Eleição no Reino Unido definirá futuro da ilha na União Europeia

  • Por Agencia EFE
  • 04/05/2015 16h12

Guillermo Ximenis.

Londres, 4 mai (EFE).- As eleições gerais britânicas de 7 de maio determinarão a relação do Reino Unido com a União Europeia (UE) e a possível realização de um referendo sobre a saída do país do bloco.

As pressões da ala “eurocética” do Partido Conservador e a liderança nas pesquisas da legenda “eurófoba” UKIP levaram o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, a prometer um referendo sobre a saída do Reino Unido da UE se for reeleito.

O programa conservador pretende dedicar a primeira sessão parlamentar após a eleição à discussão sobre uma consulta que seria feita até o fim de 2017, após um período de dois anos no qual o Reino Unido renegociaria sua relação com a Europa.

Os favoráveis à saída do país do bloco comum argumentam que é necessário controlar a imigração europeia e que a economia do país melhoraria com a poupança da atual contribuição à UE.

O Reino Unido dedica 0,53% de seu PIB ao orçamento comunitário, uma despesa que os eurocéticos veem como um empecilho, por ser destinada a ajudar os países mais afetados pela crise econômica.

Contudo, alguns estudos apontam que o Reino Unido perderia mais do que ganharia caso decida romper com a União Europeia, um cenário conhecido no país como “Brexit”.

“O benefício de deixar a União seria superado pelos efeitos negativos sobre o comércio, já que as transações entre o Reino Unido e a Europa diminuiriam”, apontou Thomas Sampson, pesquisador da London School of Economics (LSE).

Londres deveria assinar novos acordos comerciais com terceiros países, mas “teria menos poder de negociação fora da UE e dificilmente conseguiria melhores condições”, explicou Sampson à Agência Efe.

Segundo os cálculos do pesquisador, o resultado real para o Reino Unido de sair da União Europeia seria uma queda de 1,1% no PIB no cenário mais otimista, ou de 3,1% na perspectiva mais pessimista, o que representaria cerca de 50 bilhões de libras por ano (R$ 229 bilhões).

O Reino Unido poderia querer ser parte do Espaço Econômico Europeu (EEE) mesmo estando fora da UE, uma situação semelhante à da Noruega, mas nesse caso sua economia seria menor, já que teria que continuar a contribuir com o orçamento europeu.

A questão da “independência” também encontrou espaço no programa eleitoral dos conservadores, que querem defender a hegemonia de seu centro financeiro das “tentativas da UE de restringir sua legítima atividade”, em referência ao projeto para estabelecer uma taxa sobre as transações bancárias.

Outro aspecto relevante para os eurocéticos britânicos é a redução da entrada de imigrantes no Reino Unido, que em 2014 foi de 298 mil pessoas, uma questão essencial na hora da decisão do voto de 14% dos britânicos.

Cameron pretende negociar com Bruxelas limites à entrada de comunitários caso permaneça em Downing Street, apesar de os membros com mais peso na UE se oporem a restringir a livre circulação de cidadãos.

Com França e Alemanha contrários à mudança de uma das pedras angulares da União Europeia, o líder “tory” prometeu cortar no próximo mandato as ajudas sociais às quais os europeus têm direito quando se mudam para o Reino Unido, uma medida que busca desincentivar a imigração para a ilha.

Os conservadores traçaram, além disso, um plano para que o Reino Unido deixe de estar submisso às decisões do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, última instância à qual os imigrantes ilegais podem recorrer para permanecer no país alegando o direito a uma “vida familiar”.

Cameron pretende garantir o direito de veto do parlamento britânico sobre as decisões desse tribunal e está disposto a abandonar a Convenção Europeia de Direitos Humanos se não consegui-lo, o que poderia comprometer a permanência do Reino Unido no Conselho da Europa.

“Queremos que a Europa ajude o Reino Unido a se mover para frente, não que o impeça de crescer”, reza o programa conservador, que adverte para o perigo de a “integração da zona do euro acabar acarretando desvantagens” para o país.

Apesar de o setor eurocético ter ganhado peso no Partido Conservador nos últimos anos, continua a haver vozes críticas dentro do partido, como a de Dominic Grieve, ex-procurador geral do Reino Unido.

Grieve advertiu em uma conferência em Londres que a saída da UE transformaria em “imigrantes ilegais” cerca de dois milhões de britânicos que trabalham em outros países comunitários. EFE

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