Eleições no Québec reabrem discussão de novo referendo defensor da soberania

  • Por Agencia EFE
  • 04/04/2014 22h24

Julio César Rivas.

Toronto (Canadá), 4 abr (EFE).- As eleições provinciais do Québec do próximo dia 7 de abril reabriram a discussão sobre uma nova tentativa do movimento defensor da soberania de realizar um novo referendo pela independência da província.

Em duas ocasiões, em 1980 e em 1995, governos do defensor da soberania Partido Quebequense (PQ) promoveram consultas independentistas. Na última, há quase 20 anos, os partidários da independência ficaram às portas de conseguir seu objetivo.

Quando todos os votos emitidos na consulta de 1995 foram contabilizados, 2.362.648 pessoas (50,58%) votaram contra a proposta dos soberanistas e 2.308.360 (49,42%) a favor. Quase 95% das pessoas com direito a voto compareceu às urnas.

A mínima vitória dos contrários a que Québec se transformasse em “soberano após ter feito uma oferta formal ao Canadá para uma nova associação econômica e política” – parte da pergunta do referendo -, ocasionou taquicardias entre os federalistas enquanto se efetuava a apuração dos votos.

Mas a derrota por menos de 55 mil votos também foi traumática para os soberanistas.

Imediatamente após saber dos resultados, o então primeiro-ministro do Québec, Jacques Parizeau, acusou os novos emigrantes chegados à província nos últimos anos, o que chamou de “voto étnico”, de serem responsáveis da derrota e apresentou sua renúncia.

Lucien Bouchard, um carismático político a quem Parizeau tinha designado para negociar com Ottawa em caso de uma vitória da soberania, foi eleito para substituí-lo à frente do governo quebequense.

Bouchard enunciou um princípio que se transformou até agora em política extraoficial do Partido Quebequense: não será realizado um novo referendo defensor da soberania até que haja “condições ganhadoras”.

Uma dessas “condições ganhadoras” é o saneamento das finanças da província: Québec é a província canadense com maior dívida, calculada na atualidade em mais de US$ 175 bilhões.

O temor de qual seria a situação financeira de um Québec independente fora do Canadá sempre foi uma das principais preocupações para os moradores da província, independentemente de sua orientação política.

Por isso, quando no início da campanha eleitoral a atual primeira-ministra quebequense, Pauline Marois, foi perguntada sobre como seria um Québec independente, a líder do PQ respondeu que manteria o dólar canadense como moeda e não teria fronteiras com o Canadá.

Marois, e grande parte do PQ, tentaram que a atual campanha eleitoral gire em torno do próximo governo provincial e não de um possível referendo defensor da soberania, mas a primeira-ministra quebequense também reconheceu que, em caso de vitória, formará uma comissão para estudar se os quebequenses querem outro referendo.

Embora as “condições ganhadoras” assinaladas por Bouchard estejam longe de ser alcançadas, alguns comentaristas políticos do Canadá ressaltaram que Marois poderia ver-se tentada de realizar o terceiro referendo defensor da soberania na história do Québec se conseguir a maioria absoluta nas eleições de 7 de abril.

Seu raciocínio é que para Marois, de 65 anos, e a geração de históricos independentistas do PQ, esta pode ser a última oportunidade que terão na vida de promover uma nova consulta popular sobre o papel do Québec no Canadá.

Marois já fez história ao se transformar na primeira mulher à frente de um governo do Québec graças a sua vitória, embora sem maioria absoluta, nas eleições provinciais de setembro de 2012.

A ambiciosa política quebequense poderia tentar fazer novamente história caso vença as eleições com maioria absoluta, o que lhe daria o respaldo para iniciar o processo de um terceiro referendo defensor da soberania. EFE

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