Estreia de Cuba e nova era com EUA fazem do Panamá cúpula histórica
Soledad Álvarez.
Havana, 8 abr (EFE).- Cuba participará neste fim de semana pela primeira vez de uma Cúpula das Américas, com a presença do presidente Raúl Castro, marcando uma estreia histórica que servirá para consolidar a nova etapa de aproximação entre o país caribenho e os Estados Unidos.
A imagem dos dois líderes juntos é a foto mais esperada da sétima edição da Cúpula das Américas, que ocorrerá entre os dias 10 e 11 no Panamá, quatro meses depois do anúncio do restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, que encerraram mais de 50 anos de inimizade.
Cuba nunca participou de uma Cúpula das Américas, que reúne desde 1994 os líderes dos países que integram a Organização dos Estados Americanos (OEA). A entidade suspendeu a ilha em 1962, e em 2009 esta decisão foi revogada, apesar de Cuba não ter solicitado o reingresso.
Justamente por sua ausência, Cuba desempenhou um papel protagonista nas últimas edições da reunião, sobretudo na última, em 2012, em Cartagena (Colômbia), quando todos os presentes, exceto Estados Unidos e Canadá, defenderam que não poderia ser realizada outra cúpula sem a presença do governo de Havana.
Agora, Cuba irá ao Panamá representada em seu mais alto nível, em processo de “reconciliação” com os Estados Unidos e para expressar suas posições “com sinceridade e respeito por todos os chefes de estado e de governo, sem exceção”, segundo disse Raúl Castro em dezembro, quando anunciou sua presença no encontro.
Sua presença no fórum continental também está relacionada à progressiva reinserção regional de Cuba nos últimos anos, como ressaltou o presidente cubano ao agradecer o “sólido e unânime” consenso da América Latina e do Caribe contra da exclusão da ilha.
É previsível que a Cúpula do Panamá se transforme em um fórum de celebração da aproximação Cuba-Estados Unidos, mas a “foto do degelo”, de Castro e Obama, corre o risco de ficar desfocada pela escalada de tensão entre Washington e Venezuela, o principal aliado político da ilha.
A crise gerada pela decisão de Obama de declarar a Venezuela como uma “ameaça” para os Estados Unidos prejudica o ambiente da cúpula e coloca Cuba em uma situação delicada, embora analistas consultados pela Agência Efe acreditem que o episódio não afeta substancialmente o diálogo entre Havana e Washington.
Inclusive alguns especialistas opinam que a ilha poderia contribuir para diminuir o atrito entre Caracas e Washington durante a reunião no Panamá.
“Paradoxalmente, pode ser que Cuba, de alguma maneira, exerça uma influência positiva. Cuba não vai ceder no tema da Venezuela nem vai fazer concessões, mas pode contribuir para que tudo se discuta em um plano menos atritado. Não ficaria bem Cuba ir para sua primeira cúpula e terminar mal”, opinou o analista e ex-diplomata cubano Carlos Alzugaray.
O acadêmico cubano-americano Arturo López-Levy concorda que Cuba pode ter uma postura conciliadora entre Caracas e Washington, embora de forma não pública, nem explícita.
“O tema venezuelano não impede o processo (entre Cuba e Estados Unidos) porque há vontade de ambas as partes de avançar, mas representa um elemento de distração que pode diminuir a velocidade ou dilatá-lo”, advertiu López-Levy.
Outra expectativa que se abre com a estreia de Cuba no encontro no Panamá é se isso poderia ser o passo prévio a sua reintegração na OEA, objetivo expressado pelo novo secretário-geral da organização, Luis Almagro, que se comprometeu a impulsionar uma “nova agenda de diálogo” com a ilha.
Em várias ocasiões Cuba mostrou sua rejeição a se integrar novamente à OEA e tradicionalmente é crítica em relação à organização, mas se desconhece se esta posição evoluiu com o novo cenário de relações com os Estados Unidos.
“Um problema que se apresenta para a política externa cubana é passar da denúncia ao anúncio. Hoje o sistema interamericano aparece diante de Cuba como uma oportunidade e como um desafio”, opinou López-Levy.
Uma possibilidade, segundo o analista, é que Cuba vá se incorporando ao sistema interamericano progressivamente e em determinadas áreas, como em cooperação antiterrorista e em instâncias pan-americanas.
“É muito difícil pensar que Cuba possa se incorporar totalmente ao sistema interamericano nesta Cúpula das Américas, mas pode dar um passo substancial nesse sentido. Se Cuba ingressar em alguns órgãos do sistema interamericano, eu não me surpreenderia, mas se não fizer isso, também não”, comentou o acadêmico.
Para Alzugaray, Cuba tem argumentos a favor e contra para retornar à OEA. “A favor, pois se trata de um espaço de negociação onde estão América Latina e Estados Unidos e é conveniente estar nesta arena. Mas outro raciocínio é que a OEA é uma organização que está em crise”, concluiu. EFE
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