Em meio a protestos violentos, Haiti adia eleição presidencial indefinidamente

  • Por JP - ABr e EFE
  • 23/01/2016 14h42
EFE Tentativa de eleições no Haiti é marcada por violência

O Conselho Eleitoral Provisório do Haiti cancelou nesta sexta (22) o segundo turno das eleições presidenciais marcado para domingo (24).Ainda não há uma nova data agendada para definição eleitoral no país. Como ainda não há nova data para a realização do pleito, fica imprevisível o futuro do governo do país, já que o mandato do atual líder, Michel Martelly, termina em 7 de fevereiro.

Fontes políticas disseram à Agência Efe que, após o cancelamento das eleições, é possível que um governo provisório seja formado depois do dia 7 de fevereiro, possivelmente liderado pelo primeiro-ministro, Paul Evans, ou aplicando alguma outra forma sugerida pelo parlamento do país. A medida seria tomada para normalizar a situação antes da convocação de um novo segundo turno.

Por outro lado, aliados de Martelly afirmaram que o atual presidente deveria permanecer do poder além do fim de seu mandato até que seu sucessor seja eleito pelas urnas.

A decisão do adiamento sem data ocorreu num momento em que a capital haitiana é palco de violentos confrontos entre a polícia e grupos que se opõem à realização das eleições. Os opositores afirmam que houve fraude no primeiro turno das eleições presidenciais, realizado em 25 de outubro, e que a comissão independente de avaliação eleitoral – criada a pedido da oposição – concluiu ter sido “afetada por irregularidades”.

Violência

Muitos simpatizantes da oposição participaram dos protestos que se estenderam pelo nordeste do país após terem sacudido o centro da capital, Porto Príncipe, e distrito de Pétionville, um dos mais importantes e seguros da cidade.

Os manifestantes incendiaram carros e saquearam lojas, obrigando as forças de segurança a usaram bombas de gás lacrimogêneo e dar tiros para o alto para dispersar a multidão. “Há feridos, mas ainda não sabemos quantos”, disse um agente que pediu para não ser identificado.

Uma menina morreu baleada na região de Carrefour Feuilles, em Porto Príncipe, mas por enquanto não se sabe se sua morte está relacionada com os protestos.

Na sexta, grupos violentos bloquearam ruas no centro de Porto Príncipe. Antes, incendiarem instalações do Conselho Eleitoral Provisório em Leogane (Sul do país). Um dia antres, quinta (21), eles tentaram incendiar instalações do conselho em Ouanaminthe e Thomonde (Nordeste), enquanto outras, no Norte, foram incendiadas no início da semana.

Os confrontos ocorrem hoje em várias ruas do centro da capital, onde pelo menos três veículos foram queimados, verificando-se também um aumento da violência nos bairros de La Saline, Bel Air, Sans Fil e Champs de Mars, onde há pessoas armadas com facas e pedaços de pau. Há ainda registro de manifestações nas cidades de Arcahaie e de Petit Goave, no Oeste do país.

Na quarta-feira (20), opositores haitianos concentraram-se em frente à Embaixada dos Estados Unidos, em Porto Príncipe, para protestar contra o apoio americano ao governo do Haiti. Eles acusam os estadunidenses de roubo de riquezas do território, principalmente as minas de ouro, e de incitamento à luta entre os haitianos.

Reagindo aos apelos da oposição para que as ruas fossem bloqueadas no dia das eleições nas principais cidades do país, o presidente haitiano, Michel Martelly, disse ontem que “a oposição quer violência”, mas que “a polícia e a Missão de Estabilização da ONU no Haiti” tinham ordens para garantir que o processo eleitoral decorresse normalmente.

No primeiro turno das eleições presidenciais, o candidato do poder, Jovenel Moïse, obteve 32,76% dos votos, contra 25,29% registrados por Jude Célestin. Líder do grupo de opositores haitianos denominado G8, Célestin se recusou a participar do segundo turno.

“Essa é uma vitória para todo o setor democrático do país”, disse Celestin à imprensa local depois do adiamento das eleições.

Repercussão internacional

O chamado “Core Group” divulgou pouco antes do adiamento um comunicado no qual evitava citar a data das eleições e pedia que os políticos do Haiti encontrassem uma saída que garanta a renovação democrática das instituições do país.

O grupo é integrado pelos embaixadores do Brasil, Canadá, França, Espanha, Estados Unidos, União Europeia e pelos representantes da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah).

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