Eleitores iraquianos votam para fugir de sectarismo e violência
Mohammed Siali.
Bagdá, 30 abr (EFE).- Os cidadãos iraquianos depositaram nesta quarta-feira seus votos nas eleições legislativas em busca de um novo governo que garanta estabilidade e segurança em um país perturbado pelos conflitos sectários e pelos ataques terroristas.
A tendência política parecia ser o que menos importava para os cidadãos foram votar hoje, mais preocupados em escolher um executivo que ofereça constância diante da instabilidade que o país vive.
O estudante Karrar al Jassim, 22 anos, que votou no bairro de Al Zubat, confessou à Agência Efe esperar que estas eleições “abram uma nova página com (o primeiro-ministro iraquiano saliente Nouri) al-Maliki, e seja administrada com mais estabilidade”.
Em Bagdá, os eleitores, jovens, idosos, mulheres e homens andaram até os centros de votação, pois o exército iraquiano impediu a circulação de veículos na cidade desde ontem à noite até o fechamento das urnas por razões de segurança.
Apesar dessas medidas severas, pelo menos 17 pessoas morreram com a explosão de várias bombas perto de alguns colégios eleitorais, que também foram atacados a tiros, informaram à Efe fontes de segurança.
“Esperamos o melhor destas eleições. E embora continue o governo atual queremos que seu método mude”, disse o comerciante Arkan Khalifa, de 41 anos, após depositar seu voto.
Ao comparecer às urnas, Maliki deu hoje por vencedora sua coalizão, a xiita Estado de Direito, e cobrou que se “supere o princípio das cotas (confessionais) e se estabeleça um governo baseado na maioria parlamentar”.
O Executivo iraquiano estava integrado por ministros, entre outros, das duas coalizões rivais, Estado de Direito e a laica “Al-Iraquiya”, dirigida pelo ex-primeiro-ministro Ayad Allawi.
Mas desde que há mais de um ano explodiu uma crise política entre os dois grupos, fazendo a “Al-Iraquiya” tomar a decisão de retirar seus titulares das reuniões do governo e a endurecer a oposição parlamentar ao primeiro-ministro, o que levou o país a uma grave divisão política e sectária.
O dirigente da “Al-Iraquiya”, Ibrahim al Mutlak, que faz parte de uma destacada família de políticos sunitas, disse que a jornada eleitoral “foi bem-sucedida” apesar de alguns percalços registrados nos arredores de Bagdá.
Mulak explicou que algumas unidades militares impediram a circulação de veículos que transportavam eleitores, apesar de eles terem uma autorização da comissão eleitoral para se deslocar. Segundo ele isto impediu que vários cidadãos que vivem longe dos colégios eleitorais tivessem a oportunidade de votar.
Por outro lado, Mulak concordou com Maliki em que os iraquianos querem um governo de maioria política e opinou que “os executivos que se baseiam no consenso e as cotas (confessionais) levam a muita corrupção”.
Alguns cidadãos preferiram boicotar a eleição, como o jornalista Wisam al Bayati, que explicou à Efe que já votou em duas eleições parlamentares desde a queda do regime de Saddam Hussein, em 2003, sem notar um “avanço real” no processo político nem nos serviços prestados pelo Estado.
Bayati qualificou Maliki de “débil”, por não ter a força necessária para aplicar seu programa eleitoral, e lamentou que não exista outra alternativa na cena política iraquiana. “Por isso preferi deixar meu voto para mim mesmo”, acrescentou.
A analista do centro egípcio de estudos políticos e estratégicos “Al-Ahram”, Iman Ragab, assinalou após o fechamento das urnas que um governo que se apoia na maioria parlamentar “não vai tirar o país da divisão sectária porque ganharão os que têm mais mobilização, que são os aliados xiitas de al-Maliki”.
Para Ragab isto criará divisões entre uma maioria xiita e uma oposição sunita e laica.
Ela detalhou que o Iraque precisa de uma nova elite política “liberada da história da repressão de Saddam, da violência e da desconfiança da população, que tenha um programa político claro de longo prazo e que seja independente da influência estrangeira”.
Os eleitores no Curdistão (região autônoma do Iraque) votaram hoje também, além de nas legislativos federais, nas eleições locais para escolher os conselhos das três províncias da região, Al Suleimaniya, Dahuk e Erbil.EFE
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