Ex-embaixador e secretário da ONU chama resposta de Israel de “despropositada” e pede mais equilíbrio brasileiro

  • Por Jovem Pan
  • 25/07/2014 11h10

Ricupero esteve à frente da Embaixada do Brasil na capital dos EUA entre os anos de 1991 a 1993

Jovem Pan Rubens Ricupero no estúdio Jovem Pan

Em meio à tensão diplomática entre Brasil e Israel, país muito criticado internacionalmente pelos bombardeios lançados à região da Faixa de Gaza, as atitudes diplomáticas brasileiras “têm carecido de equilíbrio”, avalia Rubens Ricupero, ex-embaixador, ex-subsecretário geral da ONU, ex-ministro da Fazenda e atual diretor da Faculdade de Economia da Faap.

Ricupero também critica a resposta à convocação do embaixador do Brasil em Israel, que chamou o país sul-americano de “anão diplomático”. “A reação israelense foi despropositada”, diz. “Ela mostra despeito com a atitude brasileira e, em si mesmo, mostra constradição. Se fosse verdade que o Brasil não tem importância, por que agir de forma agressiva, e não ignorar? Mostra que incomodou”, argumenta.

Mesmo discordando da retaliação israelense, o ex-embaixador brasileiro considera a atitude do Itamaraty exagerada. “Retirar um embaixador de um posto é algo extramamente grave”, explica. “No momento em que você tira o embaixador, você fecha o canal de comunicação e diálogo (…). Países geralmente fazem isso para demonstrar um extremo desagrado”.

Valor moral e inteligência diplomática

“(Convocar o embaixador brasileiro em Israel) pode ter um valor moral do ponto de vista dos princípios, porque não há dúvida nenhuma de que a reação israelense tem sido desproporcional”, pensa Ricupero em relação ao conflito no Oriente Médio.

O antigo subsceretário geral da ONU não vê, entretanto, um herói e um vilão no conflito na Faixa de Gaza. “Não é uma situação preto no branco”, mensura Ricupero. “O Hamas não só tem disparado milhares de foguetes, mas eles também fazem isso de áreas civis”, argumenta. “Quando há muitas mortes de crianças e mulheres, para eles (Hamas) há muito valor propagandístico contra Israel”, censura Ricupero.

Sobre a decisão brasileira, Ricupero lembra ainda que outros países que foram contra a política de Israel “não foram tão longe quanto nós, não decidiram romper o contato” e questiona como, a partir de agora, o Brasil pretende ter uma influência futura na disputa milenar.

Pelo agravo “despropositado” de Israel, Ricupero defende uma resposta brasileira, mas com cautela. “O que se deve fazer é dar uma resposta à nota israelense, dizendo que é despropositada, que ela tem um lado inclusive ofensivo com o nosso País. Mas é hora de o Brasil reiterar que vê a situação com equilíbrio”, afirma. “E reiterar que o nosso maior interesse é manter boas relações com os dois lados, inclusive com Israel”, opina Ricupero, lembrando das grandes comunidades tanto judias quanto árabes que convivem pacificamente no Brasil

“Eu acho que o Brasil tem peso, as suas atitudes repercutem, mas que, infelizmente, elas têm carecido de equilíbrio”, considera. “Um papel construtivo exige que você seja aceito dos dois lados de uma maneira equilibrada, harmoniosa”, conclui Rubens Ricupero.

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