Estabilidade do governo de Tsipras corre sério perigo perante divisão interna

  • Por Agencia EFE
  • 15/08/2015 09h57

Remei Calabuig

Atenas, 15 ago (EFE).- Após conseguir sinal verde da zona do euro para receber o terceiro resgate, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, deve fazer frente agora às dissidências internas que puseram em sério perigo a estabilidade de seu governo.

O Executivo realizou a decisão do Eurogrupo que ontem aprovou o resgate e disse que o objetivo do programa é fazer o país voltar “ao crescimento e fazer frente aos problemas da economia grega”.

O resgate, com uma validade de três anos e um montante que pode chegar até os 86 bilhões de euros, recolhe uma ampla lista de ajustes que afetarão questões sensíveis como as pensões, o imposto sobre o valor agregado (IVA) e as privatizações.

Em troca, o governo só conseguiu cumprir com a promessa de que em função dos resultados da primeira avaliação, prevista para outubro de 2015, as instituições avaliarão a sustentabilidade da dívida grega, embora o Eurogrupo já deixou claro que apesar de ser possível conceder períodos de graça e vencimento mais prolongados, a remissão de dívida nominal é impossível.

Este alívio dependerá do Fundo Monetário Internacional fazer parte do resgate, um requisito que países como a Alemanha, cujo parlamento votará na quarta-feira se aprova o novo plano, fixaram como condição.

Atenas reconheceu que não se trata de um bom acordo e que implicará em medidas dolorosas.

O ministro da Energia e Reconstrução Produtiva, Panos Skurletis, afirmou hoje que o Executivo tratará de implementar as reformas “da maneira mais social possível, evitando o sofrimento”.

Em uma entrevista ao jornal “Efimerida tom Syntakton”, Skurletis disse que serão buscadas medidas alternativas aos cortes, que sirvam “para diminuir os efeitos recessivos do acordo e, ao mesmo tempo, abram novos caminhos para o crescimento”.

Mas nem todos os membros no governante Syriza aplaudiram a consecução do pacto, cuja aprovação no parlamento ontem deixaram claras as graves diferenças internas.

Até 47 deputados esquerdistas deram as costas ao resgate na votação. Isso fez com o que a coalizão governamental formada por Syriza e o nacionalista de direitas Gregos Independentes tenha conseguido somente 118 votos a favor, dois abaixo da “barreira psicológica” fixada como necessária para manter a estabilidade.

A imprensa local, que cita fontes do governo, assegura que o Executivo convocará uma moção de confiança ao primeiro-ministro depois da próxima quinta-feira.

Nesse dia, a Grécia receberá 13 bilhões de euros, correspondentes ao primeiro desembolso do resgate -fixado em 26 bilhões-, com o qual poderá fazer frente ao pagamento de 3,4 bilhões de euros ao Banco Central Europeu nesse mesmo dia.

A divisão interna do Syriza provocou que a convocação de eleições seja colocada quase como um fato inevitável, pois existe uma grande facção que não está disposta a defender a atuação do governo após a aprovação do resgate.

Uma parte dela é formada por membros da Plataforma de Esquerda, liderada pelo ex-ministro de Energia, Panayotis Lafazanis, que na quinta-feira anunciou a criação de um movimento anti-resgate.

Um gesto que é interpretado como o prelúdio para a criação de um novo partido.

A imprensa local aponta que a Plataforma de Esquerda poderia formalizar sua separação do Syriza no mais tardar no próximo fim de semana, quando serão realizadas várias reuniões de alguns setores da formação.

O site da Plataforma de Esquerda qualificou de “chantagem” a possível convocação da moção de confiança a Tsipras e disse que seu único objetivo é “exercer pressão psicológica” sobre os membros do Syriza. EFE

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