Escola Dozier: uma viagem ao reformatório que se tornou cenário de horrores

  • Por Agencia EFE
  • 12/08/2014 10h22
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Emilio J. López.

Miami, 12 ago (EFE).- A identificação de uma das 55 partes encontradas de corpos de meninos em covas não identificadas na Escola Dozier da Flórida (Estados Unidos), que contava com cabines de confinamento, lança luz sobre o passado obscuro deste reformatório público, suspeito de ter testemunhado crimes brutais.

George Owen Smith é o nome de um menino que tinha 14 anos quando foi enviado por seus pais à Florida School for Boys (também conhecida como Arthur G. Dozier School for Boys) situada na pequena e rural cidade de Marianna, no noroeste da Flórida, em 1940. Sua família não voltou a vê-lo com vida.

Em dezembro de 1940, a mãe de Owen, Frances Smith, escreveu uma carta ao superintendente do reformatório, Millard Davidson, perguntando sobre o estado de seu filho. A única resposta que obteve do supervisor foi que ninguém sabia onde ele estava.

Parte do corpo do garoto foi achada em uma cova sem identificação onde foi enterrada de forma apressada, envolvida apenas em uma mortalha. Assim os cientistas da Universidade do Sul da Flórida (USF) descreveram a exumação do corpo. Desde 2011, eles examinam os registros e as identidades de dezenas de meninos lá enterrados.

Trata-se das primeiras partes exumadas e identificadas das 55 ossadas encontradas em covas que serão devolvidas a parentes. No caso de Owen, sua irmã, Ovell Krell, se mostrou muito comovida em uma conferência na qual os pesquisadores da USF revelaram alguns resultados. A identificação do menino foi possível graças a testes de DNA feitos na irmã e comparados com amostras extraídas do esqueleto.

“Pode ser que nunca saibamos as circunstâncias completas sobre a morte de Owen ou por que seu caso foi tratado dessa maneira”, reconheceu Erin Kimmerle, antropóloga legista e responsável pela equipe da USF que realiza o trabalho de campo, escavações e pesquisa científica.

Contudo, ela ressaltou que o “menino receberá, após todos esses anos, o direito à dignidade merecida por todo ser humano: o de ser enterrado com seu próprio nome e que sua existência seja reconhecida”.

A identificação do menino representa um avanço significativo no projeto, que recebeu autorização do estado para que se estender até 2015, devido à gravidade dos fatos e à enorme preocupação gerada.

Na documentação, de mais de 100 de páginas, a USF apresentou uma entrevista com Arthur Dozier realizada em 1949. Nela, ele descreve “como o colégio tinha se transformado em uma prisão e em uma escola industrial”, menciona as “celas escuras” para isolamento dos meninos mais rebeldes e descreve vigilantes armados com pistolas.

O antigo reformatório, que também abrigou órfãos e crianças de até cinco anos, é objeto de investigação depois que antigos alunos dos anos 50 e 60 começaram, em 2005, a denunciar que funcionários e guardas praticavam castigos físicos e abusavam sexualmente deles. Contudo, até o momento, a pesquisa científica em curso não pôde confirmar esses fatos, disse à Agência Efe Lara Wade-Martínez, porta-voz da USF e do projeto em andamento.

“Eram apenas crianças. Um deles tinha bolinhas de gude no bolso”, comentou Pam Bondi, procurador-geral do estado, em referência a um dos corpos exumados.

Em 1929, o reformatório dispunha de um edifício de detenção com 11 quartos de cimento e dois módulos: um para estudantes brancos e outro para os estudantes negros, construído para abrigar alunos violentos.

Agora, a investigação e as escavações realizadas no denominado Boot Hill Cemetery do reformatório pode “abrir um debate e um diálogo sobre os temas raciais, o castigo e a segregação” que os alunos do antigo colégio Dozier sofreram, afirmaram os autores do estudo.

O documento detalha episódios como o de um grave incêndio em 1914 em um dormitório do colégio, que matou muitos meninos, e surtos de doenças infecciosas.

A USF já divulgou uma relação de meninos enterrados no antigo reformatório aberto em 1900. A lista inclui nome de menores enterrados no antigo reformatório juvenil, que durante algum tempo foi o maior dos Estados Unidos e manteve, até 1960, dois campi segregados. EFE

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