Estudo britânico “olha obesidade pelo buraco da fechadura”, avalia professor

  • Por Agencia EFE
  • 04/05/2015 16h12
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São Paulo, 4 mai (EFE).- Com a evolução tecnológica e o conforto gerado pelos fenômenos da urbanização e mobilidade, a obesidade não é um problema causado simplesmente pela má alimentação, mas também pela diminuição do gasto calórico ao longo dos últimos 30 anos, proporcionada pela redução das atividades diárias como caminhar até o banco, subir escadas, entre outras.

Essa foi a avaliação feita pelo especialista em obesidade e professor da Universidade de São Paulo, Antonio Herbert Lancha Jr.

Na semana passada, um estudo assinado por três especialitas da Grã-Bretanha, Estados Unidos e África do Sul, publicado no British Journal of Spors Medicine (BJSM), atribuiu a culpa da obesidade ao alto consumo de açúcar e carboidratos encontrado nas dietas adotadas pelas pessoas nos últimos anos.

“Esse estudo esquece que, nos últimos 30 anos, a evolução tecnológica foi imensa e nosso gasto calórico diminuiu demais. A prática de exercícios físicos regular é uma forma de compensar o conforto que temos hoje por conta da tecnologia”, explicou Lancha à Agência Efe.

“As pessoas gastam 50% mais tempo assistindo TV nos dias atuais do que há 30 anos”, reforçou.

No artigo do BJSM, pesquisadores indicam que a atividade física regular reduz o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, demência e algumas formas de câncer em até 30%, porém não promove a perda de peso, sendo irrelevante para obesidade.

Lancha relativizou a informação, defendendo que o equilíbrio entre a alimentação e a prática regular de exercícios é fundamental para prevenir a obesidade e outras doenças.

“Com relação à obesidade, podemos afirmar que ela teve menor elevação por conta da atividade física regular. E a conta é simples. Reduzimos nosso gasto diário em 600 kcal. Sem a atividade física, engordaríamos 24 quilos por ano, e isso não aconteceu”, avaliou Lancha.

“As pessoas hoje em dia se deslocam muito menos. Os autores olharam a questão da obesidade pelo buraco da fechadura, mas o tema é muito mais complexo do que eles apontaram”, indicou.

Para tratar a obesidade, o professor afirmou que as dietas restritivas são “insustentáveis” e indica como principais medidas a mudança de comportamento e a ação de políticas públicas de conscientização.

Sobre as dietas “milagrosas”, Lancha foi enfático ao avaliar que trata-se de uma estratégia de mercado e que os problemas do sobrepeso e da obesidade estão na falta de equilíbrio entre alimentação responsável e exercícios.

“Não existe dieta ideal. O que existe é uma alimentação responsável. É preciso tratar a ingestão alimentar como tratamos o dinheiro que se ganha todo mês, economizando no consumo exagerado. Subir escadas no trabalho durante cinco dias semanais, por exemplo, torna o ser humano mais ativo”, explicou. EFE

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