Escândalos e diálogo de paz dominam 1º debate presidencial na Colômbia

  • Por Agencia EFE
  • 23/05/2014 02h35
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Bogotá, 22 mai (EFE).- Os cinco candidatos à Presidência da Colômbia estiveram frente a frente nesta quinta-feira no primeiro debate televisivo da corrida eleitoral, cuja votação acontece no próximo domingo, na qual os escândalos que marcaram a campanha e o processo de paz com as Farc foram os principais temas.

O debate, transmitido no horário nobre pelo canal “RCN”, foi tenso em alguns momentos, mas menos do que o esperado, em uma semana em que houve um aumento da “guerra suja” nas campanhas do candidato à reeleição Juan Manuel Santos e seu opositor Óscar Iván Zuluaga.

Zuluaga, do movimento Centro Democrático, é apoiado pelo ex-presidente e senador eleito Álvaro Uribe (2002-2010).

Santos aproveitou sua primeira réplica para questionar Zuluaga sobre o escândalo que envolveu sua campanha após a descoberta de seus vínculos com o hacker Andrés Sepúlveda, detido pela Promotoria e acusado de interceptações ilegais para tentar sabotar o processo de paz do governo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

“Por que não diz a verdade ao país, por que continua se esquivando da verdade?”, perguntou Santos a Zuluaga, que nos últimos dias esteve desaparecido do cenário político enquanto crescia o escândalo por seu envolvimento com Sepúlveda, documentado em um vídeo divulgado pela imprensa, e que é negado taxativamente pelo candidato de oposição.

“Sempre estive dentro da legalidade, não tenho que recorrer a nada que esteja à margem lei para poder estabelecer minhas posições”, afirmou Zuluaga, ao argumentar que suas críticas ao processo de paz que acontece em Cuba são conhecidas e não precisa das informações de inteligência obtidas pelo hacker.

Zuluaga insistiu que “mostrou sua cara para o país” sem mentiras neste caso e reiterou que o polêmico vídeo no qual aparece falando sobre interceptações de inteligência com Sepúlveda é “uma armadilha” e “uma montagem” para prejudicar sua campanha, pois as pesquisas indicam que ele é o principal adversário de Santos.

Para Zuluaga, o citado vídeo, gravado de forma clandestina em uma reunião que aconteceu há cerca de um mês com Sepúlveda, “é um atentado contra a democracia colombiana”.

O candidato do ex-presidente Uribe, líder da oposição ao atual governo, contra-atacou e exigiu de Santos a verdade sobre as denúncias do suposto financiamento ilegal de sua campanha presidencial em 2010, na qual poderia ter entrado dinheiro do narcotráfico.

Mencionou o caso do publicitário venezuelano Juan José Rendón, que neste mês deixou o cargo de assessor de campanha de Santos, após as notícias que supostamente recebeu US$ 12 milhões de narcotraficantes em 2011 por uma mediação frustrada com o governo para que os criminosos se entregassem à Justiça.

Uribe denunciou a “hipótese” que Rendón tenha fornecido US$ 2 milhões à campanha de Santos em 2010 para cobrir dívidas, e insinuou que essa quantia poderia ter origem obscura.

“Eu já expliquei ao país”, disse Zuluaga sobre seu escândalo, e acrescentou: “Queria que o senhor tivesse essa mesma atitude em relação à denúncia real dos US$ 12 milhões”.

“A minha campanha não teve um único peso (moeda) do narcotráfico. Eu não negocio, nem falo, com os narcotraficantes. Os submeto à Justiça, os capturo e os coloco na prisão e, se eles resistem, acabo com eles”, respondeu Santos. O atual presidente, que foi ministro da Defesa no governo de Uribe, considerou essa acusação sem provas um ato “descarado e cínico” e chamou o ex-mandatário colombiano de “mentiroso compulsivo”.

O momento mais quente do debate foi quando Santos questionou a autonomia de Zuluaga ao afirmar: “Eu não fui uma marionete de Uribe”, e o opositor respondeu: “Sou uma pessoa independente e com caráter, me respeite”.

Após essas trocas de acusações, os outros três candidatos, Enrique Peñalosa, da Aliança Verde; a esquerdista Clara López, do Polo Democrático Alternativo, e Marta Lucía Ramírez, do Partido Conservador, entraram na discussão, mas sobre o outro grande tema da noite, o processo de paz.

“É uma lástima que as negociações em Havana sejam utilizadas para as campanhas”, disse o candidato verde em uma crítica a Santos e Zuluaga.

Clara, mais comedida, pediu “que chegue à Presidência alguém que possa agir com serenidade”, definiu a paz como “o bem supremo” pelo qual trabalhará se vencer as eleições e enfatizou a educação como “a grande mudança necessária para a Colômbia”.

Já Marta Lúcia teve como momento mais destacado sua exigência de que as Farc demonstrem vontade de paz e, para isso, devem “suspender o recrutamento de crianças e as ações terroristas contra a população civil”.

Os cinco discutiram também sobre medidas para combater a mineração ilegal, as relações com a Venezuela e, muito superficialmente, sobre saúde, educação e a reforma da Justiça. Amanhã, os candidatos voltarão a se encontrar em um último debate em outra emissora de televisão. EFE

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