Erdogan aposta em igualdade política e criação de dois Estados no Chipre

  • Por Agencia EFE
  • 01/09/2014 17h04

Flora Alexandrou

Nicósia, 1 set (EFE).- O presidente da Turquia, Recep Tayipp Erdogan, apoiou nesta segunda-feira na sua visita à República Turca do Norte do Chipre (RTNC), só reconhecida por Ancara, uma solução ao conflito cipriota baseada na igualdade política e em dois Estados que formem uma federação organizada sob os parâmetros da ONU.

“Queremos uma solução permanente e justa. Como países fiadores, Grécia e Reino Unido devem fazer o mesmo. Apoiamos a paz e nosso objetivo é que as negociações sigam e finalizem com um referendo simultâneo”, declarou Erdogan em entrevista coletiva.

A visita do líder turco, que elegeu a RTNC para sua primeira viagem oficial ao exterior como presidente -da mesma forma que já fizeram seus antepassados no cargo-, cobra especial significado, como ele mesmo reconheceu em sua chegada à parte ocupada de Nicósia.

Faz apenas sete meses que os líderes das duas comunidades, o grego-cipriota Nikos Anasatasiadis e o turco-cipriota Dervis Eroglu, retomaram as negociações de paz após dois anos de suspensão.

Erdogan insistiu na necessidade de Grécia e Reino Unido, que são junto à Turquia países legalmente fiadores da soberania do Chipre desde sua independência dos britânicos em 1960, colaborarem na busca de uma solução, pois “a situação não pode continuar assim”, assegurou.

“Uma solução seria beneficente para ambas as partes e faria do Mediterrâneo oriental uma zona de cooperação”, afirmou.

O Chipre está dividido desde 1974, quando o Exército turco invadiu a parte setentrional da ilha, que segue ocupada por tropas turcas, sem que os esforços da comunidade internacional e da ONU -que mantém uma força de paz no país- tenham alcançado solucionar o conflito.

A República do Chipre, de maioria grega, tem o reconhecimento da comunidade internacional e desde 2004 é membro da União Europeia, enquanto a RTNC só é reconhecida pela Turquia.

Eroglu, que também participou da entrevista coletiva, agradeceu o apoio da Turquia e mencionou os projetos aprovados pelo Executivo turco para abastecer com água e eletricidade o norte do Chipre.

Além disso, o líder turco-cipriota lembrou que se trata da primeira visita oficial ao estrangeiro de Erdogan, que foi o primeiro presidente da Turquia eleito por votação popular.

A reabertura do diálogo se materializou em uma declaração conjunta na qual os líderes das duas comunidades cipriotas chegaram a um princípio de acordo.

Segundo esta declaração, a unificação do Chipre passa pela criação de um Estado federal com duas zonas e duas comunidades surgido de dois Estados constituintes -um grego-cipriota e outro turco-cipriota- embora com uma única soberania, uma só cidadania e um só caráter internacional.

Em uma tentativa de conseguir uma aproximação de posturas com a Turquia, Anastasiadis enviou a Erdogan uma carta através do ministro das Relações Exteriores grego, Evangelos Venizelos, que a entregou em pessoa no dia de seu juramento como novo chefe de Estado turco.

Segundo a imprensa local, em dita carta Anastasiadis sustentou que uma solução do conflito cipriota também forneceria benefícios à Turquia e pediu a Erdogan seu envolvimento pessoal no assunto.

No entanto, perguntado hoje pelos meios de comunicação, Erdogan assegurou não conhecer ainda o conteúdo da carta e evitou se pronunciar a respeito.

As visitas de altos cargos turcos ao norte do Chipre não são vistas com bons olhos pelo governo e os partidos grego-cipriotas, que as consideram ilegais e provocadoras.

O porta-voz do governo do Chipre, Nikos Christodulidis, tachou a visita de “ilegal” e afirmou que as celebrações “não ajudarão para a criação de uma mudança necessária na fase atual”, referindo-se ao estado das negociações.

O governo cipriota está “à espera de ver” se realmente o novo presidente Turquia irá adotar “uma participação ativa”, disse Christodulidis.

Em 19 de junho, Abdullah Gül, que acabava de abandonar a presidência turca, visitou a autoproclamada RTNC para reiterar o apoio de Ancara aos turco-cipriotas.

Os líderes grego e turco-cipriota tinham previsto se reunir novamente amanhã, mas adiaram o encontro a pedido do novo enviado especial da ONU ao Chipre, o norueguês Espen Barth Eide, que quer se encontrar primeiro com ambos.

Eide, nomeado para este cargo em 22 de agosto pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, deve visitar o Chipre entre 5 e 8 de setembro, segundo anunciou a missão da ONU no Chipre, UNFICYP. EFE

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