Epidemia de ebola ofusca Cúpula de Líderes Africanos em Washington

  • Por Agencia EFE
  • 04/08/2014 20h04

Teresa Bouza.

Washington, 4 ago (EFE).- A epidemia de ebola que castiga a África Ocidental ofuscou, nesta segunda-feira, o início da Cúpula de Líderes Africanos em Washington, que tem a participação de 42 chefes de Estado e que procura aumentar o investimento empresarial americano na região.

“A África do Sul não corre risco” de contágio, respondeu o presidente Jacob Zuma às perguntas do público durante uma conferência no Clube Nacional de Imprensa de Washington na qual insistiu que o país está “aberto aos investimentos, ao comércio e ao turismo”.

O discurso de Zuma ressaltou a dificuldade de mudança da percepção da África pelos Estados Unidos, um dos objetivos da cúpula organizada pelo governo do presidente Barack Obama para aumentar o protagonismo econômico americano na região.

“Queremos que mais companhias americanas invistam na África e trabalharemos duro para conseguir”, disse o chefe da diplomacia americana, John Kerry, durante um evento no Banco Mundial com ministros de Comércio africanos.

O próprio Obama lembrou na sexta-feira que seis das dez economias de mais rápido crescimento estão na África e destacou que países como China, Brasil e Índia estão à frente dos Estados Unidos no continente.

A China é o principal parceiro econômico da África, com trocas comerciais de US$ 200 bilhões anuais, muito acima dos US$ 85 bilhões dos Estados Unidos.

Para melhorar a situação, a Cúpula de Líderes Africanos dedicará um dia inteiro, esta terça-feira, às relações empresariais e comerciais entre Estados Unidos e África.

A secretária de Comércio dos Estados Unidos, Penny Pritzker, espera que a ênfase nos temas econômicos se traduza em acordos de US$ 900 milhões nos próximos dias.

Analistas como Peter Pham, diretor do centro de estudos Atlantic Council de Washington, disseram que ameaças como a do ebola podem ofuscar a mensagem de que a África está aberta ao investimento, e uma grande oportunidade como a deste encontro seria perdida.

“Se isso acontecer, e espero que não seja assim, uma grande oportunidade seria desperdiçada”, afirmou Pham em declarações ao “Wall Street Journal”.

Além do ebola, que já deixou 887 mortos em vários países da África Ocidental, a cúpula discutirá desafios como a fraqueza institucional, a corrupção, o abuso dos direitos humanos e o terrorismo islâmico.

Nesse sentido, Kerry, que teve reuniões bilaterais com os líderes de Burundi, Burkina Fasso e Líbia, entre outros, fez um pedido para lutarem contra a corrupção.

“Diria que lutar contra a corrupção é uma parte definitiva, crítica do processo para promover o crescimento econômico”, afirmou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos.

O vice-presidente americano, Joe Biden, usou termos semelhantes ao se referir à corrupção como “o câncer da democracia” durante um fórum com a sociedade civil.

Este evento foi o primeiro da Cúpula de Líderes Africanos, que hoje abordou também a situação das mulheres do continente, a segurança alimentar e a luta contra o tráfico de espécies selvagens.

Os 42 chefes de Estado africanos que viajaram para Washington participarão esta noite em um jantar no Congresso americano.

Amanhã acontecerá o Fórum Empresarial Africano em um hotel da capital e um jantar de gala na Casa Branca.

A cúpula continuará com uma intensa agenda de trabalho na quarta-feira no Departamento de Estado, onde serão analisados os problemas de segurança no continente, em que operam a Al Qaeda, o grupo terrorista nigeriano Boko Haram e os islamitas somalis do Al Shabab, entre outros.

A primeira-dama, Michelle Obama, e sua antecessora, Laura Bush, serão as anfitriãs das esposas dos líderes africanos em um simpósio no Centro Kennedy de Washington, na quarta-feira.

Obama deve dar uma entrevista coletiva no dia, ao fim da cúpula.

Filho de um economista do Quênia e primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Obama antecipou que o evento, que começou hoje, será “impressionante”.

A Casa Branca estendeu convites à maioria dos líderes da região. Entre as contadas exceções que não foram convidadas estão o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe; o do Sudão, Omar ao-Bashir; a presidente interina da República Centro-Africana, Catherine Samba-Panza, e o da Eritréia, Isaias Afewerki. EFE

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