Em meio à consternação em Portugal, José Sócrates passa 1º dia na prisão

  • Por Agencia EFE
  • 25/11/2014 16h08

Óscar Tomasi.

Lisboa, 25 nov (EFE).- O ex-primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, passou nesta terça-feira seu primeiro dia na prisão por decisão do juiz que o vincula a um caso de corrupção, enquanto no país a comoção inicial abriu passagem para a consternação.

As autoridades portuguesas se recusaram a revelar o centro penitenciário ao qual foi transferido ontem à noite o chefe de governo entre 2005 e 2011, depois que o magistrado encarregado de sua causa decretou sua prisão provisória.

Horas mais tarde, o advogado de Sócrates, João Araújo, confirmou à Agência Efe que o ex-primeiro-ministro, detido na sexta-feira passada, foi encarcerado na prisão de Évora.

Trata-se de um centro reservado para agentes das forças de segurança com menos de 45 celas, onde presumivelmente permanecerá à espera de saber se será acusado definitivamente, em um processo que pode demorar meses.

Por enquanto, Sócrates, de 57 anos, já recebe visitas como os demais presos e os primeiros a falar com ele na prisão foram sua ex-mulher, Sofía Fava, e o ex-ministro socialista Capoulas dos Santos.

O magistrado Carlos Alexandre optou por acusar o ex-primeiro-ministro pelos crimes de fraude fiscal, lavagem de dinheiro e corrupção, e decidiu ontem à noite seu ingresso na prisão de forma preventiva.

No comunicado divulgado pelo tribunal não faz-se menção aos motivos jurídicos que respaldam esta medida, motivo pelo qual algumas vozes em Portugal questionaram se sua prisão preventiva não seria desproporcional.

Com o caso ainda sob sigilo judicial, as autoridades só assinalaram que a investigação sobre Sócrates nasce da “comunicação de uma entidade financeira” sobre “operações bancárias, movimentos e transferências de dinheiro sem justificativa”.

Os outros detalhes correspondem a informações publicadas por meios de comunicação portugueses, que apontam que José Sócrates tinha uma fortuna de 20 milhões de euros em uma conta no nome de um amigo – o empresário Carlos Santo Silva, também detido -, além de um apartamento avaliado em 3 milhões de euros em Paris.

Números muito superiores aos emolumentos e ao patrimônio declarado pelo ex-primeiro-ministro, que há poucos meses foi citado em outro caso de fraude fiscal e assegurou que não dispunha de tanto capital como para estar interessado em realizar este tipo de operação.

O presidente da Ordem dos Advogados de Lisboa, Basco Marques Correia, tachou de “lacônico” o comunicado divulgado pelo tribunal sobre a prisão preventiva a Sócrates e, em sintonia com outros juristas, lamentou que não tenham sido apresentados mais detalhes.

Hoje, o jornal “Diário Econômico” garante que as razões do magistrado para ordenar a prisão preventida de Sócrates foram o perigo de corromper a investigação, o risco de fuga e a possibilidade de continuar com a atividade criminosa.

O caso, totalmente inédito em Portugal, poderia ter consequências políticas impactantes, já que os socialistas – principal grupo da oposição – lideravam até agora as pesquisas e acabam de escolher seu novo líder, António Costa, pertencente à mesma corrente que Sócrates dentro do partido.

Costa, atual prefeito de Lisboa, rejeitou, no entanto, que o caso prejudique suas chances de vitória nas eleições legislativas de 2015 e insistiu que é necessário deixar a Justiça trabalhar.

Mais críticos se mostraram alguns deputados de seu próprio partido, que questionaram a idoneidade da prisão decretada para seu antigo líder.

João Soares, ex-prefeito socialista de Lisboa entre 1995 e 2001, qualificou nas redes sociais de “injusta” a medida aplicada a Sócrates e a antiga ministra de Cultura, Gabriela Canavilha, considerou que “seria interessante saber em que se fundamenta”.

Por enquanto, o governo do atual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, mantém silêncio sobre o ocorrido e os parlamentares da coalizão conservadora no poder se limitaram a destacar a independência da Justiça em relação ao poder político. EFE

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