“Embaixadas sempre foram uma ilusão”, diz ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero

  • Por Jovem Pan
  • 23/01/2015 16h17
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 23-05-2011, 14h50: Da esq. para a dir., Rubens Ricupero, Sarney Filho, José Carlos Carvalho, Marina Silva e Carlos Minc durante entrevista na Câmara dos Deputados. Dez ex-ministros do Meio Ambiente se uniram nesta segunda-feira contra o texto da reforma do Código Florestal que deve ser votado amanhã (24) pela Câmara. Em carta aberta à presidente Dilma Rousseff e ao Congresso, o grupo diz que a proposta a ser analisada significa um retrocesso na política ambiental brasileira, que foi "pioneira" na criação de leis de conservação e proteção de recursos naturais. Assinaram o texto: Marina Silva (PV), Carlos Minc (PT), Sarney Filho (PV), Rubens Ricupero (sem partido), José Carlos Carvalho (sem partido), Fernando Coutinho Jorge (PMDB), Paulo Nogueira Neto (sem partido), Henrique Brandão Cavalcanti (sem partido), Gustavo Krause (DEM), José Goldemberg (PMDB). (Foto: Marcelo Camargo/Folhapress, 5163, PODER) Marcelo Camargo/Folhapress Ex-ministro da Fazenda

Há pelo menos dois meses sem recursos, embaixadores brasileiros em diversos países, em sua maioria nos países da África, têm sofrido com a impossibilidade no pagamento de contas por parte do Itamaraty – alguns deles chegam a pagar de seu próprio bolso as contas da embaixada.

Entre os anos de 2003 e 2013, o Brasil criou 77 novas representações diplomáticas, a maioria em países pequenos e sem grandes importâncias econômicas.

Em entrevista à Jovem Pan, o ex-ministro da Fazenda, o embaixador Rubens Ricupero, disse que esse número elevado de embaixadas é “reflexo dos excessos cometidos no final do segundo mandato de Lula”. Ricupero citou o Caribe, área tradicional de colonização inglesa, o qual o Brasil chegou a ter mais embaixadas que a Inglaterra, que, por dificuldades na economia optou por diminuir a quantidade de representações diplomáticas. “O Brasil seguiu o caminho oposto e foi uma coisa prematura. Agora estamos pagando o preço”, comentou o embaixador. “Essas embaixadas [em países menores] sempre foram uma ilusão. Foram criadas para mostrar a bandeira apenas”, disse.

A respeito da razão de terem sido criadas tantas embaixadas mundo afora, o ex-ministro relembrou a ideia de presença nestes países: “é a ideia de que nós [Governo] queríamos ter um lugar permanente no Conselho de Segurança e, de maneira geral, queríamos ter posições importantes de organismo internacionais e julgávamos que com uma presença em um número maior de países, isso facilitaria a obtenção de votos. O que na minha opinião, é uma ilusão, por que os países votam, mas não por que você abre uma embaixada e coloca uma bandeira”.

Para Ricupero, embora o Governo “relute em tomar essa medida”, é necessário diminuir a rede de representações diplomáticas, pois os custos são muito caros e “isso acaba afetando as embaixadas nos lugares que são, estrategicamente, vitais”.

Ele ainda comentou sobre sua atuação como embaixador em Washington, Estados Unidos entre os anos de 1991 e 1993: “eu várias vezes tive que pagar do meu bolso a conta de luz e de água da embaixada. Imagine que humilhação, na capital do país mais importante do mundo, ter a embaixada do Brasil sem poder funcionar por causa de corte de luz e de água. Eu saí de lá com o Governo brasileiro me devendo dinheiro. Durante algum tempo eu financiei o Governo brasileiro”, criticou o ex-ministro.

Ele ainda aconselhou uma atitude mais sóbria e realista para que tais problemas não ocorram e para que se tenha, de fato, uma rede de embaixadas realmente necessárias. Mas acrescentou que tal conscientização não exclui a necessidade de aumentar o orçamento do Itamaraty, que atualmente representa 0,20% do orçamento total da República.

Sobre as dívidas (US$ 6 milhões) que impediram o Governo brasileiro de votar no Tribunal Penal Internacional da ONU, entidade sediada em Haia, Ricupero destacou que é um “vexame não só não poder pagar contas, sobretudo como ficar atrasados nos organismos internacionais. Em alguns deles, o Brasil está atrasado vários anos”. Ele ainda acrescentou que para se perder o direito de voto, não basta estar com dívidas atrasadas em um ano. “Dependendo do organismo é preciso acumular contas durante três, quatro anos e isso afeta todo o prestígio que o Brasil procurou conquistar”, comentou.

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