Eleição antecipada é uma aposta arriscada para Tsipras

  • Por Agencia EFE
  • 18/09/2015 17h40

Ingrid Haack.

Atenas, 18 set (EFE).- A decisão de Alexis Tsipras de convocar eleições antecipadas foi uma aposta arriscada com futuro incerto, pois o arrasador apoio popular que até pouco tempo parecia seguro balançou e sua intenção de se desfazer dos rebeldes do Syriza provocou uma luta fratricida no partido.

A decisão de Tsipras de renunciar e abrir a porta para a realização de novas eleições foi tomada por ele por vários motivos.

Oficialmente, porque o povo não tinha dado em janeiro um mandato para aplicar o terceiro resgate que assinou, mas exatamente para evitá-lo; por isso, Tsipras argumentou que precisava saber se os cidadãos continuavam a apoiá-lo nessas novas condições.

No entanto, o problema de fundo era ter perdido de fato a maioria parlamentar, ao ser abandonado pela facção radical do Syriza, contrária à continuidade das políticas de austeridade e de o país se submeter às regras dos credores.

“Tsipras não tinha outra opção além de convocar eleições, e embora esteja claro que o Syriza vai perder apoios – entre 10% e 15% em relação a janeiro – pelo menos ainda tem a possibilidade de conservar o poder”, sustentou o analista político Petros Stangos.

Stangos disse à Agência Efe que se Tsipras tivesse esperado até outubro, “os cortes do resgate, que ainda estão só no papel, já teriam se tornado visíveis”, e ele teria perdido qualquer chance de se manter no poder.

Até agora, o parlamento grego aprovou uma série de requisitos prévios em troca de poder obter uma primeira parcela dos 86 bilhões de euros do resgate – entre eles uma controvertida elevação do IVA, o imposto sobre valor agregado, e alguns cortes na previdência, mas a grande tesourada ainda está por vir.

Para outubro estão previstas, entre outras medidas, novas altas de impostos e de restrições da previdência.

Para trás ficaram as grandes promessas de janeiro, quando Tsipras prometeu o fim da austeridade e dos programas impostos pela troika e se comprometeu a não reduzir a previdência, a elevar o salário mínimo e a restabelecer os convênios coletivos salariais.

Nesta campanha eleitoral, seu lema principal é ressaltar que a esquerda suavizará as medidas do resgate e que o Syriza não tem as mãos sujas, ou seja, não tem histórico de corrupção.

Para Stangos, este é na realidade o único trunfo que ele ainda tem na mão, pois enquanto em janeiro o Syriza estreava no poder como opção de “credibilidade” e de partido “incorrupto”, “definitivamente como o único que não tinha mentido nem roubado”, nos sete meses de governo “destruiu toda essa credibilidade, agora só podem dizer que não são corruptos”.

A eleição antecipada semeou incerteza em uma população que neste ano vai às urnas pela terceira vez, uma delas para um plebiscito sobre o resgate.

As pesquisas mostram uma grande porcentagem de indecisos, sobretudo no lado do Syriza, em que só 60% dos cidadãos que votaram em janeiro têm certeza que escolherão o partido novamente.

Muitos acham agora que o Syriza é como todos os outros, um partido que depois que chega ao governo sacrifica as grandes promessas.

Este distanciamento de seus objetivos iniciais levou, em poucos meses, à cisão do partido.

Logo após Tsipras apresentar sua renúncia, a facção mais esquerdista, a Plataforma de Esquerda, agregada em torno do ex-ministro de Energia Panayotis Lafazanis, fundou um novo partido, o Unidade Popular.

Deputados que até poucas semanas antes tinham compartilhado ideias políticas, começaram a ajustar contas e a forjar uma luta fratricida que foi prejudicial para as ambições da oposição.

Nas pesquisas, o Syriza está agora praticamente empatado com os conservadores do Nova Democracia, o que poderia obrigar a uma coalizão de vários partidos, aliança que Tsipras poderia ter formado antes, sem ter precisado recorrer a eleições, mas que em agosto rejeitou categoricamente. EFE

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