EUA enfrentam polêmica pela libertação dos cinco presos de Guantánamo
Lucía Leal.
Washington, 1 jun (EFE).- O governo dos Estados Unidos tentou acalmar neste domingo a polêmica gerada no país pela libertação de cinco presos afegãos de Guantánamo em troca de um militar americano, enquanto os republicanos advertiram que essa decisão pode colocar em perigo o país e enviar uma mensagem equivocada à Al Qaeda.
A mudança ao Catar de cinco presos que integraram a cúpula do regime talibã no Afeganistão e que ficaram mais de dez anos em Guantánamo despertou críticas pela decisão do governo de realizar a operação sem avisar ao Congresso e a percepção de que quebrou sua política de não negociar com terroristas.
“A fonte principal de financiamento da Al Qaeda são as recompensas por sequestros. E acabamos de colocar-lhes preço”, disse o legislador republicano Mike Rogers, que preside o Comitê de Inteligência da Câmara baixa, à rede “CNN”.
“Ao negociar neste caso, enviamos uma mensagem a todos os grupos da Al Qaeda que agora os reféns americanos têm um valor que antes não tinham. Isso é perigoso”, acrescentou.
O trato para conseguir a libertação do militar americano retido no Afeganistão, Bowe Bergdahl, também foi condenado pelos dois republicanos de mais alta categoria nos comitês das Forças Armadas da Câmara Baixa, Howard McKeon; e do Senado, James Inhofe.
“Trocar cinco altos líderes talibãs detidos em Guantánamo por Bergdahl poderia ter consequências para o resto de nossas forças e para todos os americanos. Esse incentivo colocará em um perigo ainda maior nossas forças no Afeganistão e no mundo todo”, declararam McKeon e Inhofe em comunicado.
A assessora de segurança nacional do presidente Barack Obama, Susan Rice, respondeu as críticas com o argumento de que os Estados Unidos têm uma “honra sagrado” de devolver os prisioneiros de guerra para suas casas.
Outra crítica foi feita pelo senador republicano John McCain ontem, que pediu garantias de que os cinco “terroristas” libertados não retornarão à “luta contra os Estados Unidos”.
Sobre isso, Susan insistiu que o governo tem garantias de que o Catar assegura que esses indivíduos não ameaçam a segurança nacional americana enquanto estivarem em seu território.
“Essas garantias relativas (às restrições) de movimento, as atividades e a vigilância desses (antigos) presos nos dão confiança em que não representarão um risco significativo para os Estados Unidos”, afirmou ela.
O temor de muitos legisladores de que os suspeitos de terrorismo presos em Guantánamo possam emergir de seu cativeiro com uma maior radicalização que ponha em risco os Estados Unidos foi o principal impedimento para o fechamento da prisão, prometido por Obama em 2008.
A Casa Branca enfrenta, além disso, uma terceira crítica por sua decisão de ignorar uma cláusula da Lei de Autorização para a Defesa Nacional, aprovada neste mesmo ano, que requer que o secretário de Defesa notifique ao Congresso a mudança de presos de Guantánamo com, pelo menos, 30 dias de adiantamento.
Tanto Susan quanto o chefe do Pentágono, Chuck Hagel, atribuíram a decisão de não avisar ao Congresso até a conclusão da operação à preocupação com a saúde de Bergdahl, supostamente prejudicada durante sua prisão no Afeganistão.
“Dada a extrema urgência da condição de saúde do sargento Bowe Berdaghl e dada a responsabilidade constitucional do presidente, ficou determinado que era necessário, porque poderia ter significativa perda na oportunidade de libertar o sargento”, disse Susan à rede “CNN”.
De Bagram (Afeganistão), onde fez uma visita surpresa, Hagel explicou também que, com base na informação de inteligência da qual dispunham, sua equipe julgou necessário atuar “muito rapidamente, essencialmente para salvar a vida” de Bergdahl.
Quando Obama assinou a lei citada pelos republicanos, que inclui autorizações para o orçamento de defesa, incluiu uma declaração na qual advertia que o requisito de notificação sobre Guantánamo infringia de forma inconstitucional seus poderes como presidente e se reservava a possibilidade de violá-lo.
Outras das perguntas que surgiram colocam a possibilidade de que Bergdahl, mantido em cativeiro desde 2009, desertasse do exército americano antes de desaparecer e ser capturado pelos talibãs, algo ao que Susan e Hagel evitaram responder.
“Nossa prioridade agora é seu bem-estar. Mais adiante, teremos a oportunidade de averiguar o que ocorreu nos últimos anos”, sustentou Susan. EFE
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