Ex-ministro de Costa do Marfim se defende em Tribunal Penal Internacional

  • Por Agencia EFE
  • 27/03/2014 09h43
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Bruxelas, 27 mar (EFE).- O ex-ministro da Costa do Marfim, Charles Blé Goudé, defendeu nesta quinta-feira sua inocência em audiência no Tribunal Penal Internacional (TPI), onde é acusado de crimes contra a humanidade durante a onda de violência no país em 2010 e 2011, e aproveitou para denunciar ter sofrido maus-tratos na prisão.

Na audiência foram confirmados o cargo e a identidade de Blé Goudé, que também foi informado de seus direitos e pôde tomar a palavra, quando aproveitou para se dizer “contente de estar aqui pelo respeito que tenho às vítimas” e afirmou querer “dar a conhecer a verdade”.

O ex-ministro da Juventude no primeiro governo do presidente Laurent Gbagbo defendeu no tribunal internacional, sediado em Haia, a necessidade de um diálogo e uma reconciliação na Costa do Marfim.

“Ao contrário de uma opinião comum, equivocada ou com razão, de que uma viagem ao TPI é uma viagem sem retorno, acredito que um cidadão que é suspeito pode vir aqui, ser objeto de um processo, e se for inocente, retornar. E eu sei que voltarei para casa, eu sei”, reforçou Blé Goudé.

“Não quero ser a vergonha da minha geração, não quero ser a vergonha da minha família e dos meus filhos, vim aqui e me considero em uma missão para a manifestação da verdade”, acrescentou o acusado.

Blé Goudé também denunciou ter sofrido maus-tratos na prisão na Costa do Marfim desde sua detenção até sua transferência para Haia no último dia 22.

“Quando me trouxeram ao TPI muitos choraram, mas na Costa do Marfim vivi um calvário, todos os dias na angústia”, ao afirmar que seus direitos não foram respeitados.

“Em meu país, antes de ser trazido para o TPI, fiquei 14 meses fechado, sem ninguém poder me ver e passei 10 meses nu, não estava bem alimentado”, denunciou Blé Goudé.

O ex-líder dos Jovens Patriotas marfinenses também lamentou a “chantagem político” que ele, sua famílias e seus colaboradores estão sofrendo do atual governo da Costa do Marfim.

“Acho que podemos fazer política com elegância e sabedoria e a prisão não é um instrumento para romper a moral de seus adversários políticos, não se usa a prisão para isso”, assegurou.

Blé Goudé é acusado da co-autoria indireta de quatro crimes contra a humanidade: assassinato, estupro e outras formas de violência sexual, perseguição e outros atos desumanos na Costa do Marfim entre 16 de dezembro de 2010 e 12 de abril de 2011, nos quais morreram cerca de três mil pessoas, segundo números das Nações Unidas.

A crise começou depois do segundo turno das eleições presidenciais, em 28 de novembro de 2010, quando o ex-presidente Gbagbo se negou a admitir a derrota para Alassane Ouattara, apesar da pressão internacional para que deixasse o cargo que assumiu em 2000.

Blé Goudé fugiu do país após a prisão do ex-presidente, em 11 de abril 2011.

Após ser detido em Gana em janeiro de 2013, foi extraditado para a Costa do Marfim, e depois transferido para Haia, onde também está o próprio Gbagbo, acusado de crimes de contra a humanidade como coautor indireto de assassinatos, estupros e lesões.

“A chegada de Blé Goudé é um grande passo para com suas vítimas, que finalmente terão a oportunidade de saber a verdade sobre o papel dele em seu sofrimento”, celebrou Param-Preet Singh, da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch. EFE

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