Entenda a escalada de tensão entre Estados Unidos e Coreia do Norte

  • Por Thiago Navarro/Jovem Pan
  • 05/05/2017 15h16
  • BlueSky
Montagem - EFE e Divulgação Donald Trump e Kim Jong-un

Nesta sexta-feira (5), o governo do ditador norte-coreano Kim Jong-un acusou os Estados Unidos de tramar um plano para assassinar o seu “líder supremo”. Este foi mais um capítulo de uma série de eventos nos últimos meses que inflamaram os ânimos entre a potência americana e o isolado país, que insiste em avançar em seu programa nuclear, além de seus dois líderes. Entenda a cronologia da escalada de tensão presente nos últimos acontecimentos:

Ainda como presidente eleito e antes de assumir oficialmente a Casa Branca, em 9 de dezembro do ano passado, Trump acusou a Chinatradicional aliada norte-coreana, de não fazer o suficiente para controlar as ambições nucleares da Coreia do Norte. Os chineses “não estão ajudando com a ameaça da Coreia do Norte como eles deveriam”, argumentou.

Ameaça inicial

Em discurso de Ano-Novo, Kim disse que o país estava perto de testar o lançamento de um míssil balístico intercontinental que poderia chegar à costa dos Estados Unidos.

Em 12 de fevereiro, Pyongyang disparou um míssil balístico em sua costa leste na primeira provocação norte-coreana após Trump assumir a Presidência. Oficiais sul-coreanos viram no ato “uma demonstração de força para testar a administração Trump e as respostas dos EUA”. O Japão, outro aliado dos EUA na Ásia, lembrou que o “ato de provocação” ocorreu “logo depois” de reunião entre líderes norte-americanos e japoneses. Desta vez, Trump moderou as palavras e disse apenas “que os Estados Unidos estão 100% ao lado do Japão”.

A política norte-coreana começou o ano agitada quando Kim Jong Nam, irmão mais velho do líder Kim Jong-un, foi morto por armas químicas (gás VX, o mesmo usado por Saddam Hussein contra os curdos) em um aeroporto da Malásia em 13 de fevereiro. Pyongyang não aceitou a investigação malaia, que acusou mulheres indonésia e vietnamita, além de sete norte-coreanos. A Coreia do Sul acusou quatro espiões do Norte de envolvimento no caso.

Mulher que matou Kim Jong-Nam em aeroporto (Divulgação)

Em 6 de março, novo lançamento de mísseis de Kim. Foram quatro projéteis disparados no mar entre a Coreia do Norte e o Japão. “Com a Coreia do Norte nunca se sabe se é blefe ou para valer”, opinou o correspondente Jovem Pan Caio Blinder. Ele lembra em outra análise, ao vivo, que “Trump falou grosso no começo do mandato, mas não sabe o que fazer. Ele acusou Obama de ser ‘frouxo’ com o país (Coreia do Norte). Mas todos os presidentes anteriores foram ‘frouxos’ com a Coreia do Norte”.

Há 20 anos, Clinton realizou um estudo sobre a possibilidade de um ataque à Coreia do Norte. Resultado: haveria retaliação do país contra o vizinho do sul, cuja capital Seul fica a 45 km da fronteira. Um milhão de sul-coreanos poderiam ser mortos, algo inconcebível, lembra Blinder.

Aumenta o tom

Em 17 de março, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, disse que uma ação militar contra a Coreia do Norte é uma opção que está sobre a mesa, descrevendo estratégia mais dura do governo Trump. Isso aconteceria caso o país asiático “elevasse a ameaça de seu programa de armas a um nível que acreditamos requerer ação”, disse. No mesmo dia, Donald Trump disparou um tweet: “A Coreia do Norte está se comportando muito mal. Eles vêm ‘brincando’ com os Estados Unidos durante anos e a China fez muito pouco para ajudar

“Como confiar em um presidente que dispara tuítes a esmo?”, questionou Blinder.

Dois dias depois, em 19 de março, a Coreia do Norte realizou um teste em terra de um novo tipo de motor de foguetes de alta potência, enquanto o secretário dos EUA visitava a China.

Em evento que diz mais respeito à política externa de Trump do que diretamente à tensão com a Coreia do Norte, Trump disparou em 7 de abril mais de 50 mísseis contra base aérea síria, enquanto recebia o líder chinês, Xi Jinping, em seu clube de luxo na Flórida. A justificativa oficial era o recém uso de armas químicas pelo presidente sírio Bashar Al-Assad. A medida foi aprovada pela maioria dos norte-americanos e aumentou ligeiramente a baixa popularidade de Trump.

Dias de tensão

Em 12 de abril, Trump confirmou que os EUA enviaram frota de navios à península coreana e disse que Kim Jong-un e “está agindo de forma errada”.

Em desfile militar em 15 de abril, a Coreia do Norte exibiu novos mísseis de longo alcance, incluindo dois lançadores de mísseis nunca vistos antes, reforçando a ameaça do começo do ano. No mesmo dia, o vice-presidente do partido único disse que o país está “preparado” para uma guerra nuclear contra os Estados Unidos. “Estamos completamente preparados para enfrentar qualquer tipo de guerra com nossas armas nucleares se os EUA atacarem a península da Coreia”, disse o considerado número dois do regime Choe Ryong-hae.

No domingo, 16 de abril, um míssil disparado pela Coreia do Norte explodiu durante o lançamento. O vice-presidente dos EUA Mike Pence, em viagem à Coreia do Sul, disse que as “provocações do Norte” revelam riscos militares. O aumento da tensão fez com que o “Relógio do Juízo Final”, relógio simbólico mantido pelo Boletim de Cientistas Atômicos desde o fim da II Guerra Mundial, adiantasse 30 segundos, e a humanidade ficasse “a apenas dois minutos e trinta segundos da meia-noite apocalíptica”.

No dia seguinte, mais provocações e ameaças. O embaixador da Coreia do Norte na Organização das Nações Unidas (ONU), Kim In Ryong, criticou os exercícios militares dos EUA e acusou os norte-americanos de tornar a península coreana “no maior local de tensão do mundo” e criar “uma situação perigosa em que uma guerra nuclear pode estourar a qualquer momento”. Ele disse que a Coreia do Norte está “pronta para reagir”.

Em 17 de abril, o vice americano Mike Pence sentenciou: “a era da paciência estratégica (com a Coreia do Norte) acabou”. O termo era utilizado para designar a política externa do ex-presidente Barack Obama, de evitar a intervenção no conflito na península. Caio Blinder descreveu a situação como uma “crise dos mísseis em câmera lenta”, comparando as diferenças e semelhanças entre a troca de farpas e movimentos atual e a mais dramática crise dos mísseis entre EUA e União Soviética em 1962.

A China ainda tentou colocar “panos quentes” e disse em 18 de abril que os que EUA querem solução diplomática para impasse com Coreia do Norte, em um apelo pela paz.

Porta-aviões dos EUA chega próximo à península coreana (EFE/EPA/MCS 3RD CLASS MATT BROWN)

Do convés de um gigantesco porta-aviões, o vice dos EUA Mike Pence aumentou o tom do discurso contra a Coreia do Norte em 19 de abril: “Os Estados Unidos da América sempre irão buscar a paz mas, sob o governo Trump, o escudo está a postos e a espada está pronta”, disse Pence a 2,5 mil marinheiros a bordo do porta-aviões, na base naval americana de Yokosuka, na Baía de Tóquio. “Aqueles que desafiarem nossos objetivos ou nossa prontidão devem saber que vamos derrotar qualquer ataque e responder ao uso de qualquer arma, convencional ou nuclear, com uma devastadora e efetiva resposta americana”, disse.

A embaixadores do Conselho de Segurança da ONU, na Casa Branca, Trump disse em 25 de abril, dia em que um submarino nuclear dos EUA chegou a águas sul-coreanas, que o órgão deve se preparar para impor sanções mais duras à Coreia do Norte e falou em “finalmente resolver” a questão na península asiática. “Essa é uma ameaça real para o mundo, queiram falar disso ou não A Coreia do Norte é um grande problema global que temos que finalmente resolver. As pessoas colocaram vendas nos olhos por décadas, e agora é hora de resolver o problema”, disse o republicano.

A China mandou um recado mais duro em 27 de abril à Coreia do Norte e disse que poderia definir algum tipo de sanção ao país, caso fosse feito um novo teste de míssil nuclear. Trump reconheceu que a China está em comunicação constante com Pyongyang e que o governo chinês já havia solicitado a interrupção dos testes nucleares. “Existe uma chance de que acabemos tendo um grande, grande conflito com a Coreia do Norte”, disse Trump à Reuters. “Adoraríamos solucionar as coisas diplomaticamente, mas é muito difícil”, completou.

A Coreia do Norte informou em 1º de maio que vai impulsionar “à velocidade máxima” seu programa de armas nucleares, em resposta à crescente pressão exercida sobre o país por parte do presidente americano, Donald Trump.

Tom diminui?

O Papa Francisco defendeu ainda em 1º de maio que o acirramento das tensões entre Estados Unidos e Coreia do Norte deve ser resolvido pela via diplomática, e que para isso, a mediação é um caminho válido. Francisco sugeriu um país já com experiência em mediação e conciliação, como a Noruega, para tentar esfriar  a situação na região da Península Coreana. Ele expressou sua preocupação com a escalada de tensões e disse que acreditar que boa parte da humanidade poderia ser destruída em qualquer guerra generalizada.

Francisco se disponibilizou em receber Trump (foto: Angelo Carconi/EFE)

Donald Trump afirmou em 1º de maio que se encontraria com o ditador norte-coreano Kim Jong-Un sob as circunstâncias corretas. O presidente americano mudou sensivelmente o tom de retórica contra o governo de Pyongyang nos últimos dias. Em entrevista à agência Bloomberg, ele enfatizou que a conversa se daria em certas condições, sem especificá-las quais.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.