EI ameaça punir e até matar homens de Mossul que não deixarem barba crescer
Yasser Yunis.
Mossul (Iraque), 26 mai (EFE).- O líder do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Baghdadi, ordenou que todos os homens da cidade de Mossul, no norte do Iraque, deixem a barba crescer sob ameaça de serem punidos com chicotadas ou até mesmo executados.
A ordem foi anunciada há uma semana através de milhares de panfletos distribuídos nas ruas, mercados e mesquitas de Mossul, capital da província de Ninawa.
O responsável local Mohammed al Ahmed disse à Agência Efe que, na última sexta-feira, os imames também pediram aos fiéis para cumprir com essa nova obrigação. Além disso, os líderes religiosos alertam que quem infringir “as doutrinas do califa dos muçulmanos” será castigado.
O imã da mesquita de Al Wadu, Abu Aisha, do bairro de Al Wahda, disse em seu sermão que primeiro os homens serão advertidos por não cumprirem a regra. Se forem flagrados sem deixar a barba crescer pela segunda vez, receberão pelo menos 50 chicotadas. Em caso de reincidência, poderão até mesmo ser executados.
O ulemá de Mossul, xeque Mohammed al Shama, explicou à Efe que deixar a barba crescer é considerado como uma “suna” (tradição ou costume do profeta Maomé). Por isso, pode ser tratado como um dever do muçulmano, mas não como obrigação.
“Nenhuma autoridade pode obrigar alguém a se barbear ou não. Não há texto religioso nem versículo do Alcorão que obrigue os muçulmanos a isso”, disse Al Shama, acrescentando que o livro sagrado do islã afirma não haver obrigações na religião islâmica.
Além disso, fez críticas à medida anunciada pelos radicais, afirmando que ela é ilógica e inaceitável porque os especialistas em jurisprudência islâmica não determinaram sanções para quem se barbeia.
O EI tenta impor, através de algo chamado de “disposições legais”, sua visão extremista do Islã em todos os aspectos da vida diária nos vastos territórios da Síria e do Iraque sob seu controle.
Saleh Mohamed al Jabouri, morador de Mossul, disse à Efe que a polícia da moral (hisba, em árabe), depois da oração da sexta-feira passada, disse aos homens que eles serão punidos com chicotadas caso não cumpram a nova ordem dos jihadistas.
“Eles levam bastões de madeira e batem nos jovens, ameaçam com chicotadas quem infringir suas normas”, denunciou Al Jabouri.
Islam Abdulwadud, de 23 anos, explicou que os moradores de Mossul vivem aterrorizados porque os jihadistas obrigam o povo a cumprir com muitas regras com as quais não estão de acordo.
“Agora nos obrigam a deixar a barba crescer e isso incomoda muitos jovens da cidade”, afirmou.
O chefe do Comitê de Segurança do Conselho Provincial de Ninawa, Mohammed al Bayati, explicou à Efe que o objetivo dessa medida é transformar a população de Mossul em escudos humanos após o registro de atentados contra os radicais.
“O EI tenta misturar as coisas. Há movimentos armados que começaram a atacar os jihadistas dentro da cidade e eles são alvos fáceis por causa de suas barbas. Por isso, com essa nova ordem, as pessoas inocentes correm risco”, alertou.
Além disso, Bayati afirmou que a organização terrorista perdeu muitos de seus membros nos combates e agora tenta mostrar força ao impor sua vontade sobre a população.
“Eles não ficam um dia sem praticar ações criminosas em público, como execuções sumárias, amputação de mãos ou decapitações, com a finalidade de aterrorizar e reprimir”, ressaltou. EFE
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