Especialistas em d.humanos viajam para Assunção para julgamento de massacre

  • Por Agencia EFE
  • 26/07/2015 16h20

Assunção, 26 jul (EFE).- Especialistas em direitos humanos como a argentina Nora Cortiñas, fundadora do movimento Mães da Praça de Maio, junto a advogados e dirigentes camponeses e indígenas do Brasil, Chile e Colômbia viajam neste domingo a Assunção para acompanhar o julgamento pelo massacre de 17 pessoas em 2012 em Curuguaty, que começa na segunda-feira.

No julgamento, adiado em várias ocasiões e que deve terminar em 28 de agosto, serão 13 camponeses no banco dos réus, acusados de invasão de imóvel alheio e associação criminosa. Entre eles, 10 enfrentam acusações de tentativa de homicídio contra seis policiais, e não há ninguém acusado pela morte dos 11 camponeses restantes.

Os especialistas estrangeiros vão ao julgamento em qualidade de “observadores internacionais” para vigiar “o respeito aos direitos humanos e processuais do processo judicial”, segundo informou hoje a Articulação por Curuguaty, que reúne várias organizações sociais em torno desta causa judicial.

A estes observadores está previsto que se una nas próximas semanas o prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, destacado defensor dos direitos humanos na Argentina.

A Articulação por Curuguaty disse que o processo pelo massacre recebeu várias denúncias de violações às garantias processuais da defesa e dos acusados no julgamento.

O grupo apontou, além disso, a “perseguição administrativa com caráter punitivo à defesa técnica” do caso por parte da juíza de garantias Janine Ríos e do promotor da causa Khalil Rachid.

A organização pede, além disso, que o julgamento seja cancelado dado que “não há prova alguma que aponte nenhum dos acusados como autores de homicídio”, e acusou a promotoria de “ocultar provas e infiltrar outras fora de prazo”.

A plataforma pediu observação cidadã do processo e solicitou que o julgamento, que ocorrerá no Palácio de Justiça de Assunção, se transfira a uma sala de maior capacidade dentro desta sede judicial, dado que o lugar fixado só tem capacidade para 60 pessoas.

O Poder Judiciário transmitirá a audiência através de um telão localizado na Praça da Justiça, no exterior da sede judicial.

Mais de 300 policiais foram a Curuguaty, departamento de Canindeyú, em 15 de junho de 2012 para desalojar cerca de 70 camponeses que ocupavam terras que reivindicavam para a reforma agrária nesse distrito.

Durante o despejo, aconteceu um tiroteio cuja origem ainda é desconhecida, e nele perderam a vida 11 camponeses e seis policiais, além de deixar um saldo de vários feridos.

O sangrento episódio propiciou uma semana mais tarde a destituição em um julgamento parlamentar do então presidente Fernando Lugo (2008-2012).

O fato aconteceu nos terrenos de Marina Cué, chamados assim porque durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989) eram usados por um destacamento da Marinha.

A empresa Campos Morombí, que diz ser a proprietária das terras, mantém um litígio que dura já quase uma década para defender sua suposta titularidade, enquanto os camponeses da zona afirmam que são propriedade do Estado.

A empresa pertence à família do falecido empresário Blas N. Riquelme, um histórico diretor do Partido Colorado durante a época de Stroessner.

O sítio palco do massacre foi reocupado há um mês por várias famílias camponesas, após “terem esgotado todas as instâncias de diálogo” com o governo paraguaio para que resolvesse a titularidade das terras. EFE

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