Estudo dissipa dúvida de 6 décadas sobre melhor vacina para poliomielite
Washington, 21 ago (EFE).- A resolução do debate que por seis décadas disputou a conveniência de uma ou outra vacina para a prevenção da poliomielite está na administração de ambas, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira pela revista “Science”.
Os autores, liderados por Hamid Jafari, da Organização Mundial da Saúde (OMS), lembraram em uma teleconferência a “disputa feroz” que existe desde a década de 1950 sobre o uso do vírus inativado de pólio produzido pela Salk ou o vírus vivo atenuado de pólio oferecido pela Sabin.
“O debate continuou mesmo depois que em 1988 se estabeleceu a meta da erradicação global da poliomielite para a qual se escolheu a vacina de vírus atenuado”, declarou Jafari.
O estudo foi realizado com crianças na Índia às quais já tinha sido administrada a vacina com o vírus vivo, e mostra que uma só dose da vacina inativada estimula a imunidade de maneira mais eficaz que um “reforço” da vacina com o vírus vivo.
A vacinação global com o vírus vivo conseguiu que o número de países onde a pólio era endêmica passasse de 125 em 1988 para três em 2013 e a incidência diminuiu em 99%, destacaram os pesquisadores.
A transmissão do vírus de pólio tipo 2 se interrompeu globalmente em 1999 e o último caso de vírus de pólio tipo 3 foi detectado em novembro de 2012.
“No entanto em partes de três países, Afeganistão, Nigéria e Paquistão, se segue informando de casos de vírus de pólio tipo 1 e a exportação deste vírus causa surtos”, assinalou o estudo.
Jafari explicou que o vírus vivo atenuado oferece algumas vantagens como uma imunidade superior das mucosas, a facilidade da administração que não requer uma agulha e um preço mais baixo, mas “a vacina tem suas limitações”.
Entre elas que gera um nível baixo de imunidade em alguns países tropicais e uma imunidade intestinal incompleta que se desvanece rapidamente.
“Para interromper a transmissão do vírus ativo, o vírus atenuado deve ser administrado a uma alta proporção das crianças”, ressaltou a pesquisa.
A equipe realizou um teste clínico aleatório no norte de Índia na qual quase mil crianças receberam uma ou outra das vacinas. Após quatro semanas, a todos eles foi dada uma dose adicional do vírus vivo atenuado.
Nas crianças que tinham recebido primeiro a dose de vírus inativo, a quantidade de restos de vírus nos sedimentos gerada pelo vírus ativo atenuado diminuíram entre 39% e 76%, indica o artigo.
Por outro lado, nas crianças que já tinham recebido uma dose do vírus vivo atenuado, a diminuição “não foi significativa no grupo de idade dos seis meses aos cinco anos, embora tenha sido de 41% a 52% entre as crianças de dez anos de idade”, acrescentou.
Isto significa que estas crianças eram menos infecciosas para outras, um aspecto-chave para deter a propagação do vírus. Além disso, a imunidade da mucosa intestinal resultou fortalecida no grupo que tinha recebido o vírus inativo e isso os deixou mais protegidos contra a infecção do vírus de pólio.
“Assim, mais de 25 anos depois que a Assembleia Mundial da Saúde aprovou uma resolução para a erradicação da poliomielite, a resposta à controvérsia sobre as vacinas é aparente: ambas deveriam ser usadas”, concluiu o artigo.
Em consequência, a OMS já não recomenda um programa de vacinas exclusivo com o vírus vivo atenuado, mas “recomenda que os países que usam um protocolo de vírus vivo atenuado introduzam uma dose do vírus de pólio inativo em seu programa rotineiro de vacinação”. EFE
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