Entre crises e protestos, Venezuela é ainda chavista, mas modelo se enfraquece

  • Por Jovem Pan
  • 16/09/2015 13h24
Manifestantes entram em confronto com a polícia durante protestos violentos contra o governo do presidente venezuelano Agência EFE Manifestantes entram em confronto com a polícia na Venezuela

A canção Alma Llanera retrata um país na América do Sul marcado pela natureza e as belas paisagens. Uma música de mais de cem anos que exalta a identidade nacional da Venezuela, que nos últimos 15 anos deixou de se destacar pelas garças, campos e cachoeiras.

Desde 1999, com a Revolução Bolivariana, o país vizinho é doutrinado por uma ideologia do esquerda: o chavismo. Presidido por Hugo Chávez, o país passou por golpes de estado, plebiscitos, e com o dinheiro do petróleo, reduziu a pobreza.

Mas a derrocada econômica começou a dar sinais na era chavista. Em 5 de março de 2013, o comandante foi derrotado por um câncer, aos 58 anos. O anúncio é feito pelo então vice-presidente Nicolás Maduro, o encarregado de dar seguimento à política chavista.

O ex-motorista de ônibus, no entanto, não conseguiu evitar o caos na economia. Hoje, a Venezuela tem a maior inflação do mundo. A previsão do Fundo Monetário Internacional é de uma taxa superior aos 100% em 2015 e uma recessão de 7%.

Enquanto isso, Maduro diz estar sendo perseguido e explica que a inflação é induzida por comerciantes que querem destruir o país e o socialismo.

EFE

Nas ruas, o reflexo é imediato. Os venezuelanos enfrentam um dos maiores índices de violência do mundo e filas quilométricas nos supermercados. O governo tem aumentado o salário mínimo, mas também não consegue evitar pessoas que estoquem produtos ilegalmente.

Filha de brasileiros, a engenheira Carolina Guimarães mora há 27 anos na Venezuela e descreve a ação dos contrabandistas. “Tem pessoas que se dedicam a comprar os podutos da linha básica para em seguida vender por muito mais caro”.

Os distúrbios sociais e a inflação galopante não seguraram a popularidade do presidente, que atingiu a baixa de 24% em agosto deste ano. Por mais que muitos venezuelanos creditem os problemas na conta de Maduro, o professor de relações internacionais da USP, Alberto Pfeifer, lembra que o modelo venezuelano continua sendo chavista.

Quando Maduro assumiu, “o Estado estava dilapidado, a inflação já aumentava de maneira galopante, havia um desabastecimento generalizado” e setores da economia venezuelana, como o petrolífero, enfrentava crise. “Nicolás Maduro é a pessoa errada na hora errada”, disse o professor.

E que hora errada. Um ano após a morte de Chavez, uma revolta contra o governo explodiu após frequentes episódios de violência urbana.

Em fevereiro de 2014, os protestos contra o governo deixaram mortos dos dois lados e um mártir: Leopoldo López, preso e condenado na semana passada a 13 anos de prisão.

Leopoldo López, líder da oposição venezuelana, se entrega à polícia (EFE)

Para a ex-presidente da Corte Suprema da Venezuela, a condenação de López é emblemática. Cecília Sosa afirma que o chavismo não se comporta de forma democrática e que a sentença é uma ameaça a todos que quiserem contestar o governo. “O comportamento do governo não é democrático”, diz. “Eu diria que a sentença se amplia em um juízo a todo venezuelano que pretenda questionar através de um discurso político o desempenho do governo de Maduro”.

O episódio joga gasolina na crise venezuelana e promete agitar ainda mais as eleições legislativas, marcadas para o dia 6 de dezembro. Com a popularidade de Maduro em baixa, analistas preveem a maior derrota do chavismo desde 1999.

Mais de 15 anos depois, os seguidores modernos de Simón Bolívar avistam tempos mais difíceis. Sem Chávez, a figura do libertador se enfraquece.

Especial do repórter Jovem Pan Victor LaRegina

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