Escândalos sexuais e de corrupção abalam a polícia de Israel
Elías L. Benarroch.
Jerusalém, 7 fev (EFE).- O governo israelense avalia nomear pela primeira vez uma mulher como chefe da Polícia Nacional, após a onda de escândalos sexuais e de corrupção que vêm abalando a estrutura da corporação – que no último ano perdeu uma série de seus comandantes mais experientes.
“Nesse ritmo vamos ficar sem nenhum comissário”, disse à Agência Efe um agente aposentado após o último caso de assédio sexual vir à tona nesta semana.
As suspeitas contra o comandante-chefe de um dos distritos policiais deixaram a população estarrecida. Não se explica como o órgão encarregado de fazer valer as leis e a ordem do país pode ter sucumbido no último ano a essa sequencia de escândalos.
O comandante em questão estava sendo investigado desde outubro de 2014, mas apenas na semana passada os membros da Unidade de Investigações Internas, organismo dependente do Ministério da Justiça, puderam levar a investigação adiante, graças à colaboração das pelo menos cinco policiais mulheres, que o comandante supostamente assediou.
Segundo o jornal “Yedioth Ahronoth”, as policiais se negavam a expor o comandante por medo de perder o emprego, mas a acusação na semana anterior – também por assédio sexual – do subchefe da polícia, o comissário Nissim Mor, as encorajou a falar.
“Quando viram que um oficial da patente de Mor foi tratado sem regalias ou favoritismos, elas deixaram de ter medo”, declarou ao jornal um oficial envolvido na investigação.
Mor, braço direito do chefe de polícia, Yohanán Danino, foi acusado de assédio sexual contra nove mulheres sob seu comando, em fatos que nem mesmo o melhor filme hollywoodiano poderia ter inventado.
Dos 18 comissários da polícia israelense, oito estão atualmente envolvidos em escândalos, cinco deles por assédios sexuais e os outros por corrupção, suborno e tráfico de influência.
Mais abaixo na hierarquia da polícia, há também uma série de subcomissários e oficiais que também enfrentam denúncias de subordinadas com as quais supostamente tentaram manter relações sexuais, dentro ou fora do ambiente de trabalho.
“Nós sabíamos e ficamos calados”, admitiu Hillel Partok, ex-porta-voz da polícia, que, em uma coluna de um jornal local, afirmou que a gravidade da situação era conhecida, mas “justamente na polícia” não havia um plano para combater esse tipo de abuso.
O agente aposentado explicou à Agência Efe que o serviço policial normalmente “inclui muito atrito entre homens e mulheres em patrulhas e fora de casa, em todo tipo de eventos e hotéis, inclusive em horas noturnas, e se não houver planos de prevenção, acontece este tipo de fenômeno indesejável”.
Em outro caso, aberto esta semana, o chefe de uma delegacia no sul do país, casado e pai de dois filhos, assediou três subordinadas, uma delas grávida.
De acordo com declarações para a imprensa local da agente assediada, o delegado disse para ela que tinha “a fantasia de ter relações sexuais com uma grávida”.
Um relacionamento amoroso entre um comissário e uma agente veio à tona no ano passado, mas a policial, que aparentemente era casada, renunciou ao cargo para evitar uma investigação contra os dois.
“O Ministério de Segurança Pública deverá investigar como é possível que semelhante putrefação moral se tenha expandido pela polícia; como os comandantes mais altos, que deveriam servir de exemplo de lei e ordem, são investigados um após outro e apontados no meio da vergonha”, publicou o jornal Yedioth Ahronoth ao descrever a situação.
Por sua vez, o reconhecido colunista Dan Margalit, do jornal “Israel Hayom”, disse que “a geração veterana da polícia nunca chegou a assumir as mudanças nas relações trabalhistas modernas entre homens e mulheres, como aconteceu no exército israelense”.
A necessidade de “limpar a casa”, como sugerem os principais meios de comunicação, exigiu uma necessidade imediata de substituição do atual chefe da polícia, e não se descarta a possibilidade que, pela primeira vez, o governo israelense nomeie uma mulher para o cargo. EFE
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