Egito vota referendo marcado por apoio ao exército e protestos islamitas

  • Por Agencia EFE
  • 14/01/2014 17h06

Edu Marín

Cairo, 14 jan (EFE).- As urnas abriram nesta terça-feira no Egito para o referendo constitucional, marcado por uma forte aparência plebiscitária de aprovação do ministro da Defesa e chefe do exército, general Abdel Fatah al Sisi, e pelos protestos islamitas, que deixaram pelo menos nove mortos.

O dia começou com tensão no Cairo, e despertou com a notícia de uma explosão na Corte de Justiça do Norte de Guiza, no bairro popular de Imbaba.

Apesar de não ter causado vítimas, este incidente aqueceu os ânimos de alguns cidadãos que em seguida foram ao local da explosão para mostrar, com fotografias de Sisi e bandeiras do Egito, sua rejeição ao ato e o apoio ao general.

“Os que cometem estas atrocidades não são muçulmanos nem egípcios, mas os venceremos, teremos um presidente muito melhor porque o Egito é uma nação unida”, disse à agência Efe Abla Muharram, enquanto observava com indignação os destroços causados pela explosão.

As fotografias e os cartazes se transformaram em cédulas com um símbolo azul, que representa o “sim” à reforma de uma Constituição que pretende legitimar a roteiro proposto pelo exército após destituir o presidente islamita, Mohammed Mursi, em um golpe de Estado em 3 de julho de 2013.

No interior dos colégios eleitorais era quase impossível encontrar uma só pessoa que tivesse votado pelo “não”.

Os críticos da Carta Magna se dividiram entre os que boicotaram a consulta, a maioria representada pela Irmandade Muçulmana, e os partidários do “não”, cujos apoios diminuíram recentemente.

O partido islamita moderado Egito Forte decidiu nos últimos dias aderir à abstenção, depois que vários de seus membros foram detidos enquanto realizavam propaganda a favor do “Não”.

Assim, o que deveria ser um referendo para aprovar o rebaixamento do corte islamita e a blindagem militar prevista pela nova Constituição, adquiriu uma aparência de plebiscito sobre a figura de Sisi.

O ministro da Defesa e chefe das Forças Armadas mostrou sábado sua intenção de se candidatar às próximas eleições presidenciais “se o povo assim pedir”.

Diante do andamento da votação hoje, não parece descabido prever que o chefe do exército “escutará” a chamada de muitos egípcios e acabe por se candidatar a eleições presidenciais que deverão acontecer nos próximos seis meses.

“O povo egípcio é um povo faraônico, com antecessores faraônicos, e o exército existe para protegê-lo, desde Amosis I até Al Sisi”, disse à agência Efe, após votar em um colégio no Cairo, Attiyah Ahmed Attiyah.

O apoio a Sisi deixa implícito também a rejeição a Irmandade Muçulmana, recentemente declarada como “organização terrorista” pelo governo interino em mensagem que calou fundo na população.

“A Irmandade Muçulmana é o diabo, são assassinos, querem matar nossos filhos, destroçar o país. Olha o que fizeram contra nosso trabalhadores, que Deus os leve em breve”, gritava Nayla Ahmed, uma mulher que usava o “niqab” (véu que cobre a cara), às portas do tribunal atacado no Cairo.

Ao longo do dia morreram pelo menos nove pessoas pela violência em todo o país, anunciou o Ministério egípcio de Saúde.

Quatro deles perderam a vida na cidade de Sohag, entre eles uma criança, segundo o governo egípcio, que acusou franco-atiradores da Irmandade Muçulmana de terem se posicionado nos terraços da cidade e de abrir fogo contra os eleitores que iam votar.

Outras quatro pessoas morreram na província de Guiza, e uma mais em Beni Suef, ao sul do Cairo, em choques entre a polícia e os islamitas.

Um porta-voz da Irmandade Muçulmana informou a Agência Efe da morte de oito pessoas, apesar de dizer que os mortos em Sohag eram simpatizantes de Mursi que protestavam contra a Constituição.

Estes eventos de hoje durante a realização do primeiro dia do referendo constitucional desenham o cenário no qual o país prepara seu futuro imediato, marcado por um forte apoio ao exército e uma oposição islamita que enfrenta de maneira violenta as forças de segurança.

Amanhã, terminada a consulta, começará a contagem regressiva para a convocação de eleições presidenciais e legislativas nos próximos seis meses, sem ainda ter sido definido qual dos dois pleitos acontecerá primeiro.

Seja como for, o Egito começa 2014 com a expectativa de que, três anos depois da revolução que fez cair ao presidente Hosni Mubarak (1981-2011), volte a viver em verdadeira estabilidade. EFE

em/cd

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