Especialistas pretendem resgatar riqueza oral dos povos indígenas mexicanos
Guadalajara (México), 16 jan (EFE).- Um grupo de especialistas vai percorrer o México com o objetivo de criar uma audioteca, compilando língua, música e os costumes de comunidades indígenas do país.
O maia, no sudeste, o tarahumara, no norte, e wixárika, no oeste do território mexicano, são algumas das línguas nativas que serão compiladas em “A rota do cervo”, um projeto “sem precedentes”, afirmou à Agência Efe um dos coordenadores do projeto.
“Esta é uma iniciativa civil, e acreditamos que seja a primeira deste tipo. Há dependências que divulgaram estas línguas, mas não há uma audioteca à qual se possa ir para conhecê-las”, explicou Ricardo Ibarra, coordenador de mídia da Rádio Indígena.
De acordo com a Comissão Nacional para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas, até 2010 o México tinha 62 povos indígenas, com cultura e língua próprias, embora algumas delas estejam em extinção. Dados da Comissão atestam que cerca de 15 milhões de mexicanos pertencem a alguma destas etnias, distribuídas em 64.172 regiões.
Grande parte deste trabalho consistirá no resgate das línguas em iminência de extinção, pois há comunidades nahuas, no ocidente do país, onde não há mais nenhum falante do idioma, comentou Ibarra, que espera “encontrar algum ancião que ainda saiba falar a língua”.
Por causa do estado de pobreza destas regiões, “as pessoas muitas vezes são forçadas a deixar seus lugares de origem, o que cria uma diferença entre as gerações”, disse Ibarra.
“É comum os jovens terem vergonha de falar suas próprias línguas. Queremos escutar suas próprias vozes e compreender quem mantêm vivas essas tradições”, afirmou o especialista, que há mais de uma década realiza pesquisas e trabalhos de campo em diversas partes do país.
Benjamín Vidal, que também faz parte do projeto, alertou por sua vez que “muitas línguas estão praticamente fadadas à extinção, e, se não houver intenção das comunidades em resgatá-las, é o que vai acontecer”.
“O que podemos fazer é tirar um pouco disso, mostrar ao mundo e esperar que este movimento represente algo dentro ou fora das comunidades”, afirmou.
O projeto “A rota do cervo” pretende ser financiado através de contribuições de voluntários do México e dos Estados Unidos, mas os idealizadores do projeto esperam que o governo mexicano e organizações civis deem apoio adicional à iniciativa.
Inicialmente estava previsto que a viagem começasse em Tijuana, na fronteira com os EUA, e terminasse no sul, mas a crise gerada pelo desaparecimento de 43 jovens em setembro de 2014 em Iguala provocou uma mudança neste itinerário, que foi separado em etapas.
Nos últimos meses, alguns registros foram realizados nos estados de Nayarit, Jalisco e Sonora, mas o trabalho mais intenso terá início em março, quando comunidades wixárikas e coras, no oeste do país, serão visitadas.
Em seguida os especialistas irão aos estados do norte – Sonora, Baixa Califórnia e Sinaloa – para obter o registro de etnias como os cucapá, os seris, mayos, yaquis e os paipai, que têm apenas entre 10 e 15 falantes. E nos estados de Yucatan, Quintana Roo e Campeche, no sudeste, serão identificadas as diversas variações da língua maia.
Em função da forte presença do narcotráfico, os estados de Guerrero, Oaxaca e Chiapas, no sul, foram por enquanto excluídos da rota.
Além do registro das línguas, que serão traduzidas para o espanhol e o inglês, a passagem por estes povos será filmada e fotografada, e todo o material será divulgado no site do projeto e também nas redes sociais.
Paralelamente, os especialistas pretendem assessorar os povoados interessados em criar uma rádio comunitária como “uma forma de coesão”, além de fornecer recursos técnicos e humanos para conseguir apoio. EFE
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