Epidemiologista nigeriano não acredita que o ebola se estendará no Ocidente
Javier Roibás Veiga.
Rio de Janeiro, 10 out (EFE).- O prestigiado epidemiologista nigeriano Chikwe Ihekweazu afirmou nesta sexta-feira que considera “muito difícil” que o vírus do ebola se estenda pelo Ocidente, devido à qualidade de seus equipamentos e de suas instalações hospitalares.
“É impossível isolar os países e seguramente acontecerão novos casos, mas é muito difícil que se produza uma grande expansão do vírus no Ocidente se tudo correr bem”, disse Ihekweazu em entrevista à Agência Efe no Rio de Janeiro.
“O mais difícil de tudo é lidar com a histeria coletiva que as doenças infecciosas geram”, comentou o especialista, um dos assessores do governo nigeriano na gestão da crise do ebola no país e que participa nesta semana da conferência TEDGlobal 14.
O epidemiologista, cuja presença no Rio coincidiu com o anúncio do Ministério da Saúde de que isolou em um hospital desta cidade um guineano que é o primeiro suspeito de ebola na América Latina, afirmou que o esforço dos governos deve concentrar-se em “cortar a cadeia de contágios entre humanos”.
“Não há provas que o vírus possa ser transmitido por ar ou água e também não há provas que isso possa ocorrer. Em teoria, qualquer vírus pode sofrer uma mutação, mas esse processo é muito raro. Há cerca de sete meses que começou a crise (na Nigéria) e o vírus não mudou de modo algum ainda”, disse.
Em relação ao caso da auxiliar de enfermagem contagiada em um hospital de Madri, o cientista assegurou que a pessoa que corre “maior risco” é o marido dela devido à “possível troca de fluidos corporais”.
Do mesmo modo, Ihekweazu lembrou que o prioritário agora é manter em observação durante três semanas todas as pessoas que tenham podido manter contato direto com a auxiliar de enfermagem e realizar um acompanhamento diário de sua evolução para evitar que “a cadeia de contágio se reproduza”.
“Além dos testes clínicos, também é preciso apoiar moralmente estas pessoas. Isso envolve um montão de gente e imagine o quão difícil é em um país pobre”, lamentou o epidemiologista, ressaltando que na Nigéria estão ocorrendo alguns problemas de “índole social”.
“Muitas vezes uma mãe infectada é repudiada por sua própria família. É preciso tratar este assunto com compaixão”, salientou.
Em relação à crise do ebola nos países africanos, o especialista assegurou que é “bastante diferente”, uma vez que ali “muitos hospitais não dão confiança aos cidadãos” e, na maioria dos casos, “não estão preparados para enfrentar este desafio por serem países com muito poucos recursos econômicos”.
O cientista também indicou que é necessário que os meios de comunicação tenham uma “visão global” do tema e que evitem abordá-lo como uma problemática “local”.
“Evidentemente seguirão acontecendo movimentos de gente de países nos quais existem muitos casos de ebola rumo a outros lugares. Na realidade, cada caso é uma ameaça para todos porque para o vírus não existem as fronteiras. Devemos colaborar de uma forma global para resolver a crise”, opinou.
Quanto à possibilidade que os animais possam transmitir a doença aos humanos, o nigeriano não a descartou, mas apontou que é algo bastante improvável.
“Ainda não houve nenhum caso documentado. Não digo que seja impossível, mas não ocorreu nunca. Temos que nos concentrar em cortar a transmissão entre pessoas”, destacou Ihekweazu.
“Na realidade não ocorreu nada novo com o vírus. A única coisa que mudou foi o contexto. Antes, a maioria dos casos acontecia em um ambiente rural e agora se deu o salto ao espaço urbano”, disse o especialista.
Em torno da possibilidade da criação de uma vacina, o epidemiologista indicou que há uma grande empresa farmacêutica “perto de alcançá-la” e apontou que o avanço nesse aspecto ocorre porque “antes não havia pacientes nos quais experimentar”.
Chikwe Ihekweazu fez parte do programa principal da prestigiada conferência anual da TEDGlobal 14, na qual se reúnem especialistas de diversos campos do conhecimento e que terminou hoje no Rio de Janeiro. EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.