Ex-diretor da Cepal diz que economia não voltará a favorecer a América Latina

  • Por Agencia EFE
  • 07/01/2014 18h39

São Paulo, 7 jan (EFE).- O ex-ministro de Fazenda da Colômbia e ex-diretor-executivo da Comissão Econômica para o Caribe e América Latina (Cepal), José Antonio Ocampo, disse nesta terça-feira que “a economia internacional não voltará a ser favorável para a América Latina”.

“É preciso pensar em uma estratégia de desenvolvimento muito diferente para a região, algumas coisas podem continuar sendo favoráveis para alguns produtos, também o financiamento, mas deve-se pensar muito mais em nossos mercados internos”, afirmou Ocampo em São Paulo durante um fórum organizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

O ex-ministro, atual professor da Universidade de Columbia, qualificou de “medíocre” o crescimento da América Latina (entre 2,5% e 3,5%) e lembrou que as economias “mais importantes”, México e Brasil, estão “claramente abaixo da média regional.

Além disso, assinalou que há fatores otimistas na realidade latino-americana como “as tendências sociais que continuarão sendo positivas”.

“Talvez não tanto como nos últimos anos, mas há indicadores de longo prazo que explicam a redução da desigualdade e a melhora dos mercados de trabalho”, analisou.

Para Ocampo, qualquer país deveria ter uma “forte política de industrialização com componente tecnológico” e assegurou que a região “fará melhor se realizar uma maior integração entre os países da região.

“É um problema sério porque todos os dias encontramos formas de nos dividir”, afirmou.

Além disso, considerou que “os acordos internacionais com União Europeia e Estados Unidos são positivos hoje em dia e parte das regras do jogo”, mas especificou que o mercado de exportação dos países latino-americanos deveria se desenvolver principalmente na própria região.

Para o ex-diretor, “pensar que a América Latina vai se desenvolver através das matérias-primas é ter uma visão falsa” e acrescentou que o progresso será obtido através das “manufaturas e os serviços com alta tecnologia como em todos os países desenvolvidos”.

“A América Latina não será a exceção, façamos isso sem nos esquecer de nossos recursos naturais”, refletiu Ocampo, que apontou que à região ” foi bem em índices de desenvolvimento humano pelo investimento que fez em despesa social, o elemento mais importante”.

Apesar de não ver nenhum Estado que possa hoje se posicionar como “motor” econômico, apontou que Colômbia, Peru e Chile “foram relativamente bem, algo que tem a ver com o auge de termos de troca” e aos preços dos produtos de mineração terem “melhorado muito”.

E argumentou que a desaceleração econômica que está o Brasil vive se deve a, entre outras coisas, “continuar investindo muito pouco”, atividade que deve ser “a prioridade” do governo, assim como aumentar o investimento em tecnologia para “disputar com as grandes ligas asiáticas”.

Sobre uma possível redução da nota brasileira pelas agências de classificação de risco, Ocampo confessou que dá “pouca atenção” a elas.

“Também baixaram a dos Estados Unidos e da Europa e não vi grandes efeitos, o importante é manter o grau de investimento combinado com uma obsessão pela taxa de câmbio”, considerou, acrescentando que “não pode existir potência tendo uma taxa de câmbio tão pouco competitiva”.

O ex-diretor da Cepal criticou ainda a qualificação entre “bom e mau desempenho econômico que os meios de comunicação fazem” ao separar os governos entre de direita e de esquerda.

“Essa divisão é falsa. Entre os países com uma política econômica muito ortodoxa está o México, que tem um mau desempenho em termos econômicos e é a economia menos dinâmica da América Latina junto com Venezuela e El Salvador”, afirmou.

Do outro lado da moeda, estão países “de esquerda com muito bom desempenho, como Equador e Bolívia, que estão reduzindo a desigualdade aos níveis mais baixos da América Latina”.

“A Bolívia cresce muito bem com uma grande redução da desigualdade e ao mesmo tempo acumula o maior nível de reserva internacional em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), similar ao da China”, continuou.

Segundo ele, a Nicarágua também tem “um bom desempenho enquanto Venezuela tem a fraqueza mais notória” da região seguida da Argentina, embora “com muita diferença”. EFE

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