Estado Islâmico provoca o mundo ao declarar califado no Iraque e na Síria
Susana Samhan.
Beirute/Bagdá, 10 dez (EFE).- O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) conquistou regiões do norte e do centro do Iraque e da Síria, onde em junho proclamou um califado, o que levou os Estados Unidos e seus aliados a responderem com uma ofensiva aérea para tentar conter sua expansão.
A instabilidade nos dois países facilitou o avanço dos radicais: a Síria é palco de um conflito bélico há mais de três anos, enquanto o Iraque vive uma espiral de violência e disputas políticas.
O ano de 2014 foi marcado pelo crescimento do EI, embora suas origens remetam a 2006, quando nasceu sob o nome de Estado Islâmico do Iraque, como um grupo vinculado à Al Qaeda contra a ocupação americana. Na Síria, ele começou a operar dois anos depois do início do conflito em 2011 e alterou sua denominação a Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Mais tarde, declarou a criação de um califado, sistema político nascido no século VII e abolido pela Turquia em 1926.
A rápida expansão pelo território sírio e suas práticas brutais fizeram com que as maiores facções rebeldes e a Frente al Nusra, braço da Al Qaeda na Síria e inimiga do EI, declarassem guerra ao grupo no início do ano para expulsá-lo da região.
Enquanto isso, no Iraque, o EI travava conflitos contra o exército do país e milicianos tribais na província de Al Anbar (oeste) em uma tentativa de aumentar seus domínios.
No início de junho, o grupo conquistou a segunda maior cidade iraquiana, Mossul (norte), graças à “grande derrubada” – a retirada do exército do país sem esboçar resistência.
A queda de Mossul foi o primeiro passo da instauração do califado dos jihadistas, no dia 29 de junho, assim como a proclamação do líder do EI, Abu Bakr al Baghdadi, como o “califa de todos os muçulmanos”.
Com o decorrer dos meses, os extremistas ampliaram seus “domínios” com a conquista quase total da província síria de Deir ez Zor e a tomada da região iraquiana de Sinjar.
O avanço dos jihadistas também causou a substituição do primeiro-ministro iraquiano, o xiita Nouri al Maliki que, apesar de ter vencido as eleições de abril, foi forçado a renunciar para dar lugar a um novo governo, liderado pelo também xiita Haidar Abadi.
Incomodado com o progresso dos radicais, os EUA iniciaram bombardeios “seletivos” contra o EI no início de agosto, dois anos e meio depois da retirada de suas tropas do país árabe, onde haviam permanecido por quase oito anos.
No entanto, o governo americano pensou bem antes de entrar na Síria devido aos receios de Damasco a respeito de qualquer intervenção estrangeira.
Um dos principais motivos para a ofensiva americana foram as decapitações dos jornalistas norte-americanos sequestrados pelo EI na Síria, James Foley e Steven Sotloff.
Foley foi o primeiro refém ocidental executado pelos extremistas, que divulgaram um vídeo na internet com sua decapitação no dia 19 de agosto. O mesmo aconteceu depois com Sotloff, no início de setembro, e posteriormente a outro refém americano e dois britânicos.
Antes de decidir efetuar bombardeios na Síria, os EUA receberam apoio para criar uma coalizão antijihadista, aderida por 50 países.
Em 23 de setembro, aviões da aliança atacaram pela primeira vez o EI na Síria, com o sinal verde do seu governo local, que apoiou “qualquer esforço” contra o terrorismo.
Antecipando-se aos ataques, o Estado Islâmico evacuou suas principais bases dias antes e levou combatentes à região curdo-síria de Kobani, na fronteira com a Turquia, em uma tentativa de tomar o controle da cidade.
No entanto, Kobani se mostrou um osso duro de roer para os extremistas, que após avançarem rapidamente durante as primeiras semanas, foram contidos pelos curdos, que receberam reforços de combatentes procedentes do Iraque e ajuda da coalizão internacional.
Sem dúvidas, os curdos foram os que apresentaram a oposição mais forte ao progresso do EI, tanto na Síria como no Iraque.
Nos últimos meses do ano, o exército iraquiano parece ter aprendido a lidar com os jihadistas e conseguiu expulsá-los da refinaria de Biji, a maior do país, com uma produção diária de 250 mil barris de petróleo.
Mesmo assim, Baghdadi não se rendeu. Em uma gravação de áudio atribuída ao líder extremista, ele manifestou o desejo de expandir o califado pelo Golfo Pérsico e pelo norte da África, onde outras organizações radicais já lhe juraram lealdade. EFE
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