Espanha ganha novo rei no ano em que bipartidarismo foi posto em xeque

  • Por Agencia EFE
  • 17/12/2014 20h30
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Jesus García Becerril.

Madri, 17 dez (EFE).- A Espanha teve um novo rei – Felipe VI – em 2014, um ano no qual o sistema político das três últimas décadas, baseado no bipartidarismo, começou a ser questionado no país, dando visibilidade a vários casos de corrupção e para as aspirações separatistas dos nacionalistas catalães.

Em 2 de junho, Juan Carlos I surpreendeu a todos com o anúncio de sua renúncia após 38 anos e meio de reinado para passar o cargo a seu filho Felipe.

O monarca, de 76 anos, cedeu assim a coroa a seu filho de 46 com a justificativa de que queria abrir uma “etapa de esperança” que combinasse a experiência e a vontade de “uma geração mais jovem, com energia renovada e decidida a empreender com determinação as reformas demandadas pela atual conjuntura”.

A decisão de Juan Carlos I, no entanto, foi precedida por anos difíceis para a monarquia espanhola. A figura do rei, tradicionalmente respeitada, começou a ser criticada, ao mesmo tempo em que sua saúde se fragilizava.

Felipe VI, que desde a infância foi preparado para ser rei, foi proclamado em 19 junho. Expressou sua vocação para o serviço e o desejo de ter “uma conduta íntegra, honesta e transparente”.

A frase pode ser relacionada ao chamado “caso Nóos”, aberto pela Justiça para investigar a segunda irmã do atual rei, a infanta Cristina, e seu marido, Iñaki Urdangarin, acusados de corrupção.

Um juiz ainda deve decidir se Cristina de Bourbon será julgada por crimes fiscais. No entanto, o Ministério Público pede 19 anos de prisão para Urdangarin por corrução, fraude fiscal e lavagem de dinheiro.

Apesar do episódio, o novo rei melhorou a imagem da monarquia em relação aos últimos meses de seu pai, se desdobrando em uma intensa agenda no período.

Um dos lugares que ele visitou para participar de atos públicos foi a Catalunha, onde vários partidos nacionalistas têm tentado realizar neste ano uma consulta popular para decidir sobre a independência do território.

Por duas vezes, o Tribunal Constitucional paralisou a tentativa de referendo, apesar de os nacionalistas terem promovido em 9 de novembro um exercício de participação popular. Mais de 2,3 milhões de pessoas votaram em urnas “simbólicas”, sem valor legal.

A iniciativa é rejeitada pelo governo espanhol, do PP (centro-direita) e pelo primeiro partido da oposição, o PSOE (socialista), por considerarem a medida inconstitucional.

A Carta Magna foi constantemente invocada no período por ambos os lados, no ano da morte de um de seus elaboradores, Adolfo Suárez, que conduziu com habilidade a transição à democracia.

A própria transição e a Constituição são agora colocadas em xeque, seja pelos nacionalistas catalães ou pelo Podemos, partido que se fortaleceu em 2014 com a intenção de acabar com o bipartidarismo do PP e PSOE.

Com uma estratégia baseada na crítica aos partidos tradicionais, consideradas por eles a “casta”, o Podemos foi a surpresa das eleições ao parlamento Europeu de maio, com quase 8% dos votos.

No entanto, as pesquisas de final de ano dão ao partido mais de 20% das intenções de voto, quase o mesmo patamar dos populares e socialistas.

Embora apresentem propostas que podem ser consideradas de esquerda, o Podemos também fez sucesso entre os eleitores mais moderados, especialmente os revoltados com a corrupção, que neste ano teve vários casos de destaque.

O PP tem sido investigado por um suposto caixa dois e um caso de corrupção conhecido como “Gürtel”. O juiz responsável pelo caso afirma que o partido se beneficiou de determinadas contribuições, fato negado pelos governistas.

Já os socialistas têm problemas em seu principal reduto, a região de Andaluzia, onde são investigados pela Justiça em um caso de corrupção em concessões públicas.

Até os nacionalistas catalães viram sua principal figura, o ex-presidente regional Jordi Pujol, envolvido em escândalos. Ao mesmo tempo em que ele admitia ter contas bancárias no exterior, o poder local foi abalado por várias operações contra corrupção em prefeituras e comunidades autônomas, baseadas em comissões ilegais em troca de contratos públicos.

Um dos casos que mais indignou os cidadãos foi o mau uso de cartões corporativos por diretores de bancos como Caja Madrid e Bankia – que teve que ser nacionalizado em 2012 devido aos grandes prejuízos. O principal processado no caso é o ex-ministro da Economia e ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Rato. EFE

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