Estudo propõe “desmatamento zero” para impedir mudanças climáticas

  • Por Agencia EFE
  • 30/10/2014 20h58

São Paulo, 30 out (EFE).- Um levantamento de mais de 200 estudos já publicados sobre o clima na Amazônia realizado a pedido da ONG Articulación Regional Amazónica (ARA) foi apresentado nesta quinta-feira em São Paulo com um diagnóstico trágico: as mudanças climáticas já estão operando na Amazônia.

De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Antonio Donato Nobre, responsável pelo relatório, o desmatamento na região amazônica já acumula uma área derrubada de 763 quilômetros quadrados, o equivalente a três estados de São Paulo.

O resultado deste saldo ambiental negativo, alerta o pesquisador, tem sido a destruição das funções climáticas do bioma, que envolvem a retirada de umidade do solo para formação do ar úmido que alimenta o regime de chuvas em várias regiões do continente, dentre elas o sudeste brasileiro, que tem sofrido a pior seca de sua história.

“Estamos quebrando a bomba biótica de serviços naturais da Amazônia. Os brasileiros costumam reclamar dos biopiratas, mas estamos fazendo algo muito mais nefasto, que é queimar as nossas florestas”, criticou o pesquisador ao fazer referência às queimadas no país.

“Não tem o que fazer. Precisamos instituir o desmatamento zero para ontem e recuperar o que já foi degradado”, acrescentou Donato.

Segundo dados da Nasa apresentados pelo pesquisador, regiões de floresta como a Amazônia estão livres de eventos extremos como tornados e furacões desde que o órgão norte americano começou a fazer este tipo de registro.

A explicação, revela Donato, estaria no fato do dossel rugoso das árvores funcionarem como um “freio de arrumação” dos ventos, ajudando a impedir a formação de furacões.

“Este seria o caso de São Paulo, que tem registrado casos de tornados no interior do estado. Eu imagino que quando aqui tinha Mata Atlântica isso não deveria ocorrer como ocorre agora”, explicou Donato ao denunciar o que chamou de “destruição de usinas de serviços naturais”.

Usando como exemplo as duas últimas estiagens vividas na Amazônia em 2005 e 2010, Donato alerta para o risco que vive a região sudeste, que vive um momento de estiagem e já que não conta mais com sua vegetação nativa para realizar a recuperação climática que o bioma amazônico a duras penas tem conseguido fazer.

“O que acontece em São Paulo? Tinha a Mata Atlântica e hoje não tem mais. O que acontece com uma seca dessas? Eventualmente ela pode se instalar e mudar perenemente o clima”, alerta Donato.

Chamado de “tipping point”, o momento irreversível de mudança e destruição do bioma é impossível de ser determinado de forma exata, de acordo com o próprio pesquisador.

No entanto, os sinais vistos nos últimos anos no Brasil, sobretudo com os eventos climáticos extremos como a seca no sudeste e as duas últimas secas amazônicas, são vistos por Donato como um sinal para uma medida urgente e extrema.

“Estamos vivenciando neste momento a descoberta de que antes existia um sistema de manutenção do clima invisível. A composição destes fatores (aquecimento global, desmatamento e modificação de correntes de vento) está em andamento”, concluiu o pesquisador. EFE

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