Em cúpula, ex-prefeitos pedem que cidades parem de dar prioridade aos carros

  • Por Agencia EFE
  • 09/09/2015 20h42

Rio de Janeiro, 9 set (EFE).- As cidades têm que deixar de dar prioridade aos automóveis e investir em transporte público para garantir a mobilidade e melhorar a qualidade de vida de seus moradores, recomendou nesta quarta-feira um grupo de ex-prefeitos considerados modelos em seus respectivos continentes.

Os participantes, convidados para expor suas experiências e projetos bem-sucedidos na chamada Cúpula de Prefeitos, realizada hoje no Rio de Janeiro, advertiram que apenas sistemas de transporte público de qualidade convencerão os moradores de uma cidade a usá-los e a deixar o carro em casa.

Entre os que expuseram suas experiências hoje estavam os ex-prefeitos Jaime Lerner (Curitiba), Enrique Peñalosa (Bogotá), Ken Livingstone (Londres), Sam Adams (Portland, Estados Unidos) e Mary Jane Ortega (San Fernando, Filipinas).

Suas conferências serviram de preâmbulo para o Congresso Internacional Cidades e Transportes, que será realizado na quinta e na sexta-feira no Rio e no qual participarão dezenas de prefeitos, em sua grande maioria brasileiros, além de autoridades e funcionários de 129 cidades dos cinco continentes.

“Um dos maiores problemas das cidades é o poder que se dá aos automóveis. Se construirmos imóveis no espaço público usado pelos 5 milhões de automóveis que circulam na cidade de São Paulo, por exemplo, teríamos cinco milhões de pessoas vivendo ao lado de seu trabalho e sem necessidade de mover-se”, comentou Lerner.

O ex-prefeito de Curitiba, cidade que chegou a ser considerada modelo mundial na década do 90 por seus sistemas de transportes e suas iniciativas urbanas, criticou que atualmente tudo o que se propõe para melhorar a mobilidade está dirigido ao automóvel.

“Temos que parar de pensar no automóvel e mudar a forma de usar o automóvel”, opinou.

Para Peñalosa, considerado modelo por seu Transmilenio, um sistema de transporte público com corredores exclusivos para ônibus que foi copiado de Curitiba, o principal desafio para a mobilidade não é econômico nem técnico, mas uma questão de igualdade.

“As constituições dos países democráticos dizem que todos os cidadãos são iguais e, se isso for verdade, uma pessoa que se desloca em bicicleta tem direito ao mesmo espaço em uma via que um motorista de automóvel e um ônibus com cem passageiros tem direito a cem vezes mais espaço que um automóvel”, considerou.

O ex-prefeito de Bogotá defendeu medidas de incentivo ao uso do transporte público, como melhorar a qualidade dos mesmos, e de limitação ao uso de carros, entre eles sistemas de rodízio e dificuldades para estacionar.

“Em Londres não se permite que edifícios com escritórios tenham estacionamento, por exemplo. Infelizmente na maioria das cidades em que o transporte público é usado de forma massificada é porque há dificuldades para usar o carro”, declarou.

Por sua vez, Ortega disse que as medidas de restrição têm que ser atualizadas permanentemente porque os cidadãos buscam formas de superá-las, como comprando dois veículos para revezar seu uso.

A ex-prefeita filipina acredita que a melhor forma é investindo em um bom sistema de transporte público. “Não se pode dizer a ninguém que não use seu carro se não lhe der uma boa alternativa”, ressaltou.

Peñalosa concordou que os cidadãos, inclusive os ricos, só vão preferir o transporte público se lhes for oferecido um sistema de qualidade e mais rápido e seguro que o uso do automóvel.

De acordo com Livingston, cujo modelo conseguiu elevar em 50% o uso do transporte público em Londres, a oferta de alternativas para que as pessoas deixem o automóvel em casa é vital para a humanidade.

“A melhor forma de atenuar o aquecimento global é estimulando as pessoas a não usar seus automóveis e isso ajudará não só a combater as mudanças climáticas, mas melhorará a saúde. Cerca de 10.000 pessoas morrem ao ano em Londres por problemas vinculados à poluição do ar”, comentou.

Por fim, Adams admitiu que em um país como os Estados Unidos, no qual 80 % da população tem automóvel, é difícil convencer a maioria a usar transporte público, mas destacou o projeto que desenvolveu em Portland para oferecer “ruas verdes” que reduzem os trajetos e são exclusivas para ciclistas, pedestres e ônibus. EFE

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