Embaixada de Cuba nos EUA será testemunha de um século de intrigas políticas

  • Por Agencia EFE
  • 07/07/2015 10h26
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Lucía Leal.

Washington, 7 jul (EFE).- Cuba finaliza os preparativos para a abertura de sua embaixada em Washington, em um elegante edifício construído há quase um século, que resistiu durante décadas a intrigas políticas e dificuldades econômicas.

Os três andares da mansão de estilo francês, erguida em 1917 a cerca de três quilômetros da Casa Branca, passaram despercebidos durante anos para muitas pessoas que passavam pela histórica 16th Street, dada a ausência de bandeiras ou símbolos oficiais que identificassem Cuba com esse edifício, rodeado por outros imóveis centenários.

Só os mais curiosos reparavam no cartaz situado no muro, que identifica o edifício como o Escritório de Interesses de Cuba, e deixa clara sua vinculação à embaixada da Suíça, país que exerceu o papel de mediador entre os dois antigos inimigos da Guerra Fria durante os anos de ausência de relações diplomáticas.

Nas últimas semanas, o Escritório de Interesses atraiu mais olhares enquanto se produzia para se transformar em embaixada, com uma entrada recém-pavimentada, um muro com tinta fresca, um novo jardim e um mastro instalado há menos de um mês, onde se içará a bandeira de Cuba no próximo dia 20 de julho.

A esperança que a missão destila contrasta com sua situação de um ano atrás, quando o Escritório de Interesses abrigava todo seu dinheiro, confiando em não registrar nenhum roubo, e prestava serviços consulares muito reduzidos diante da recusa de dezenas de bancos nos Estados Unidos de fazer negócios com o governo cubano.

Cuba perdeu em março de 2014 sua relação financeira com o banco M&T, e desde então não conseguiu encontrar uma nova entidade para realizar suas operações nos Estados Unidos, até assinar em maio um contrato com o Stonegate, da Flórida.

Comparada com o imóvel cinza de sete andares que se transformará na embaixada ados Estados Unidos em Havana também no dia 20, a futura missão cubana é um edifício pequeno, embora sua elegante fachada confira a ele o ar imponente das grandes mansões de Washington.

Quem já cruzou seu umbral se encanta com a enorme escada de mármore do hall, que abre caminho para dois andares coroados por uma enorme cúpula de cristal com vitrais.

No primeiro andar está o bar Ernest Hemingway, batizado em homenagem ao célebre escritor americano que viveu em Cuba, e que recebe somente convidados seletos.

“Achamos que (Hemingway) faz parte de nossa história cultural. Teve uma amizade verdadeira” com Fidel Castro, disse o chefe do Escritório de Interesses de Cuba em Washington, José Cabañas, em recente entrevista à rede de televisão “ABC News”.

A mansão começou a ser construída em 1916, quando o governo cubano contratou a firma local MacNeil & MacNeil para projetar sua delegação nos Estados Unidos, um status inferior ao de embaixada que era aplicado quando o chefe da missão tinha categoria de “ministro” e não de embaixador.

Um ano depois, a diplomacia cubana se instalou na mansão de estilo neoclássico, uma corrente pouco habitual em Cuba que foi escolhida porque “pertence a todo o mundo”, disse então o “ministro” chefe de missão, Carlos Manuel de Gramados Quesada.

Em 1923, o edifício foi elevado à categoria de embaixada e desde então acolheu vários presidentes cubanos de visita aos Estados Unidos, incluído Fidel Castro em abril de 1959.

A embaixada fechou suas portas em janeiro de 1961, após a ruptura de relações diplomáticas, e o edifício ficou vazio, embora protegido pelo governo da então Tchecoslováquia, escolhido por Cuba para representar seus interesses no país americano.

Em 1977, Estados Unidos e Cuba chegaram a um acordo para abrir seções de interesses, o que os dariam presença diplomática limitada nas respectivas capitais, e o governo cubano reabriu a mansão na 16th Street.

Desde então, o governo suíço foi o responsável técnico pela seção cubana, cuja representação diplomática é muito inferior a dos Estados Unidos em Havana e tem notáveis restrições de movimento, que serão derrubadas quando as embaixadas forem abertas.

Os sete chefes que o Escritório de Interesses cubano teve em Washington viveram momentos de tensão política, como a chamada “crise dos balseiros” em 1994, a disputa em 1999 sobre o destino do “menino náufrago” cubano Elián González e a progressiva intensificação do embargo econômico à ilha desde 1980.

A seção cubana suportou inclusive duas tentativas de atentado, em 1978 e 1979, que não causaram grandes danos e foram reivindicados por grupos anticastristas radicais.

Após 54 anos que suas portas foram fechadas em Washington, os diplomatas cubanos nos Estados Unidos prepararam agora a bandeira que marcará sua reabertura dia 20: três metros de tecido das mesmas cores da bandeira americana que será hasteada no mesmo dia em Havana. EFE

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