não há detalhes sobre o programa que o ex-militar pretende levar para governar assim que assumir o comando do país, focado principalmente na ambiguidade da “estabilidade e do desenvolvimento”.

Sisi utilizou um discurso emocional e nacionalista para chegar aos egípcios, colocando os holofotes em sua imagem mais do que em suas ideias, com um lema eleitoral que fala por si só: “Viva o Egito”.

Sua invisibilidade ao longo da campanha – ele não apareceu nenhuma vez em público e só deu contadas entrevistas para a imprensa egípcia – foi compensada pelo trabalho da enorme equipe de colaboradores e da sua onipresença em cartazes epelas ruas egípcias.

Em sua equipe de assessores estão veteranos camaleões, como o presidente da Assembleia Constituinte, Amre Moussa, e jovens da campanha de recolhimento de assinaturas Tamarrud, que serviu de plataforma popular para a derrocada de Mursi.

Do lado oposto de Sisi, e de todo o aparelho do Estado que se mobilizou para pôr pesar a favor do ex-militar, está Hamdin Sabahi, sobrevivente da oposição a Hosni Mubarak e um astuto animal político que faz campanha com tendo o populismo como bandeira.

O nasserista Sabahi é consciente de suas poucas opções, embora uma das poucas dúvidas que restam às vésperas das eleições é saber qual porcentagem dos eleitores irão apoiá-lo.

A resposta a essa pergunta está em boa medida nas mãos dos simpatizantes islamitas e salafistas, que veem em Sisi um retorno ao autoritarismo militar, mas que também não confiam no rival, nem na limpeza das eleições.

Um dos desafios para Sisi e os poderosos setores que o apoiam será mobilizar a opinião pública e conseguir que a abstenção seja a menor possível.

A Irmandade Muçulmana e seus aliados, assim como outros grupos revolucionários que participaram da revolução contra Mubarak, apelaram para o boicote, com a esperança de que uma baixa participação tire o brilho da presumível vitória do ex-ministro de Defesa.

Apesar dos esforços das instituições em apresentar estas eleições como um modelo de transparência, existem dúvidas genuínas sobre o entorno democrático em que a campanha se desenvolveu.

O Centro Carter, que observou a maioria das entrevistas eleitorais no Egito desde a queda de Mubarak em 2011, lançou esta semana uma alarmante mensagem onde advertia sobre o “restritivo” contexto político e legal em que a campanha aconteceu, e também da estagnação da transição.

Em um episódio absurdo, a União Europeia suspendeu sua missão de observadores no sábado por causa dos obstáculos impostos pelo governo egípcio ao trabalho, para retificá-las apenas dois dias depois e anunciar que continua valendo.

Estas sombras ao processo, unidas às críticas da parcialidade do Estado e dos meios de comunicação em favor de Sisi, indicam um polêmico começo de ciclo, no qual os sonhos da praça Tahrir perdem fôlego em compensação pela ânsia de estabilidade. EFE

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