EUA declaram batalha ao crescente uso de heroína e opiáceos no país

  • Por Agencia EFE
  • 09/07/2014 16h55
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Lucía Leal

Washington, 9 jul (EFE).- O governo dos Estados Unidos traçou nesta quarta-feira uma estratégia para prevenir o crescente uso de heroína e outros opiáceos que geraram uma “epidemia” em todo o país, além de combater novas drogas sintéticas e fortalecer os mecanismos de prevenção da dependência de narcóticos e remédios.

Em um país onde as mortes por overdose superaram os acidentes de trânsito e os homicídios como a principal causa de morte violenta, a estratégia nacional de controle de drogas para 2014 apresentada hoje na Casa Branca enfoca o problema como um assunto de “saúde pública” e não apenas de polícia.

“Não podemos resolver o problema das drogas prendendo”, disse o “czar” antidrogas dos Estados Unidos, Michael Boticelli, na apresentação do plano anual, que avalia o tráfico e o consumo de drogas no interior do país.

O governo de Barack Obama, que centrou sua estratégia nacional antidrogas na prevenção e no tratamento, está “cada vez mais preocupado” com a “epidemia” de dependência de analgésicos com receita que o país vive, e a “possível transição para heroína” de muitos dos viciados em opiáceos, explicou Boticelli.

Em março, o secretário de Justiça dos EUA, Eric Holder, afirmou que o aumento de mortes por overdose de heroína e analgésicos representa uma “crise de saúde pública urgente”.

Aproximadamente 110 americanos morrem a cada dia por overdose de drogas e, em 2011, os analgésicos com receita estavam relacionados com mais da metade desses óbitos, segundo dados do governo citados por Boticelli.

Após vários anos de redução do consumo que se seguiu ao apogeu das décadas 70 e 80, a heroína voltou às ruas dos Estados Unidos como alternativa barata e acessível aos analgésicos com receita derivados do ópio, cujo preço é muito maior e o acesso mais restrito.

Um frasco de opiáceos como o OxyContin ou Vicodin, vendido apenas com prescrição médica, pode custar US$ 140, enquanto nas ruas é possível obter uma dose de heroína por menos de US$ 10.

Para enfrentar o problema, plano propõe procura ampliar o acesso ao remédio Naloxone, que permite reverter no corpo o efeito da overdose em casos de emergência; além de aumentar a informação ao público sobre os riscos de morte por consumo excessivo das substâncias e como atuar em uma emergência.

Além disso, o governo de Obama quer trabalhar com os estados para estimular a aprovação de leis conhecidas como “Bom Samaritano”, que dão garantias aos cidadãos que sentem receio de ajudar um viciado que sofreu uma overdose por medo de serem processados por possíveis lesões não propositais ou homicídio.

Boticelli ressaltou que o impacto do abuso de drogas “vai muito além” dos problemas causados na vida dos viciados, pois “destroça famílias, atrai o crime”, danifica a economia e satura o já “sobrecarregado” sistema prisional dos Estados Unidos, que concentra quase 25% da população carcerária do mundo.

Quase a metade dos 219 mil presos federais nos EUA “foram condenados por crimes relacionados com as drogas, e muitos sofrem de problemas como abuso de substâncias”, explicou Boticelli.

Além disso, dados oficiais de 2007 “mostram que, em só um ano, o consumo de drogas custou ao país US$ 193 bilhões em despesas de saúde pública, crime e produtividade perdida”, acrescentou.

“Isto demonstra que o consumo de drogas afeta a todos de uma forma ou de outra, e temos uma responsabilidade compartilhada de reduzi-lo”, afirmou Boticelli, que reconheceu ter sido viciado em narcóticos durante anos.

O governo americano acredita que a reforma da saúde aprovada em 2010, que exige que as empresas e operadoras incluam em seus planos pessoas que sofrem com o uso frequente, aumente consideravelmente o acesso a algum tipo de tratamento para dependentes.

Em 2012, dos 23,1 milhões de americanos de mais de 12 anos de idade que necessitavam ajuda pelo consumo de álcool ou drogas ilícitas, só 2,5 milhões receberam tratamento.

Entre as mais de cem ações previstas para este ano, o plano apresentado hoje inclui pela primeira vez medidas para combater “a ameaça de novas drogas sintéticas, como as sais de banho, K-2 e Spice, que emergiram em comunidades de todo o país”, segundo o documento.

Além disso, Boticelli se comprometeu a seguir trabalhando para “desmantelar as organizações criminosas” que traficam drogas e geram violência em todo o continente americano. EFE

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