EUA se afastam de Porto Rico e analistas descartam rápida recuperação

  • Por Agencia EFE
  • 09/07/2015 16h28

San Juan, 9 jul (EFE).- Enquanto os Estados Unidos advertiram Porto Rico de que não tomará medidas legislativas imediatas para facilitar a declaração de falência, os analistas calculam que a ilha não voltará a registrar crescimento econômico até pelo menos 2020.

Segundo o último número da publicação especializada Puerto Rico Economic Pulse, elaborada pela consultoria H.Calero, a queda da população e a escassez de fluxo no caixa fiscal “limitarão o crescimento econômico nos próximos anos, rebatendo de novo território positivo para 2020”.

Em seu relatório, ao que a Agência Efe teve acesso hoje, a consultoria apontou que “o debate público sobre as tentativas do governo de reformar o sistema tributário e as notícias de que algumas agências estão à beira da insolvência” poderiam intensificar ainda mais a onda de migração que a ilha tem sofrido.

A questão demográfica é fundamental para solucionar ou agravar os problemas locais, segundo a consultoria, que lembrou o caso de Detroit, que perdeu 271 mil habitantes entre 2000 e 2014.

Segundo seus cálculos, Porto Rico continuará a perder em média 2,3% da população a cada ano, até pelo menos 2019, quando o retrocesso poderia cair para 0,5% ao ano.

Isso contribuirá para que o emprego não-agrícola continue diminuindo até chegar ao fundo do poço em 2020, quando terá se contraído 15% em relação a 2014. A partir de então e durante cinco anos poderia começar a crescer a uma taxa anual de 1,8%.

“Ao mesmo tempo a taxa de participação laboral continuará registrando progressivamente níveis historicamente baixos”, acrescentou, para depois se recuperar ligeiramente e rondar os 39,6% em 2024, uma porcentagem muito baixa em comparação com outros estados dos EUA e com os cerca de 50% de 2006.

A contração da população também deu lugar a uma estagnação nas receitas pessoais. De fato, “se não fosse pelo aumento das transferências federais, a receita efetiva teria diminuído”, acrescentaram os economistas.

Também houve uma queda no número de contribuintes, e mudanças no sistema tributário, mas a receita caiu cerca de 6,8% entre 2005 e 2014, já calculado o efeito da inflação.

Outra consequência da queda da população está no mercado imobiliário, em queda de preços desde 2007 e, segundo a consultoria, “durante a próxima década não veremos uma mudança significativa” neste sentido, que enfrenta uma taxa de retrocesso anual de 6%.

A duração do atual ciclo econômico de recessão dependerá em grande medida de se alcançar um “consenso com os credores, e uma redução do tamanho do governo”.

“Não alcançar um equilíbrio adequado nesta ocasião aumentará ainda mais a onda migratória”, alertaram os economistas, que indicaram que nos próximos meses será necessária uma alta dose de “criatividade e coragem” dos governantes.

Este complicado panorama, assim como a escassez de liquidez e a pressão que o pagamento da dívida pressupõe, será exposto na próxima segunda-feira aos credores de Porto Rico pelo governo local e seus assessores em uma reunião na sede do Citigroup, em Manhattan.

O governo confirmou que esta será a primeira reunião para tentar renegociar a devolução da dívida de mais de US$ 72 bilhões de Porto Rico.

O líder da oposição e representante de Porto Rico em Washington, Pedro Pierluisi, reivindicou ao Congresso “as mesmas ferramentas que os estados têm para ajustar as dívidas de suas entidades públicas sob o Capítulo 9 da Lei Federal de Falências, assim como os mesmos direitos que nossos concidadãos têm nos estados dos programas federais”.

No entanto, o congressista republicano Tom Marino disse em comunicado que “Porto Rico deve tomar medidas sérias, oportunas e comprováveis para endireitar sua situação fiscal antes de que algo se movimente legislativamente” e esclareceu que não se cogita nem um resgate nem uma inclusão dos municípios porto-riquenhos no Capítulo 9 da Lei de Falências.

“Vamos continuar nosso exame diligente da inclusão de Porto Rico no Capítulo 9, incluído o potencial impacto econômico sobre os credores dos EUA, assim como no mercado de bônus municipais”, acrescentou.

Ele advertiu que, assim como “os problemas de Porto Rico não apareceram da noite para o dia, a solução dos EUA também não o fará”.

Seu colega Bob Goodlatte acrescentou em outra nota que a inclusão não solucionaria os problemas da ilha, que “estão ligados a questões subjacentes e estruturais” que “devem ser enfrentadas antes de qualquer possível resposta do Congresso”. EFE

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