“Embaixadas sempre foram uma ilusão”, diz ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero

Há pelo menos dois meses sem recursos, embaixadores brasileiros em diversos países, em sua maioria nos países da África, têm sofrido com a impossibilidade no pagamento de contas por parte do Itamaraty – alguns deles chegam a pagar de seu próprio bolso as contas da embaixada.
Entre os anos de 2003 e 2013, o Brasil criou 77 novas representações diplomáticas, a maioria em países pequenos e sem grandes importâncias econômicas.
Em entrevista à Jovem Pan, o ex-ministro da Fazenda, o embaixador Rubens Ricupero, disse que esse número elevado de embaixadas é “reflexo dos excessos cometidos no final do segundo mandato de Lula”. Ricupero citou o Caribe, área tradicional de colonização inglesa, o qual o Brasil chegou a ter mais embaixadas que a Inglaterra, que, por dificuldades na economia optou por diminuir a quantidade de representações diplomáticas. “O Brasil seguiu o caminho oposto e foi uma coisa prematura. Agora estamos pagando o preço”, comentou o embaixador. “Essas embaixadas [em países menores] sempre foram uma ilusão. Foram criadas para mostrar a bandeira apenas”, disse.
A respeito da razão de terem sido criadas tantas embaixadas mundo afora, o ex-ministro relembrou a ideia de presença nestes países: “é a ideia de que nós [Governo] queríamos ter um lugar permanente no Conselho de Segurança e, de maneira geral, queríamos ter posições importantes de organismo internacionais e julgávamos que com uma presença em um número maior de países, isso facilitaria a obtenção de votos. O que na minha opinião, é uma ilusão, por que os países votam, mas não por que você abre uma embaixada e coloca uma bandeira”.
Para Ricupero, embora o Governo “relute em tomar essa medida”, é necessário diminuir a rede de representações diplomáticas, pois os custos são muito caros e “isso acaba afetando as embaixadas nos lugares que são, estrategicamente, vitais”.
Ele ainda comentou sobre sua atuação como embaixador em Washington, Estados Unidos entre os anos de 1991 e 1993: “eu várias vezes tive que pagar do meu bolso a conta de luz e de água da embaixada. Imagine que humilhação, na capital do país mais importante do mundo, ter a embaixada do Brasil sem poder funcionar por causa de corte de luz e de água. Eu saí de lá com o Governo brasileiro me devendo dinheiro. Durante algum tempo eu financiei o Governo brasileiro”, criticou o ex-ministro.
Ele ainda aconselhou uma atitude mais sóbria e realista para que tais problemas não ocorram e para que se tenha, de fato, uma rede de embaixadas realmente necessárias. Mas acrescentou que tal conscientização não exclui a necessidade de aumentar o orçamento do Itamaraty, que atualmente representa 0,20% do orçamento total da República.
Sobre as dívidas (US$ 6 milhões) que impediram o Governo brasileiro de votar no Tribunal Penal Internacional da ONU, entidade sediada em Haia, Ricupero destacou que é um “vexame não só não poder pagar contas, sobretudo como ficar atrasados nos organismos internacionais. Em alguns deles, o Brasil está atrasado vários anos”. Ele ainda acrescentou que para se perder o direito de voto, não basta estar com dívidas atrasadas em um ano. “Dependendo do organismo é preciso acumular contas durante três, quatro anos e isso afeta todo o prestígio que o Brasil procurou conquistar”, comentou.
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