Empresas investigadas em ação da PF receberam R$ 4,3 bi da Caixa em três anos

  • Por Estadão Conteúdo
  • 14/01/2017 13h57
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Brasília - O Ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, durante reunião com líderes partidários da Câmara dos Deputados. (Marcelo Camargo/Agência Brasil) Marcelo Camargo/Agência Brasil O ex-ministro da Secretaria de Governo,

No período em que o ex-ministro Geddel Vieira Lima ocupou o cargo de vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, área responsável por financiamentos empresariais, foram liberados ao menos R$ 4,3 bilhões às principais empresas investigadas por suspeita de pagamento de propina na Operação Cui Bono?, deflagrada ontem pela Polícia Federal. Geddel ficou no posto de 2011 a 2013.

Os valores estão registrados publicamente em diferentes documentos, como demonstrações contábeis e atas de reuniões de diretoria, das quatro maiores empresas investigadas pela PF: JBS e sua holding J&F, Bertin e Marfrig. Elas fazem parte do que o mercado chama de “campeões nacionais”, grupo beneficiado, nos governos do PT, com financiamento de bancos públicos para fazer fusões e aquisições e se tornarem líderes em seus setores.

Os procuradores entendem que havia um esquema organizado de crime na Caixa que atingia duas áreas: a de pessoas jurídicas, sob o comando de Geddel, e a do FI-FGTS, fundo com recursos do trabalhador que é gerido pela Caixa.

Quando Geddel estava na Caixa, o frigorífico JBS recebeu um financiamento de R$ 1,8 bilhão. Já sua holding, a J&F, recebeu R$ 500 milhões por meio de uma emissão de debêntures que foi totalmente adquirida pela Caixa. Na época, o mercado questionou os juros, considerados favoráveis à empresa.

A área de infraestrutura do grupo Bertin contou ao menos com R$ 1,6 bilhão, liberado para as obras do Rodoanel de São Paulo. O Bertin já foi a maior exportadora de carnes do País e vendeu essa área para a JBS, numa operação que gerou controvérsia por causa de outro financiamento de banco público.

Marfrig, outra do setor de carnes, fez ao menos dois empréstimos na Caixa no período investigado, um de R$ 300 milhões e outro de R$ 50 milhões. A Marfrig também fez negócios com a JBS: vendeu para a rival a Seara e a irlandesa Moy Park.

O valor recebido por essas empresas, via Caixa, chegaria a quase R$ 6 bilhões se levado em conta também os empréstimos do FI-FGTS. Esquemas com o fundo foram descritos na delação do ex-vice presidente da Caixa Fábio Cleto e deflagraram a Operação Sépsis, em julho do ano passado. Um dos presos na Sépsis foi Lúcio Bolonha Funaro. Ele foi considerado peça chave no esquema do FI-FGTS e ressurgiu ontem, agora no esquema com financiamentos junto a instituição, ao lado do deputado cassado Eduardo Cunha e do próprio Geddel.

Na época, recaíram suspeitas sobre empréstimos à Eldorado Celulose, controlada pela J&F, e a BR Vias, da família Constantino, dona Gol. BR Vias e Oeste Sul Empreendimentos imobiliários, também dos Constantino, voltaram a er investigada.

Grupos dizem que empréstimos foram legais

Apesar de serem apontadas pelo Ministério Público Federal como suspeitas de envolvimento em esquema de pagamento de propinas para obter financiamentos na Caixa, as empresas citadas na Operação Cui Bono? afirmaram ontem ainda aguardar notificação oficial. Por meio de notas, informaram que não foram alvo das diligências ontem. Também afirmaram que os empréstimos firmados com a Caixa foram lícitos.

A JBS disse que “pauta suas relações na ética e profissionalismo e tem convicção da regularidade das suas práticas”. A J&F, holding que controla a JBS, fez a mesma ressalva. “Todas as relações da J&F e de suas empresas com a Caixa foram feitas de maneira legal e transparente, a exemplo das práticas que adota com outros bancos públicos e instituições privadas.”

Sobre o diálogo entre o ex-ministro Geddel Vieira Lima e o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a J&F afirmou que “nunca procurou os políticos para pedir facilidade ou intermediação em quaisquer de suas operações financeiras”. “Causam estranheza o conteúdo exposto na conversa e o imenso interesse de ambos em interferir nas relações entre a Caixa e a J&F. Sendo assim, a companhia considera fundamental que as autoridades deem celeridade para o completo esclarecimento dos fatos.”

Esclarecimentos

Empresas da família Constantino, proprietária da Gol, também foram citadas: Oeste Sul, do setor imobiliário, BR Vias, de concessões de rodovias, e Comporte Participações, do setor de transportes. A Oeste Sul informou que não recebeu notificação, mas está à disposição para esclarecimentos. A BR Vias reafirmou que colabora com as autoridades para o total esclarecimento dos fatos. A empresa já tinha sido envolvida na Operação Sépsis. A assessoria da Comporte disse que o Ministério Público Federal “se confundiu”.

A Marfrig declarou que seus financiamentos foram lícitos. “A Caixa ou seus fundos não são acionistas relevantes da companhia e esclarece que as operações com tal instituição sempre foram feitas em condições de mercado, com custos equivalentes aos dos bancos privados, com garantias reais e sem qualquer privilégio. Todas as operações contratadas durante o período apurado nas investigações foram liquidadas no prazo, não restando em relação a estas débitos em aberto.”

O MPF citou as empresas Digibrás e Inepar, em recuperação judicial. Os procuradores disseram, porém, não terem encontrado dados que mostrem que os financiamentos foram concedidos. Os casos foram citados para demonstrar a relação entre Cunha, Geddel e o operador do mercado financeiro Lúcio Funaro.

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