Escolas estaduais abrigam maioria, mas a melhor é só a 147ª do Enem

  • Por Ana Cichon/Jovem Pan
  • 04/10/2016 14h29
Suami Dias/ GOVBA Suami Dias/ GOVBA Apenas três das 100 melhores escolas no Enem 2015 são públicas

No Brasil, as redes estaduais concentram a maior parte dos estudantes de ensino médio. No entanto, elas continuam sendo elo fraco da educação no Brasil. Nesta terça-feira (04), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou os dados do Enem 2015. No ranking de quase 15 mil escolas, públicas e privadas, as estaduais são maioria – 8,6 mil. No entanto, nenhuma delas figura entre as 100 melhores. A primeira a despontar na lista é o Colégio Estadual Tiradentes, em Porto Alegre (RS), em 147º lugar. Mas mesmo quando se avalia apenas o universo das escolas públicas, as estaduais não compõem a elite. As federais, que são poucas, se destacam.

Para o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Araújo e Oliveira, a razão para este resultado é simples: “as federais atraem mais alunos”. Com qualidade equiparada às escolas privadas, as federais contam com alunos de alto poder socioeconômico, que as procuram pelas boas condições oferecidas, e isso gera um círculo virtuosoa escola é boa porque atrai bons alunos e atrai bons alunos porque é boa.

 “A melhor escola não é necessariamente a 1ª no ranking. A 1ª é a que atrai melhores alunos”, resume João Batista. Ele ainda aponta que o dinheiro faz a diferença e “compra” algumas coisas, como condições melhores de estudo. “O Enem por escola demonstra o quanto o Brasil reproduz desigualdades. As escolas que vão bem, são escolas de elite”, diz o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.

E melhorar as condições nas escolas públicas, para João Batista, é “esperar um milagre”. “É uma questão estatística. O conjunto das estaduais vai ter um nível pior, pois recebe o grosso dos alunos, é mais heterogênea e isso puxa a média para baixo.”

Formação dos professores – O Enem também mostra que pedagogia não basta, professor tem de saber a disciplina que ensina. Ou seja, precisa ter formação específica. Professores com esse tipo de formação ajudam as escolas onde lecionam a alcançar posições mais altas no exame.  

 “Esse dado é importante porque mostra que as escolas de alto custo, de elite, acabam optando por professor licenciado em uma área específica, como Matemática”, comenta Daniel Cara. “No ensino básico, perdemos muitos talentos, que seriam bons professores, para o mercado, onde conseguem ganhar mais que lecionando”.

João Batista Araújo argumenta que a formação específica não é exatamente o mais importante: “Não adianta ter professor com PhD em física se o aluno não sabe o conteúdo”. Ele relata que apenas 15% dos alunos do 9º ano dominam o conteúdo aplicado em sala de aula, e chegam ao Ensino Médio muito aquém. “O Brasil tem problemas anteriores, e não vai melhorar se não pensar na base”, reforça.

Escolas privadas – O Enem continua mostrando um amplo domínio das escolas particulares: das 100 primeiras colocadas, apenas três são públicas.

Os resultados também mostram que um grupo de colégios transformou em negócio o bom posicionamento no Enem. São colégios como o Objetivo Integrado, primeiro colocado no ranking. Muitas vezes, os alunos permanecem apenas um ano nesses colégios – o ano que antecede a realização do exame. É importante lembrar que a nota do Enem é componente fundamental no acesso dos alunos às Universidades Federais.

Em entrevista à Veja, o especialista Marcos Magalhães destacou o funcionamento deste nicho: “tornaram-se espécies de cursinhos, instituições focadas fundamentalmente no Enem. Ensinam macetes para o exame, dão dicas de como fazer um bom teste e, em geral, usam muito do marketing para angariar novos alunos”

Notas – No computo geral, o Enem continua mostrando um quadro ruim da educação brasileira. Houve recuo nas médias de quase todas as disciplinas. Em Matemática, a nota de Matemática caiu de 481 pontos em 2014 para 475 pontos. Em Ciências da Natureza, a queda foi de nove pontos: 487 para 478 pontos. Já em Linguagens, saiu de 511 para 504.

Outras duas apresentaram melhora: Ciências Humanas e Redação. Em Ciências Humanas, o aumento foi de 546 pontos para 555 pontos. Em Redação, houve a maior mudança (de 52 pontos): a nota subiu de 491 pontos para 543 pontos.  No entanto, o resultado está longe de ser satisfatório. Uma fração ínfima das quase 15 mil escolas que participam do exame obteve nota máxima nessa prova: 115.

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