Esperança e decepção são as marcas da terra dos Obama no Quênia

  • Por Agencia EFE
  • 24/07/2015 17h57
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Xavi Fernández de Castro.

Kogelo (Quênia), 24 jul (EFE).- Em sua oficina improvisada sob uma marquise de Kogelo, Frederik Onyango revira uma pilha desordenada de sapatos velhos que precisam ser consertados. São quatro da tarde e até aquele momento não teve nenhum cliente, mas isso não o impede de sorrir para os transeuntes que desfilam com passo tranquilo.

Neste pequeno povoado, cujo grande marco é que viu nascer e crescer o pai do atual presidente dos Estados Unidos, quase ninguém espera que contar com tão ilustre linhagem vá melhorar suas vidas e só os que têm o sobrenome Obama – um meio-irmão, a mãe da madrastra e um primo distante – conseguiram prosperar.

Os demais, como Frederik, faz o que pode para continuar vivendo. “Normalmente tenho mais trabalho nos dias de mercado”, confessa à Agência Efe com certo pudor.

Durante anos sobreviveu trabalhando como funcionário terceirizado no aeroporto Jomo Kenyatta de Nairóbi, mas um dia os contratos acabaram e ele decidiu voltar para Kogelo na busca de algo melhor.

“Obama não pode fazer nada por esta gente”, comentou com desdém Augustine Korir, um jovem de 27 anos, funcionário de serviços gerais no pomposo hotel de Nicholas Rajula, primo distante de Obama. “Se tivesse vindo antes, quando foi empossado, talvez, mas agora já é tarde demais”.

Inclusive a escola primária Senador Obama está em um estado lamentável: pintura destruída, janelas sem vidros e salas de aula quase sem carteiras oferecem uma imagem desoladora.

“Há muito tempo que não recebemos fundos. Acham que, por se chamar Obama, alguma fundação o financiará”, lamentou o diretor da escola, Manasseh Oyucho.

Só o governo local, que gastou 10.000 euros em uma incompetente renovação dos túmulos do pai e do avô de Obama, acredita que revitalizar a fraca economia da região graças à viagem do presidente americano, que aterrissou hoje no Quênia e cuja acirrada agenda não conta com uma parada em Kogelo.

A segunda visita de Obama à terra natal de seu pai, quando ainda era senador, trouxe consigo expectativas de desenvolvimento fictícias que foram alimentadas pela construção da estrada e da rede de energia elétrica que ainda hoje, e faltando alternativas melhores, são o orgulho da cidade.

A decepção pela riqueza prometida que nunca chegou não impede que os habitantes de Kogelo, com certa inocência, vejam Obama como um dos seus. “Eu gostaria que viesse nos ver, é um queniano como nós”, diz Frederik com seu sorriso desdentado.

O fato de um menino da cidade ter conseguido ir para os Estados Unidos para estudar e se tornar mais tarde o pai do presidente continua sendo um motivo de satisfação para a maioria e alguns, como Vitalis Oloo, sentem uma genuína admiração pelo chefe de Governo americano.

No caminho para a casa de um vizinho, Vitalis faz uma parada curta para descansar e tira com cuidado uma pimenteira que leva na cesta de sua bicicleta oxidada. Não tem muito o que fazer, portanto se dedica a ir de casa em casa buscando algum emprego esporádico para ganhar alguns xelins.

Sua fascinação por Obama começou no dia no qual ele foi empossado presidente. Comprou todos os jornais que pôde encontrar e desde então guarda revistas, calendários e qualquer outra publicação como se fossem um tesouro de valor incalculável.

“Quando crescerem, explicarei a meus filhos quem é Obama e tudo o que conseguiu, apesar de seu pai ter saído de uma cidade como Kogelo”, desabafou.

Seu afã por colecionar jornais surgiu da firme convicção de que seus filhos exigirão dele provas de sua maravilhosa história e quer estar preparado.

Mesmo que Obama visitasse o povoado de seus ancestrais, onde necessitaria de um tradutor para falar com a avó de sua madrasta, a vida em Kogelo iria continuar entre colheitas de milho e empregos eventuais, enquanto alguns sonham com a chegada em massa de turistas desejosos de conhecer o passado familiar de Obama.

Frederik, alheio a esses castelos no ar, espera paciente em sua improvisada oficina que chegue algum cliente e, em algumas semanas ou talvez meses, “reunir dinheiro suficiente para comprar novas ferramentas e fazer consertos mais complexos”, e nada mais. EFE

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