Escutas sobre Kerry e Hillary comprometem serviços de espionagem da Alemanha

  • Por Agencia EFE
  • 16/08/2014 13h22
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Gemma Casadevall.

Berlim, 16 ago (EFE).- Os serviços de espionagem da Alemanha ficaram comprometidos neste sábado pelas revelações que apontam que escutaram “por engano” conversas de Hillary Clinton e John Kerry e fizeram um acompanhamento sistemático da Turquia, em contradição com a afirmação da chanceler Angela Merkel de que não se espiona aliados.

Um mês após pedir ao chefe da CIA que deixasse a Alemanha por práticas de espionagem “entre amigos” e da detenção de um espião duplo alemão que vazou aos EUA documentos internos, os serviços secretos da chanceler se viram obrigados a dar explicações sobre suas próprias escutas.

Primeiro foram as informações divulgadas ontem pelo jornal “Süddeutsche Zeitung” e pelas emissoras públicas “NDR” e “WDR”, segundo as quais o BND (serviço de espionagem exterior) tinha captado uma conversa telefônica de Hillary, quando era secretária de Estado dos EUA, com o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

A esta escuta aparentemente “fortuita”, cuja existência revelou uma análise dos documentos vazados pelo espião duplo detido, se seguiram hoje outras informações, agora da revista “Der Spiegel”, que indicam que não se tratou de um caso excepcional.

Pelo menos em outra ocasião houve uma escuta “por engano”, além de comprometedora, ao sucessor de Hillary e atual secretário de Estado, John Kerry, enquanto a Turquia, membro da Otan desde 1952, está entre os “alvos prioritários” da espionagem alemã.

Faltando explicações do BND, os próprios meios de comunicação que divulgaram estas informações partem do fato que as escutas de ligações via satélite de Kerry e Hillary ocorreram através de sua rede de observação em regiões em conflito.

A de Kerry teria sido em 2013, através da rede de escutas no Oriente Médio, enquanto a de sua antecessora aconteceu aparentemente em uma viagem de Hillary, em 2012, para tratar a situação na Síria.

Tanto a “Der Spiegel” como o “Süddeutsche Zeitung” destacam que se trataram de escutas fortuitas que, inexplicavelmente, não foram apagadas em seguida, como teria sido o correto.

Também apontam que estes tipos de situações aconteceram anteriormente – inclusive durante décadas – e que, à margem de sua suposta gravidade, deram a Kerry o que ele precisava, quando seu colega alemão, Frank Walter Steinmeier, lhe pediu para esclarecer os casos de espionagem em massa por parte dos EUA sobre seus aliados.

A fonte dessas comprometedoras informações são os 218 documentos entregue aos EUA pelo agente identificado pela imprensa como Markus R., detido por ordem da Procuradoria Federal em julho e que confessou parte das acusações.

Fortuitas ou não – no caso da Turquia -, estas ações comprometem o BND e reforçam a opinião entre a oposição que nem Merkel nem seu governo querem se aprofundar no assunto, já que seus serviços de espionagem também realizam essas práticas.

As informações jornalísticas entram assim no delicado tema das escutas – ao telefone celular de Merkel, por um lado, e às comunicações de milhões de cidadãos, pelo outro – que minaram as relações da Alemanha com os EUA.

Merkel insistiu então, e repetiu cada vez que foi perguntada, que a espionagem entre aliados é intolerável.

No entanto, até agora Washington não deu respostas sólidas aos reiterados pedidos de esclarecimento apresentadas pela Procuradoria Federal que investiga o espião duplo.

A existência dessas escutas, isoladas ou não, explicaria agora por que Berlim ou a chanceler não puseram maior contundência nesses pedidos, enquanto o opositor Partido Verde exigia hoje o esclarecimento total do assunto.

Os verdes, assim como a esquerda, pediram insistentemente a concessão de asilo na Alemanha ao antigo analista da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA, Edward Snowden, para que contribua para essas investigações.

O governo, no entanto, lembrou que existem acordos bilaterais de extradição, o que impede qualquer tentativa de garantir a Snowden – atualmente exilado na Rússia – que não seria entregue aos EUA. EFE

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